Mundo dos sonhos

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VINTE E SETE DE FEVEREIRO (Província de Parma)

- Snow White.

Fogo. Gritos de desespero de alguém, abafados pelo crepitar das chamas.

Olhei em direção aos gritos e um suspiro fraco saiu de mim. O sofrimento era interno, todos estavam bem do lado de fora da casa.

Voltei meu olhar mais para a direta. Olhares maliciosos e convencidos me encaravam. Ignorei-os. Tudo parecia abafado, sufocando minha respiração. Dei alguns passos, praticamente arrastando meu corpo na tentativa de sair daquele cômodo repleto do vermelho e laranja flamejante do fogo. Mas algo, como um corpo, captou meu olhar. Eu me abaixei e engatinhei, tentado ir até o local sem ser atingida pelos destroços e figas de madeira que caiam do teto.

No fundo eu já sabia o que era aquilo esparramado no chão. Já sentia o ar me faltar e o medo me dominar. Aquilo era o motivo dos gritos de todos lá fora.

Me encolhi e soltei um grunhido quando algo tórrido atingiu minha panturrilha e pareceu transmitir uma espécie de dor dilacerante por toda a minha perna, porém continuei a me arrastar sem olhar o que era ou a situação do machucado.

Eu podia ver o resto do seu corpo se estendendo, já sem a cabeça, e tateei o caminho a procura da sua mão, segurando a mesma enquanto sentia tudo em mim desmoronar. Me debrucei sobre o peito de Carlisle, não sentindo mais a dor lancinante na perna, ou o calor insuportável, ou o medo, ou qualquer outra coisa.

O som do fogo estalando na madeira, da escada caindo, de passos se aproximando...Mas nada disso parecia importar... pois ele estava morto.

Fechei minhas mãos em punhos, apertando a camisa dele em meio aos meus dedos, sentido as lágrimas escorregam pelo meu rosto e minha garganta se fechando.

Senti mãos absurdamente geladas se fecharam em meus braços. Eles haviam chegado, tinham conseguido o que tanto queriam.

As mãos me puxaram, tentado me separar do corpo. Me debati, mas, quem quer que fosse, era mais forte que eu e logo conseguiu me levantar. Uma das mãos se fechou no meu rosto, me obrigando a virá-lo em sua direção. O fogo refletia nos olhos de Felix fixos nos meus, lhe deixando ainda mais assustador e o fazendo parecer o que sempre o imaginei: um demônio. Ele era muito alto e quando me puxou, me deixando cara a cara com ele, não me esforcei para me colocar na ponta dos pés para não ser enforcada.

- Estávamos com saudade. Principalmente seu pai. Snow White.

• Sonho off •

Abro os olhos, inspirando profundamente.

- Caramba, Snow! Pensei que você estivesse tendo uma convulsão ou algo do tipo. - Olho em direção ao Could, ainda sem saber muito bem onde estava. - Tudo bem?

Olho em volta e me dou conta de que estava na sala. Raios fracos de luz entravam pela janela e tudo estava absolutamente calmo. Não tinha fogo.

Solto um suspiro e sinto minhas mãos relaxarem no sofá, cansadas. Olho em direção de cada uma e, no lugar onde eu as apertara, haviam rasgos em formas de meia lua. Afasto elas, mordendo o lábio e me sentando direito no sofá, sentindo uma pequena tontura ao fazer. Could, que estava agachado à minha frente, se levantou e se sentou ao meu lado, ainda com o olhar pregado em mim.

- Eu estou bem... - Murmuro, tentando me lembrar de como eu acabei dormindo. Me lembrava de todos termos ficado conversando ali mesmo, mas não de quando ou como eu dormi. - Por quanto tempo eu dormi? - Pergunto, esfregando a testa e sentindo minha pele mais fria que o normal.

- Umas 6 ou 7 horas. - Reponde e eu não consigo evitar uma careta.

- Caramba. - Reviro meus pensamentos, procurando por alguma pista. Mas a última coisa que eu me lembrava era de uma conversa monótona. Porém, eu não lembrava sobre o que era. Me lembrava de, novamente, ficar perdida nos meus próprios pensamentos, preocupações, suposições. Mas não lembrava de sentir sono ou cansaço.

Querido Carlisle...Existem segundas chances?حيث تعيش القصص. اكتشف الآن