Um plano em ação - Parte I

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- As nove. Até mais. – ela desligou o telefone.

Alicia não podia sair da cama, pois estava com a perna enfaixada e doía quando tentava se levantar. Uma enfermeira fora destinada a ajudá-la em tudo que não pudesse fazer sozinha. Tomar banho era um sacrifício, tinha que ser carregada nos braços e sentar numa cadeira de rodas e cobrir com um plástico a perna operada para tomar banho de canequinha. Não podia ficar de pé ainda, tinha que permanecer sentada o dia todo. A enfermeira passava uma pomada em suas costas e nádegas para não virar feridas por ficar muito tempo sentada ou numa só posição.

            À noite enquanto tentava dormir na cama, teve a sensação de que alguém lhe aproximava, mas como estava escuro o quarto todo não tinha absolutamente certeza se era real ou variação, já que tomara vários remédios antes de dormir, o que causava um pouco de mal-estar antes de cair no sono. Mas ela percebia a movimentação de pés se aproximando de sua cama. Alicia fechou os olhos com força, mergulhando ainda mais no escuro só para não ver nada entre a escuridão, como se fosse possível ver.

- Alicia... queremos você... venha para nós... queremos você, sua vadia imunda para saciar nosso desejo e prazer... venha com a gente...

 

Alicia escutou as vozes ecoar no escuro do quarto e penetrar em seus ouvidos, e ela sentiu um frio assustador correr pela pele de seu corpo. Ela tentou se convencer que era coisa de sua cabeça, que era o efeito das drogas que tomava antes de deitar. Mas aí ela sentiu um sopro em seu rosto, e era provocado por alguém que estava de frente a ela. Alicia gritou e começou a golpear o ar com as mãos acreditando que iria atingir aquilo que estava atormentando-a. Mas não sentiu nada. Ela gritou por sua mãe, e gritou novamente, e mais e mais. Ela sentia agora as outras mãos de voltas em seus braços e puxavam para os lados como aconteceram alguns dias atrás.

- Vamos fazer você sofrer sua cadelinha!... – sussurrou a voz de Joyce, e Alicia ouviu a risada de deboche dela.

            Alicia murmurou uma reza, enquanto sentia seus braços serem esticados e as pernas se afastarem dolorosamente uma da outra.

- Por favor, vão embora... me deixe em paz, por favor... – pediu Alicia sentindo medo do que estava acontecendo.

- Porque não quer? – indagou a voz no escuro. – Você gosta disso, eu sei que gosta... então aceita!

            Alicia sabia que não era imaginação sua, e que tão pouco era reação dos remédios, e tinha plena consciência que estava sendo perturbada por espíritos. Alicia gritou pelos pais fortemente, mas ninguém vinha socorrê-la.

A voz de Robson também soou pelo escuro daquele quarto e debochava sinistramente.

- Chame pelo seu protetor... é talvez Marcos venha te salvar... chame por ele, vadia imunda... grite por ele... grite! – e Alicia sentiu uma mordida em seu braço e gritou de dor.

            Sentiu mãos puxando seu cabelo e uma mão deslizando sobre seu sexo, e agora não conseguia gritar. Estava sem fala, mas por sorte conseguia respirar, mas o cheiro que estava no quarto era de podridão e tão quase insuportável de respirar... e ela foi fechando os olhos de exaustão, e adormeceu.

Alicia estava de pé sobre a relva baixa de um gramado seco, e era tarde do dia. Caminhava nua pelo vasto espaço deserto e parou quando sentiu a terra a frente tremer. Afastou-se para trás e viu nascer uma árvore, com folhas e frutos juntos. De dentro das folhagens desceu um homem totalmente nu, embora tivessem muitos pelos em seu corpo e envolta de sua cintura, formando uma espécie de saia de longos fios avermelhados dos seus pelos. O mais estranho e assustador daquele homem era que não havia olhos, nem nariz, somente a boca fina e de dentes afiados. Ele não desceu entre os galhos que circundava envolta do tronco alto e grosso, veio deslizando sobre o tronco como se fosse uma lagartixa.

            Uma breve brisa de ar morno se manifestou entre eles e os cabelos longos de Alicia esvoaçavam para os lados e os pelos avermelhados daquele homem também. Então ela viu o que deveria ser o órgão sexual daquele homem e teve repugnância no que viu. Sentiu um desconforto em presenciar aquela coisa horrenda, mas nem de longe parecia um pênis humano. Era algo mais nojento e vivo, repulsava feito um coração batendo, estava em carne viva, sem pele alguma, e saía algo dele que lembrava a pus. O cheiro era de podridão.

            O homem sem olhos e nariz se aproximou dela como se soubesse que ela estava ali.

Alicia se afastou com medo e nojo, nojo de ser tocada com aquele pedaço de carne infeccionada e viva, que se agitava e crescia a cada segundo.

- Fique longe de mim! Saí daqui agora! – ordenava ela para ele.

Ele parou e falou.

- Você não tem que escolher, você é minha, nasceu para mim...

- Eu não sou sua! Quero sair daqui e voltar para minha casa! – ela virou as costas e correu tão rápido quanto podia e parou. Olhou para ver se via o homem que ficou para trás e percebeu que estava no mesmo lugar que saíra.

- Viu? Não adianta querer fugir, pois você não é dona de você mesma, eu sou seu dono e você pertence a mim... agora deite na relva e me deixe possuí-la... – pediu suavemente.

- Eu não sou sua! Você nem é homem normal... é uma coisa feia e nojenta!

Ele sentou no chão e vomitou algo indescritível, com bolotas de cabelos e moscas varejeiras, bigatos e unhas de galinhas.

- Venha comer.

Alicia sentiu ânsia e ajoelhou.

- Não quero comer isso... por favor, não me obrigue a comer isso.

- Então me deixe possuí-la.

- Eu não te quero! – protestou ela.

O homem meteu a mão no seu vômito e estendeu a palma cheia para ela. Alicia chorava e engatinhava feita uma cadela em direção a mão dele e meteu a boca com nojo, ingerindo aqueles vermes.

            Alicia acordou na cama sentindo dores na sua barriga e gritou por seus pais, e a enfermeira que dormia no quarto de hóspede ao lado foi quem chegou primeiro até o quarto dela e acendeu a luz. Gritou quando viu Alicia na cama, com uma cara de terrível horror e no lençol a pura imundícia de vômito com cabelos e moscas varejeiras.

O Inferno de AliciaWhere stories live. Discover now