The one that got away

3.8K 430 64
                                    

Gostar de alguém. Você já pensou o como isso é incrível ? Tipo, olha só, uma dia qualquer aparece uma garota e então você se flagra pensando nela, em como seria beijá-la. Até aí, ok. Todas nós já tivemos nossa parcela de garotas que provocaram essa vontade. Mas de uma hora pra outra você  se vê invadida por sensações estranhas e pensamentos que não te largam. O que ela tem que me deixa tão  nervosa? Por que quero tanto que impressioná-la? E você se revolta quando a vê fazendo tão pouco caso de si própria e quer abrir os olhos dela, quer abraça-la, protegê-la dizer que ela é bonita, engraçada, inteligente, a única que fica bem vestida de amarelo... O que foi? amarelo é uma cor horrível então se vejo alguém que me faça mudar de ideia só posso deduzir que seja mesmo o amor da minha vida. Mas o que quero dizer é que quando se gosta de alguém, mas especificamente de uma garota por que essa estória é sobre isso, você se sente despreparada e perdida, não espera ser atingida em cheio por mais que já tivesse passado por isso outras vezes, fica insegura, as mãos tremem, as borboletas acordaram e resolveram fazer uma festa no seu estômago , a voz falha e os olhos... eles sempre entregam tudo.”

Kara Danvers P.O.V:

Meu novo passatempo favorito era olhar as fotos de Lena. Eu estava entretida nisso com um dos cotovelos apoiados no balcão e focalizando seu sorriso aumentado na tela do celular quando Ruby se aproximou de mim. A garotinha de oito anos, filha de Sam, estava fazendo as palavras cruzadas do jornal que um dos clientes havia deixado para trás no dia anterior.

- Um sinônimo para “Apaixonado" com nove letras. – Ela me cutucou com a ponta de caneta chamando a minha atenção.

- KARA DANVERS! -Sam gritou dos fundos da loja.

- NÃO SEJA BURRA, KARA DANVERS TEM ONZE LETRAS! – Retorqui no mesmo tom - Encantado.

- Ah! – Os olhos da garota brilharam em agradecimento enquanto escrevia a palavra nos quadradinhos.

Era um sábado incomum pela falta de movimento no Starbucks. Estava vazio. A chuva havia espantado todo mundo e eu me perguntava se Lena realmente apareceria como tinha me dito. Esperava que sim. Mesmo com todo o caos que aquela pequena tempestade havia causado na cidade, mesmo com todos os bueiros entupidos transbordando, mesmo com tantos carros ilhados, eu esperava desesperadamente que sim, que ela viesse. A vontade de sentir a sua presença e seus olhos em mim era incontrolável. Mas a medida que as horas avançavam e a chuva caía sem trégua cada vez mais forte eu ficava certa que não, não ela não viria e isso me desanimava. Me conformaria com uma mensagem dela ou... será que deveria chamá-la ? Olhei pela trigésima segunda vez nossa conversa, havia sido eu quem mandará boa noite por último. Bem, a regra era que agora fosse a vez dela, certo? Mas também havia sido Lena quem me constará de início então talvez estivesse esperando alguma atitude minha... Oh Deus, por que pequenas coisas me atordoam tanto? Gostar de mulher era definitivamente meu paraíso e inferno. Gostar de Lena fazia minha cabeça explodir mas até isso era bom.

- Lena me mandou mensagem ontem... – Falei de maneira descontraída para Nia sem levantar os olhos do celular  como quem não dava muita importância e tentando não deixar transparecer nenhuma reação.

- Me conte tudo! – A mais nova das funcionárias que estava ajudando Ruby nas palavras cruzadas se voltou num pulinho para o estoque. - SAM, ESCUTA SÓ ESSA, A KARA DISSE QUE A LENA MANDOU MENSAGEM E DEU MUITO MOLE PRA ELA ONTEM. – Era assim mesmo, eu dizia uma coisa e elas aumentam e transformavam em outra.

- E O QUE MAIS? ROLOU SEXTING? TROCARAM NUDES? VOCÊ ME DEVE ESSA, DANVERS!

- O que é sexting ? O que é nudes? – Ruby perguntou com toda a sua inocência e Nia cobriu as orelhas da menina com as mãos.

- Algo que você não precisa saber, Ruby. NÃO ACONTECEU NADA DISSO! – Repliquei já arrependida de ter trazido o tópico meu-rolo-que-não-chega-a-ser-rolo-com-Lena-Luthor a tona.

- NÃO ME DIGA QUE NÃO CHAMOU ELA PARA SAIR ? DANVERS VOCÊ É UMA NEGAÇÃO COMO LÉSBICA, O QUE DEVEMOS FAZER COM VOCÊ?
Antes que eu gritasse uma resposta,  Sam reapareceu se juntando a Nia com um violão tão desbotado que era impossível distinguir sua cor original e entregou a Ruby.

- Não sabia que sua filha tinha interesses musicais...

- Eu chamaria de interesses passageiros, ela tem disso. Fica obcecada por alguma coisa temporariamente até descobrir algo novo. - A garotinha deixou o jornal de lado e abraçou o velho violão. - A moradora do 24-A estava de mudança e deixou para trás ontem. Ruby ficou animadíssima e agora quer ser cantora. – Ruby, como todas as crianças, já quis ser muitas coisas e Sam como a boa mãe que era acompanhava ela em tudo. - Então teve a ideia de fazer um vídeo de si mesma e mandar para o X Factor, disse que o melhor lugar é aqui... Acho que você pode começar seu show enquanto não chega ninguém minha pequena Joan Jett. – Sam sentou na banqueta alta  de frente para o balcão e apontou seu celular na direção da filha.

- Eu vou ser uma rockstar sim, já tenho tudo na minha cabeça. – Ruby, com a ajuda de Nia, subiu em cima de uma das mesas e ajeitou a alça no ombro balançando o violão pra lá e pra cá enquanto eu me sentava ao lado de Sam. - Boa noite National City! Vocês querem rock n roll?

- SIM!!!

- Essa é especial para todos os fãs de Coldplay, a maior e melhor banda de todos os tempos!

Eu discordava sobre isso mas não quis falar nada. Ruby dedilhou as cordas delicadamente de olhos fechados. Esperei algo emocionante mas o que se seguiu após isso foi só barulho alucinado e a sua voz que arruinou  "The Scientist"  pra sempre. Ela definitivamente era um desafio até para os tímpanos mais resistentes.

- Meu Deus, Sam ela é péssima – Disse com um sorriso fixo no rosto me concentrando para não levar as mãos até as orelhas e não ouvir aquele desastre sonoro.

- Eu vou ter que sumir com esse violão o mais rápido possível. – Sam devolveu com o mesmo sorriso pregado enquanto gravava a filha.
Ruby além de não ter talento para manusear o instrumento também era desafinada, o que tornava aquela pequena apresentação terrível mas era só uma criança se divertindo então me sentia na obrigação de fingir que estava adorando. A garotinha misturou a letra de outras duas músicas enquanto batia os dedos sem tirar nota alguma do violão rodando pela mesinha circular cantando frases desconexas. Fechava e abria os olhos e era certo que a sua imaginação infantil corria livre e a levava pra longe dali. A sessão tortura não durou muito. Assim como começou repentinamente, parou.

- Obrigada, National City! – Ela agradeceu a plateia invisível sem folego enquanto Sam e eu aplaudimos aliviadas.

- Mais um, mais um, mais um.-  O nosso olhar desesperado e reprobatório deve ter cruzado a alma de Nia que instantaneamente mudou de ideia. - Quer dizer... Hey Ruby, sabe o que um rockstar também faz? Tira selfie com seus fãs...

- Nia é realmente boa com crianças... – Sam sorria diante a interação de sua filha com a mais nova das funcionárias do Starbucks.  - Então Danvers, comece a falar...

- Falar? Falar sobre o quê? – A morena rolou os olhos e então eu soube do que se tratava. – Ah! ... Humm... –Ajeitei meus óculos tentando ganhar tempo, não queria resumir a minha troca de mensagens com Lena ao que realmente foi: Eu falando obsessivamente de Taylor Swift e Alex. Vergonhoso e certo , não queria admitir que era péssima em conversações ainda mais com uma mulher que estava afim, muito afim, afim pra caramba, mas acho que isto já era bem óbvio principalmente para Sam. – Bem, só trocamos algumas mensagens superficiais. Para um primeiro contato acho que foi ok. Eu não podia convidá-la pra sair assim,  não sei muito mais sobre ela do que está por aí, nas redes sociais e em revistas científicas e...  descobrir que ela é uma CEO multimilionária foi um tanto chocante.

Sam franziu o cenho inicialmente mas como se uma lâmpada tivesse se ascendido sob a sua cabeça e lhe revelado algo óbvio  logo bateu com a palma na mão na própria testa.

- Claro! Luthor! Lena Luthor da L- Corp! Como não percebi antes?

Assenti.

- Por que ela tem que ser tão rica? – Resmunguei baixinho.

- Hey, qual é o problema? – Sam deixou o celular de lado e esfregou as mãos uma na outra e eu sabia que planos diabólicos estavam rondando aquela cabecinha maquiavélica. – Olha, não me importo em ter uma amiga que esteja saindo com alguém que tem dinheiro pra comprar a Disneylândia. Realmente não me importo. Só espero que quando você estiver casada com a CEO lembre-se de ser grata a mim e expressar essa gratidão não só com palavras... Eu vou fazer uma lista de algumas coisinhas que vocês podem me dar como forma agradecimento pelo pequeno empurrãozinho que dei. Nada demais, será como esmola pra ela.

- Você é tão interesseira! – A empurrei de leve rindo e sem dar corda para aquelas suposições sobre meu futuro com Lena. Eu e uma Luthor casadas? Rá! Era surreal  não é? mas eu ainda podia montar nossa família no The Sims. – Ela disse que viria hoje, mas... – Olhei para além da porta de vidro do Starbucks. Aquela tempestade parecia que tinha estacionado sobre National City e a chuva não dava sinais de cessar tão cedo. – Acho que não enfrentaria um dilúvio por um frappuccino.

- Por um frappuccino não, mas para te ver quem sabe...

- Ela não vêm.

- Pois eu aposto que sim, que ela vem!

- Eu aposto que não!

Minhas discordâncias com Sam só eram mediadas dessa forma, apostar. E foi isso que fizemos.

- Daqui alguns dias, será o 4 de julho. – Ela começou -  Lembro de você ter mencionado que sua família se reúne no rancho do seu primo Clark para assistirem a queima de fogos em Smallville...

– Sim, o Rancho dos Kent fica em um ponto alto entre Metropolis e Gotham, é incrível, de lá se pode ver as duas cidades e a noite fica ainda melhor.– E ficava mesmo. As luzes artificiais da cidade pareciam competir com as estrelas e era um espetáculo de encher os olhos. Era só um pedacinho escondido nos limites entre Gotham e Metropolis mas que guardava algumas memórias dos meus melhores dias em Smallville.

- Se eu estiver certa como sei que estou e se ela vier hoje... – Sam estalou a língua e seus olhos brilharam sinistramente, eu ainda tentava acompanhar seu raciocínio. - Você irá convidar Lena para ir com você.

- O quê? Você está brincando não é? – Ri estarrecida por que sabia que ela não estava.

Sam balançou a cabeça demonstrando seriedade. Mas convidar não queria dizer nada. Lena poderia negar, ela negaria com certeza. Era só mais uma vergonha que Sam queria me ver passando. Suspirei tentando realinhar meus pensamentos para não cair em desespero.

-Isso é ridículo, mas como sei que ela não virá mesmo... – Tirei o óculos e limpei as lentes com meu avental antes de colocá-los de volta. - Se eu ganhar você... Você... você... Espera preciso de um tempo para pensar... – Não existia nada que abalasse Sam e eu estava perdida por que não importava o que propusesse nunca seria pior do que, em um cenário hipotético, ter que apresentar Lena aos meus familiares e consequentemente a toda Smallville.  Tragédia a vista. – Já sei. Se eu ganhar você vai se fantasiar de Supergirl e sair pelas ruas de National City dando conselhos motivacionais para todo mundo. - Não era exatamente a ideia mais genial que tive mas não encontrei outra melhor.

- Supergirl? É um preço alto a se pagar mas estou segura de mim. Aceito.

Selamos a nossa aposta com um breve aperto de mão. Eu estava confiante, sim, Lena não apareceria então iria ver Sam fantasiada de garota de aço e seria impagável.

O barulho do sininho sobre a porta soou como um aviso da entrada de um cliente.

Droga. Droga. Droga.

Lena Luthor havia acabado de chegar.

************************

Sam só deu um tapinha consolador nas minhas costas antes de voltar ao seu posto atrás da caixa registradora. Eu não tive tempo o bastante para assimilar que havia perdido uma aposta meio segundo depois de tê-la feito, o que me colocava como a pessoa a pessoa mais azarada do mundo mas... vendo Lena ali (Ela tinha vindo, mesmo contra todas as forças da natureza, ela veio!) quem era mesmo a azarada? Ela agitava um guarda-chuva antes de colocá-lo na cestinha próximo a porta. Eu respirei fundo quando percebi que ela estava molhada. Os cabelos estavam úmidos e a camiseta branca pingava. Merda! Ela só poderia fazer isso de propósito! Não queria olhar demais por que corria o risco de entrar em combustão espontânea. Eu não funcionava assim normalmente mas havia algo nela que me fazia pensar coisas inadequadas em momento ainda mais inadequados. Talvez por que ela fosse Lena Luthor e nenhuma criatura conseguia ficar impassível diante dela. Dei as costas pra ela por um momento ao deixar as banquetas altas dos clientes e rodear o balcão voltando a minha ocupação de atendente. Nia e Ruby continuavam sentadas em uma das mesas mais interessadas em alguma coisa no celular. Sam fingia estar muito ocupada arrumando os copos do Starbucks próximo ao caixa em um ponto estratégico onde, eu sabia, não desviaria a atenção de mim e de Lena.

Lena olhou em minha direção e quando nossos olhos se encontraram ela sorriu e manteve o sorriso enquanto caminhava até o balcão. Alisei meu avental verde em um desses movimentos involuntários que você acha que poderá  impressionar alguém pelo que está vestindo... bem, ela disse que eu ficava adorável assim não é? Então minha aparência em uniformes não era tão ruim.

-Oiii! – Ela disse animada enquanto se sentava na minha frente. – Quase não deu pra chegar até aqui. Há um congestionamento enorme na avenida principal então tive que fazer alguns desvios mas sempre acabava caindo em outro. Então resolvi deixar meu carro próximo a CatCo e andei quatro quadras até chegar aqui. Estou molhada por inteiro por que não me entendi muito bem com meu guarda chuva...

Eu juro que tinha um pingo de chuva sacana que deslizou sobre o pescoço dela e  percorreu um caminho invejável  até se perder na curva dos seus seios e que eu estava focada nele e somente nele quando ela pigarreou. Deve ter suposto que estava olhando descaradamente seus peitos.

- Eu não estava olhando... sabe... quer dizer... você está... tinha um pingo de chuva que...

--Eu percebi, você se distraí fácil. Mas os meus olhos são aqui em cima. – Ela riu apontando para os próprios olhos.

- Não sei como consigo deixar tantas más impressões em tão pouco tempo. – Espalmei a testa em um gesto irrefletido. - Sou um completo desastre.  Sempre rola deal breaker na maioria dos meus encontros, sabe aquela coisa que eu falo ou faço  que arruína completamente a possibilidade de outros encontros? Eu não sou muito boa nisso, entro em pânico toda as vezes que alguém me chama para sair.

-  Acho que não deveria falar isso justamente para pessoa que estava pensando em te convidar para um encontro. -Lena arqueou uma sobrancelha e então percebi que eu estava estragando tudo. – Você falando  isso é como um deal breaker antecipado ou...  Talvez você tenha se arrependido de me dar seu número...

- Não! Digo sim! Quer dizer... - Comecei a rir de nervoso sem saber o que falar. - Bem, eu quero sair com você, realmente quero, muito, quer dizer, você tem razão, eu estou sendo contraditória, sabe com o número de telefone. Certo, eu meio que fui impulsiva quando anotei meu número no seu copo, quer dizer, foi algo que me deixou chocada meio segundo depois que percebi o que havia feito também... - Como as sobrancelhas de Lena se mantinham arqueadas acabei desistindo de uma explicação. - Bem, talvez eu deva não falar nunca mais. – Respirei fundo tentando alinhar meus pensamentos, eu só queria articular uma frase que que fizesse sentido. Era um momento muito oportuno  para o aparecimento repentino de um portal tridimensional. Eu pularia nele sem pensar duas vezes. – É isso que acontece quando converso com uma mulher bonita, palavras atropeladas e mil razões para me acharem uma completa pateta. Se você quiser...

- Eu quero!

- Ah, que bom! Com leite desnatado ou integral?

- O quê?

- O seu cappuccino. Era o que eu estava sugerindo.

- Kara... – Lena sorriu e pela primeira vez eu senti o seu toque sem reservas. A sua mão pousou delicadamente sobre a minha em cima do balcão. Foi eletrizante. Era como se meus divertidamente estivessem incendiando o painel de controle das minhas emoções. Eu não queria ser tão suscetível a ela mas eu era e que droga, tudo nela me deixava derretida.

Quando a mulher que você tem uma quedinha desliza a palma da mão sobre a sua, tudo o que você consegue ouvir é Taylor Swift cantando Enchanted.  Pelo menos foi o que aconteceu comigo. – Eu quero sair com você.

- SIM! MEU DEUS, SIM! – Samantha estourou como uma líder de torcida após o time fazer um touchdown. – Me desculpem, eu acabei de receber uma notícia que me deixou realmente empolgada. – Sam era péssima e ela nem ao menos se enrubescia com isso.

Lena deixou uma gargalhada escapar e recolheu sua mão o que quase me fez choramingar.

- Eu acho que gosto das suas amigas. Elas são espontâneas.

- Espontâneas até demais... – Disse envergonhada pelo pequeno show revelador de Sam e que só piorou meu tique de mexer nas laterais dos óculos.

- Talvez pudéssemos fazer algo amanhã... Ou algum dia desses...

Considerando que “um dia desses” era vago demais e que bem, eu tinha perdido uma aposta e poderia usar disso pra devolver o convite já que Lena havia me convidado confusamente primeiro por que pensou que a princípio eu a estivesse convidando para sair... Enfim estávamos  progredindo e eu  vibrava interiormente com isso. Tínhamos um encontro prestes a ser oficializado, era isso mesmo?

- Amanhã... amanhã está bom para mim.

Lena sorriu e eu só queria beijar aquelas covinhas que se contraiam adoravelmente no seu rosto.

- Ótimo, então pode me passar seu endereço por mensagem? Antes do meio-dia eu te busco.

- Você pode me dizer aonde pretende me levar?

- Isso você só irá descobrir amanhã... –  Ela respondeu erguendo uma das sobrancelhas, já tinha percebido que era sua marca. E eu decidi que gostava daquela Lena misteriosa também. Ok, todas as versões dela faziam minhas pernas amolecerem e mesmo que isso fosse preocupante eu estava gostando de ter todas aquelas sensações me sacudindo novamente depois de anos.

- Oh, só espero que você não seja uma serial killer.  Tenho testemunhas, minha irmã é um detetive muito boa e minha cunhada policial e das melhores então você nunca se safaria dessa.

Lena pareceu se divertir com aquele meu comentário mas antes de replicar começou a espirrar. Droga, ela podia estar molhada de um jeito sexy mas também poderia pegar uma pneumonia e aquela nova informação me fez agir rápido.

- Só um momento, já volto.

Chegando no meu armário nos fundos da loja peguei meu cardigan que havia tirado para deixar o avental do Starbucks visível e voltei para o balcão.

- Srta... É... Srta. Luthor? –  Chamei baixinho com a esperança de não ser ouvida de imediato por que queria admirá-la em silêncio por mais um segundo. Ela estava analisando o cardápio distraída, o cenho franzido, os olhos apertados como se não distinguisse muito bem as letras no menu. Suas grandes orbes esverdeadas se levantaram assim que chamei pela segunda vez e sua expressão se suavizou. Deus, ela era linda. -  Acho... que faz frio demais pra senhorita estar só com está camiseta social. – Eu apertava o cardigan entre minhas mãos. É curioso como algumas pessoas não precisam fazer muito para nos tirar de área e nos deixar embasbacadas. Lena Luthor, eu já sabia, era o meu ponto fraco. – Sabe, não seria nada legal se pegasse um resfriado então peço que vista isto... – Mas seria muito legal se me pegasse. Fui assaltada por esse pensamento repentino e cenas fantasiosas e pervertidas começaram a correr na minha imaginação, eu precisei freá-las não ficar com tesão no trabalho era a nossa regra número 7, e definitivamente não era hora para isso.

- Tudo bem, mas só se você parar de me chamar de Srta. Luthor. – Ela mordeu o lábio inferior e estava realmente difícil me manter seguindo tal regra e também a número 3 que era de não beijar clientes, pelo menos não dentro do estabelecimento
- É que... -Respirei fundo desviando o olhar da sua boca. -  Acho que devo tratar com formalismo uma pessoa tão importante. Sabe, segundo a   Biochemistry & Biotechnology Magazine você é “Uma jovem genial que está revolucionando a ciência e a tecnologia e isto é só o começo para Lena Luthor. O que mais ela pode fazer?”— Citei o trecho de um artigo que tinha lida no dia anterior sobre ela.

-Ah, alguém andou fazendo a lição de casa. – Lena olhou curiosa pra mim antes de pegar o cardigan das minhas mãos e vestir.

Ela ficou incrivelmente fofa de rosinha e eu não sabia como havia conseguido passar da excitação para vontade de apertar suas bochechas A CEO me causava os mais diversos sentimentos em intervalos curtos, foi algo que também comecei a constatar naquele dia.

- Eu posso ter toda uma reputação entre acadêmicos e empresários, uma que gosto de manter afinal não foi nada fácil conquistar meu espaço apesar de ser uma Luthor. Dobrar velhos milionários sexistas e conservadores todos os dias é cansativo mas eles me respeitam e alguns até parecem me admirar genuinamente. Para esses eu sou Srta. Luthor mas pra você é Lena sem o senhorita, só Lena.

- É, tudo bem, Lena-sem-o-senhorita.– Ela sorriu e antes que eu seguisse com alguma piadinha sem graça, Ruby voltou a bater os dedos nas cordas do violão e mesmo que Sam fizesse sinais para que ela parasse a garotinha parecia irresoluta.

- Ela sabe o que está fazendo? – Lena sussurrou pra mim.

- Não sei mas tenho certeza que na cabeça dela está arrasando.

Então a CEO fez algo surpreendente. Ela se levantou e foi em direção a mesa que servia de palco para pequena barulhenta. Ver o contraste entre suas roupas chiquérrimas e meu cardigan da sessão promocional no seu corpo era quase cômico.

- Oi... – Ela se sentou na borda da mesa junto com a menina e imediatamente Ruby parou com a boca entreaberta fitando Lena como se estivesse diante de um ser celestial. Talvez eu fizesse essa mesma expressão diante dela mas isso não vem ao caso.

Nia que estava a três passos  de distância com a câmera fixa na garota gravando olhou perplexa pra mim e para Sam, só agora havia se atentado que Lena estava ali.

- Você é a mulher mais bonita do universo! – A sinceridade infantil  de Ruby fez as bochechas de Lena corarem e Sam cruzar os braços e soltar um “O quê?” por ter perdido seu primeiro lugar no pódio de mulher mais linda da filha.

- Obrigada! Você também é linda! – A garotinha sorriu agradecida, parecia hipnotizada por Lena e eu não posso julgava por que também estava.

- Eu me chamo Ruby!

- Olá Ruby! Eu sou Lena. – Ela apertou a mão que a garota havia estendido. – Então, Ruby, você gosta de tocar violão?

-  Na verdade gosto de muitas coisas mas minha paixão pela música é o que tem de mais interessante sobre mim. – Dá pra acreditar? Essa pirralha já estava falando como uma profissional isso por que só tinha pegado em um violão minutos antes. – Há um longo caminho pela frente sei que não será nada fácil ser a maior rockstar de todos os tempos mas algo dentro de mim me motiva a seguir meu sonho e eu simplesmente não consigo parar.

- Ah, claro. Não tenho nenhuma dúvida que conseguirá o que quer. Com tão pouco idade já me parece bastante determinada... – Ruby balançou a cabeça como se estivesse tendo a conversa mas importante da sua vida – Eu não pretendia ser uma rockstar mas fiz algumas aulas de violão durante a minha adolescência, talvez possa te dar algumas dicas...
E sem dar uma palavra Ruby passou o violão para a CEO. Lena não notou os olhares em expectativa na sua direção. Nia, não sei por que diabos, continua gravando. Sam não parecia muita vontade sabendo que sua filha tem uma nova heroína e eu... bem, ver Lena dedilhando despretensiosamente o violão me fez suspirar várias vezes.

- Você conhece as notas musicais não é? – Ruby se apressou em negar. – Certo, eu deveria ter desconfiado então o seu ponto de partida é esse... o começo. Vamos lá... – Lena tentou não rir após constatar que a garota era completamente leiga no que estava fazendo e ainda insistia em ser uma grande cantora. – Dó... ré... mi... fá... só... lá... si... – Ela falava pausadamente percorrendo os dedos pelo violão. Repetiu os mesmos movimentos três vezes até estar certa que a garota havia memorizado. – Agora é com você...

- Acho... Acho que irei aprender melhor se você tocasse uma música, sabe. Se ainda  conseguir fazer isso... – Eu conhecia aquele brilho desafiador no olhar de Ruby, era o mesmo de Sam. A pirralha sabia que podia arrancar o quisesse com esse joguinho, era o como sua mãe fazia comigo e com Nia.

- Ah, já faz tanto tempo e eu não era das melhores mas... tem uma música que eu sempre tocava por que é a minha preferida. – A CEO ajeitou melhor o instrumento no joelho e olhou para mim. Parecia tímida.

- Uau, é com certeza uma novidade. Eu nunca esperaria um show intimista da CEO da L- Corp em um sábado a tarde, no meio da Starbucks. – Disse levando ambos os cotovelos sobre o balcão e apoiando meu rosto nas mãos. Eu estava completamente absorvida com o que se desenrolava a minha frente. Lena sentada em uma das mesas correndo os dedos pelas cordas do violão, os cabelos úmidos, vestindo um cardigan rosa que destoava totalmente seu vestuário. Será que existia cena mais adorável? - Não receberá nenhum cachê por isso Srta. Luthor.

- Já disse para não me chamar de senhorita. – Lena rolou as orbitas tentando conter um sorriso. Ela respirou fundo e fechou os olhos como se quisesse se transportar para um lugar só seu e aos poucos a sua voz melódica foi preenchendo o ambiente.

In anothe life, I would be your girl
(Em outra vida, eu seria sua garota)
We'd keep all our promise, be us against the world
(Nós manteríamos todas as nossas promesas, seríamos nós contra o mundo)
In another life, I would make you stay
(Em outra vida, eu faria você ficar)
So I dont have to say you were the one that got away
(Então eu não teria que dizer que você foi aquele que foi embora)
The one that got away
(Aquele que foi embora)

Certo, eu definitivamente gostava de Lena Luthor e... que droga, estava começando a gostar de Katy Perry também.

Starbucks (Supercorp)Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon