Epílogo

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Carlisle inspirou fundo a amálgama de perfumes da radiante quadrilha que se estendia noite adentro. Na entrada da praça, ele observou o agora familiar ambiente decorado nas cores verde, branco e vermelho; observou as pessoas agora tão conhecidas quanto se podia ser numa cidadezinha pequena como Parma, onde ele estava há três anos. Cumprimentado com acenos as pessoas por quem passava, ele caminhou até uma garotinha distribuindo as familiares coroas de Amarílis que ele mesmo ajudara a montar - que ajudava desde que se mudara para a cidade.

A garotinha, de no máximo 10 anos, sorriu ao reconhecer o homem e ajudou a encurtar a distância entre eles correndo sem muita graciosidade ou delicadeza, só se lembrando das coroas quando a mãe a repreendeu de longe.

- Guardei a que o senhor pediu! Uma moça até quis ela, me ofereceu moedas, mas me recusei e ela se contentou com outra coroa. - Tagarelou a criança, sem um pingo de contenção.

O homem sorriu, se agachando para ficar cara a cara com a menina e, fingindo seriedade, falou.

- Obrigada pela lealdade, Melo. É bom saber que posso confiar em você.

A garota empinou o nariz e entregou a coroa separada à ele, estalando a língua.

- Tenho que ir agora, senão a mamãe e o papai já vão brigar comigo. E ainda tem a senhora Sevik que... o senhor sabe, vai vir com aquela baboseira de todo ano sobre ninguém estar usando as coroas porque eu fico correndo e me esqueço de oferecer. Aí... - E por aí continuou a falar, até que a mãe lhe gritasse outra vez e a menina disparasse festa adentro.

Carlisle seguiu entrando tranquilamente na festa também, observando a coroa pendendo nas mãos. Era formada por Amarílis brancas e vermelhas, com folhas serpenteando entre as flores. Era quase exatamente como as outras. Quase, não fosse os espinhos se somando as flores e folhas. Eles tinham sido cuidadosamente arrumados por Carlisle de forma que ficassem para cima e não esperassem quem usasse. Carlisle fizera aquilo todo anos, mas ninguém nunca usava a coroa. Talvez porque ele a fizesse pensando nela; porque entendia e tentava transparecer tudo dela naquele simples objeto: beleza, delicadeza, bondade; mas também dor, força, escuridão...

4 anos haviam se passado desde a última vez que a vira, mas pareciam uma eternidade. Uma eternidade desde que ela soltou a mão dele e caminhou até aquelas enormes paredes, até aquela fortaleza repleta de escuridão e crueldade. Desde então, nunca mais a vira. Por um ano inteiro tentou voltar a rotina em Forks, os pensamentos confusos de mais, o corpo o impulsionando e implorando para ir atrás dela a cada segundo enquanto a mente não permitia. Foi então que ele entendeu, depois de alguns lapsos de memória, o que ela havia feito. Snow o tinha manipulado, o obrigado a deixá-la ir. Tinha usado suas habilidades nele da forma mais descarada, o distraindo, usando e então plantando ordens na cabeça dele. Por um tempo, ele quis - e de fato quase o fez - esfolar Jasper por ter ensinado aquilo à ela, e todos os outros por não terem o avisado, por terem deixado que ela fizesse o que fez, por terem deixado que ela se fosse... Mas ainda assim, apesar de saber o que acontecia, ele não foi capaz de desvencilhar-se do poder que o aprisionava àquele comando, não foi capaz de ir até ela. Por um bom tempo as coisas ficaram bem tensas entre ele e os outros. Não só pelo que não fizeram, mas porque algo nele estava tão insaciável, tão feroz e angustiado que ele sentia vontade de rugir e golpear qualquer um que cruzasse seu campo de visão. Não conseguia nem mesmo trabalhar: se concentrar era impossível, e manter a calma e serenidade era ainda mais desafiador. Em muito tempo ele não se sentia desconfortável na presença de sangue humano, mas naquele primeiro ano... Foi então que tomou a melhor decisão que podia, e ninguém se opôs quando ele anunciou que se mudaria para Parma, sozinho.

Ele reformou o pequeno chalé com as próprias mãos e uma ajuda extra de Could, o transformando quase por inteiro. Demorou alguns meses até que ficasse como ele queria - elegante e confortável, não muito grande, mas aberto o máximo possível, de modo que sempre que quisesse pudesse olhar para fora, sentir a brisa fraca da floresta, ouvir os pássaros cantarem, se sentir livre -, mas ele percebeu com bastante satisfação que aquilo não foi só uma reforma na casa, mas nele também, o tempo planejando com calma e construindo e montando ajudou a acalmar um pouco a fera interior... ou pelo menos distrai-la.

Querido Carlisle...Existem segundas chances?Where stories live. Discover now