Um passo para frente e dois para trás.

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QUINZE DE FEVEREIRO(ainda na floresta).

- Snow White.

No mesmo momento em que o sangue tocou minha garganta, tive que me afastar para vomitar. O gosto era horrível comparado ao humano. Era mais grosso e também tinha pêlos misturados... Só de pensar vomitei mais.

Depois de alguns minutos, me levantei, limpando a boca, e me deparei com aquele sorriso abusado de novo no rosto de Carlisle.

- Isso é humilhante. - murmurei.

- É normal na primeira vez. - começou, tranquilizando, para logo completar - Mas... sim, é humilhante mesmo.

Me preparei para responder, mas antes que eu tivesse a chance, senti um cheiro muito desagradável, lembrava cachorro molhado... Carlisle rapidamente se virou também na direção do cheiro, e logo duas figuras surgiram no nosso campo de visão.

- Paul, Seth. - Cumprimentou Carlisle, tentado parecer amigável.

- Carlisle - Comprimentou o cara maior, sem muita cordialidade, passando o olhar no cervo e depois em mim. Ele não parecia nada satisfeito. - Desculpa interromper.

- Posso te ajudar? - Tornou Carlisle.

- Não, só estávamos de passagem. - Ele fez uma pausa e seu olhar recaiu em mim novamente. - Quem...?

Antes que Carlisle respondesse por mim, estendi o braço na direção do homem e me apresentei.
- Sou a Snow, é um prazer! - Esperei um aperto de mão, mas ele não veio.

O homem encarou minha mão com uma espécie de...nojo?! Abaixei a mão e me recompus, tentando parecer inabalável.

- Não precisa se preocupar. - Garantiu Carlisle. O homem apenas assentiu em desagrado e passou por nós indo em bora.

- Foi um prazer. - Sussurrou o outro, até então calado, passando por nós em seguida.

Mordi o lábio inferior. O que eu havia feito de errado?

- São lobos. - Disse Carlisle, como se lesse minha mente. - Naturalmente eles não nos suportam, e é recíproco, mas tentamos manter a paz. - Apenas assenti. Deixei meu olhar cair sobre o animal e senti outra onda de enjoou.

- Preciso das batatas fritas da Bella. - Digo, desviando o olhar quando outra ânsia me atingiu.

- Carlisle.

A caçada não tinha sido tão horrível, afinal, confesso que foi até engraçado.

Voltamos caminhando novamente, na floresta já bem escura. Uma ou duas vezes Snow tropeçava, eu torcia para ela soltar um palavrão, mas ela apenas balançava a cabeça e continuava. Quando chegamos em casa novamente, já eram nove horas da noite. Eu já ia seguindo para o meu quarto quando uma voz me chamou.

- Carlisle? - Apenas parei, e olhei por cima do ombro, em sinal de que estava ouvindo. - Obrigada. - Ela soou tão sincera que, por um momento, cogitei sorrir.

- Não precisa agradecer. Era só minha obrigação, minha tarefa. Não significa que eu me importe. - De onde estava pude sentir sua decepção com o comentário. Ela simplesmente assentiu e seguiu para o próprio quarto. Mas antes de chegar ao topo da escada, ela parou e se virou para mim.

- Você podia, no mínimo,tentar ser agradável. - Soltou, ainda com um tom controlado.

- Por quê eu faria isso, exatamente?

- Para tornar a convivência com você menos insuportável! - Dessa vez ela não falou, ela gritou. Ambos ficamos surpresos com a reação, mas ela aproveitou a oportunidade para dizer tudo de uma vez. - Caramba, um mínimo de sensibilidade cairia bem. Mas não, você se acha melhor que os outros com toda essa arrogância e... - Ela fez uma pausa, considerando se deveria continuar - E presunção.

- Já terminou?

- Na verdade ,não. Estou quase lá. - Ela estava sendo sarcástica? - Eu sei que não me suporta, e devo admitir que também não almejo nem um pouco ser sua amiga, então sinta-se a vontade para me ignorar. Não se preocupe em cumprir sua "tarefa", você não tem obrigações comigo.

- Eu sei que não tenho, e isso não é por você, acredite: eu não ligo para você. - Por quê eu havia dito aquilo mesmo?
"Porque era verdade!", pensei, já bastante irritado.

Ela abriu a boca, mas fechou novamente, com os olhos marejados.

- Tenha uma boa noite. - E, dizendo isso, ela seguiu para o quarto, me deixando ali com os punhos cerrados.

- Snow White.

Sim, eu explodi. Mas como ele podia ser tão frio? Mesmo eu tentado, ele continuava me tratando com toda aquela arrogância e desdém. Não sei quem era mais idiota: Ele por ser tão odiavel, ou eu por ser tão burra ao ponto de achar que poderíamos nos enteder.

Me joguei na cama e afundei a cabeça no travesseiro.

DEZESSEIS DE FEVEREIRO(Casa dos Cullen).

- Snow White.

Eu estava decidida a não sair do quarto. Mesmo depois de dormir um pouco, eu ainda era capaz de gritar com ele novamente se o visse.

Caminhei até a janela e me debrucei sobre ela. A vista dava para a floresta, é claro, e isso ajudou a me acalmar.

Fechei os olhos e respirei fundo aquele ar. Era tão bom fazer isso, eu podia sentir tantos cheiros diferentes...

Meu momento de paz foi interrompido por um batida na porta. Caminhei a passos firmes até ela e a abri. Carlisle me estendeu um telefone, ainda sem me encarar.

- Alice. - Só a menção desse nome me fez pegar o celular na hora. Mas, antes de atender, fechei a porta na cara dele.

- Alice? - Digo, ainda meio receosa.

- Sim, Snowzinha, sou eu. - Ao ouvir a voz dela animada, tudo pareceu melhorar um pouco. Caminhei até a janela novamente enquanto ela falava. - Como está tudo aí?

- Bem. - Não hesitei em responder. A última coisa que eles precisavam era de mais problemas meus. - Alguma novidade?

- Não sei se são "novidades", mas todas as pessoas com quem conversamos afirmaram que receberam o convite e que comparecerão. Mas...

- Mas...?

- É que todas pareciam um tanto calmas de mais... Não sei explicar, é que elas simplesmente não pareciam sentir nem um pouco de receio, o que é estranho.

- Você acha que ele prometeu algo a elas?

- Não sei. Mas acho melhor nos previnirmos mais. Por isso pensei...

- Pensou...? - Insisti outra vez quando ele hesitou.

- Bom, que você poderia praticar um pouco mais suas habilidades com Carlisle. Foi ele quem ajudou Edward a desenvolver o seu dom, e também nos ensinou a lutar, e isso nos proporcionaria um pouco mais de chance caso as coisas fugissem do controle.

Engoli em seco. Eu não podia negar isso a ela, era a minha obrigação, era o mínimo.

- Claro.

- Ótimo! Já falei com ele, quanto mais rápido começarem, melhor.

- Com certeza. - Tentei soar confiante, e nunca precisei fazer tanto esforço.

- Tenho que desligar. Já estou morrendo de saudades de você, e Jasper também. Se cuida, ok?!

- Também estou com saudades, tomem cuidado e liguem quando puderem.

Desliguei o celular e soltei a respiração que eu nem sabia que havia prendido. Passei a mão pelo meu cabelo, tentado controlar minha frustração.

Eu teria que engolir meu orgulho já tão cedo...

Querido Carlisle...Existem segundas chances?Where stories live. Discover now