- Oi vadia. – chamou uma garota da mesa de trás, provocando ela. – O que está acontecendo? A consciência está pesada é?

            Alicia preferiu não retrucar, ignorar ela e ponto final. Mas quanto mais ela ignorava mais a garota cochichava.

- Por sua causa nós todos estamos correndo risco de vida, porque não desapareceu de uma vez com o tarado do professor, hein?

            Alicia explodiu.

- CALE ESSA SUA BOCA SUA CADELA!

A classe toda olhou para ela com aturdimento. O professor levantou da cadeira com um olhar assassino.

- O que está havendo aqui afinal?!

- Professor, ela me ofendeu! Todos ouviram o palavrão que ela falou!

Alicia não aguentou e saiu sem pegar suas coisas, deixando o professor parado no meio da sala.

- Como ousa sair da sala de aula sem minha permissão?! – vociferou ele indo atrás dela pelo corredor. Alicia parou e o encarou.

- Me deixa em paz! Você não ia acreditar em mim, não é mesmo? Então não me enche!

O professor ficou pasmo, e percebeu que as portas das salas de aulas estavam cheia de cabeças de alunos curiosos, e logo alguns professores foram ver o que estava havendo. Alicia saiu correndo e foi para o pátio e Marcos acabou saindo de sua sala indo atrás dela.

- Alicia! Me espere! – pediu o garoto quase ao seu encalço.

- Sai daqui seu filho de uma puta! – ameaçou ela. Ele não se importou pela ofensa dela, sabia que tinha traído a sua confiança.

- Me desculpe tá? Mas tive que fazer, não tive escolha!

- Ótimo! Acabou?

- O que você pensa em fazer?

- Não é da sua conta! – falou ela e começou a escalar o portão.

- Não está pensando em sair, não é? – mas ela já estava quase do outro lado, e ele acabou pulando o portão também. Alicia correu pela calçada sem se importar se o policial estava de vigia ou não. Mas o carro do oficial não estava parado a frente da escola, deveria estar fazendo ronda pelo bairro.

            Marcos correu até conseguir parar ela pelo braço.

- Me solte seu cretino! – ela começou a se debater para se livrar dele.

- Me escute aqui! – pediu ele seriamente, meio palmo de distância do seu rosto com o dela. – Eu te amo.

            E ele a beijou. Ela se livrou dele acertando uma joelhada em seu saco e ele a largou gemendo de dor.

- Sua vadia! – gritou ele com lágrimas nos olhos. – Vá então! Desapareça!

Alicia olhou para trás enquanto corria, e seus olhos marejavam lágrimas.

            Alicia correu uns três quarteirões sem parar, e depois exausta sentou na mureta da guia para descansar. Ficou pensando se a polícia já estaria sabendo de sua fuga e se já estavam atrás dela. Seus pais com certeza estariam preocupados ou decepcionados com a sua atitude. Seria mesmo verdade o sentimento de Marcos por ela? Será que ele apenas denunciou o professor Antônio para se ver livre e ficar com ela?

            Alicia olhou bem para onde estava e começou a andar na rua sem nenhum movimento. Ela entrou numa viela e torceu para ninguém aparecer. Saiu do outro lado da rua e espiou as esquinas. Poucos carros trafegavam e algumas pessoas rindo caminhavam despreocupados. Também não ouviu nenhuma sirene de polícia pelas ruas e caminhou rapidamente. Viu-se perto de um bar, e então resolveu entrar só para poder ter tempo para pensar o que ia fazer, se ia voltar para a casa ou se ia mesmo fugir para bem longe.

            O bar era pequeno e tinha uns três senhores sentados numa mesa, dois tomando cervejas e o outro fumando um cigarro de palha. Um velho apareceu por trás do balcão.

- O que deseja? – ele pareceu simpático.

- Uma coca. De garrafa, por favor. – ela sentou no banquinho e o dono do bar abriu o refrigerador e trouxe o refrigerante.

- Quer um salgado para acompanhar?

Alicia aceitou e o homem lhe deu uma coxinha de frango. Ela mordeu o salgado e não estava quente. Nem morno estava, mas fingiu gostar.

            À suas costas escutou um carro estacionar de frente para o bar, e logo uma porta abrir e fechar.

            O dono do bar sorriu e Alicia engoliu seco imaginando ser aquele policial.

- Boa tarde, no que posso ajudar?

Alicia sentiu uma mão lhe pousar no ombro e seu estômago gelou. Olhou por cima do ombro e o professor Antônio lhe sorriu estranhamente.

- Alicia temos que ir.

- Vocês se conhecem? – indagou o velho curioso.

- Sou o professor dela – ele tirou sua carteira e deu 5 reais para o homem. – Fique com o troco. Agora vamos Alicia.

            Alicia sentiu que seu corpo estava preso sobre o banquinho e por isso não estava levantando.

- Por favor, Alicia, vamos. Você não deveria ter deixado à escola, todos estão preocupados... – falava ele.

- Ela está matando aula?

            O professor então a puxou pelo braço e Alicia sentiu sendo erguida.

- Me solte! Deixe-me! – foi o que ela disse. Antônio estava com uma expressão fora do normal, parecia um maníaco, mas um maníaco apaixonado por aquela garota a sua frente.

- Alicia... não vou fazer nenhum mal a você, eu prometo...

- Mas o senhor... o senhor fez a Joyce e o Robson, não foi? – ela perguntou muito triste e com medo dele.

            Os homens do bar se entre olharam e o dono por trás do balcão ficou confuso.

- Mas o que é que vocês estão dizendo? – mas Alicia e o professor pareciam estar sozinhos de todos e do mundo. Para Alicia era muito importante ouvir da boca dele que ele nada tinha haver com as mortes de seus colegas, e que tudo não passava de um mal entendido.

- Alicia... temos que ir... por favor... – pedia ele tentando segurar sua mão, mas ela negava segurar a dele.

- O senhor não respondeu. Por favor, diga que não é verdade... o senhor não teria coragem...

- Joyce não teve coragem de chantagear você? – Alicia sentiu que ia desmaiar com a resposta dele. – Aquele safado do Robson não teve coragem de acertá-la um soco em seu rosto? – agora ele chorava. – Eles só queriam seu mal Alicia, e eu queria tanto seu bem, como quero até agora... por favor, venha comigo... podemos ser felizes juntos!

            Alicia chorava por aquilo. Os rostos de Joyce e Robson estavam em sua mente agora e ela se sentia de fato a grande culpada por eles terem sidos mortos pelo homem a sua frente.

- O que... o que o senhor vai fazer, a polícia está te procurando.

O professor sorriu para ela e passou seus dedos sobre as lágrimas que escorriam pelo seu rosto.

- Eles são outros que querem nos separar, mas, nós vamos fugir Alicia, e será agora. – o professou segurou seu braço. O dono do bar escutava a conversa num estado de choque e rapidamente compreendeu que aquele homem era um assassino, e que estava tentando sequestrar aquela garota. Ele deu um passo para o telefone, e o professor agarrou a garrafa pela metade de coca e lascou bem no meio do nariz do velho. O cara urrou de dor, e tombou sobre a mesinha e não levantou mais.

            Alicia gritou e saiu correndo para fora, e o professor adiantou para correr atrás dela, mas, os três senhores pularam sobre ele, derrubando o professor e alguns batiam a cabeça dele contra o chão. Alicia parou e olhou para dentro do bar, e via Antônio sendo espancado.

- DEIXE-O! PAREM COM ISSO! – ela berrava de aflição no meio da rua e foi quando uma buzina cortou o ar, e Alicia olhou para o lado e o automóvel freando bruscamente, mas mesmo assim vindo a sua direção. A vida dela passou em seus olhos antes de ser atingida pelo carro, e rolar pelo asfalto a vários metros inconsciente.

O Inferno de AliciaOnde histórias criam vida. Descubra agora