Capítulo 9 - Um grito de socorro.

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Ao voltar para a casa Carlos estava sozinho na sala, alguns papéis estavam jogados no chão, o ambiente parecia mais pesado do que antes. O ranger da porta o chamou atenção, ele se virou e soltou uma risada sarcástica:

-Olha só quem veio para me fazer companhia.

Aproximei-me quando vi algumas latas de cerveja sobre a mesinha de centro:

-É, pai... Está tudo bem?

Carlos olhou em volta e soltou um soluço. Tudo estava quieto, não ouvia nenhum barulho da TV no andar de cima, nem os passos de Miguel correndo pela casa ou seus resmungos, e o telefone estava no gancho sem nenhum sinal de Rose:

-Onde está todo mundo? – Resolvi perguntar.

-Ah sim aqueles dois, devem estar se divertindo por aí. Acho que eu não sou uma companhia agradável para jantar com eles. Afinal temos dinheiro de sobra pra ficar gastando.

Engoli seco tentando pensar em como amenizar a situação:

-Quer que eu esquente a comida?

Carlos levantou do sofá e sorriu:

-Por que não fazemos isso juntos? - Perguntou ele cambaleando. - Tenho que prestar serviços sendo um bom pai.

Arregalei os olhos surpresa, montei os pratos e coloquei no microondas enquanto meu pai arrumava a mesa, deixando a toalha torta com uma ponta mais longe que a outra. Assim que sentamos fiquei sem saber o que dizer, fazia algum tempo em que não ficávamos a sós:

-E então? – Perguntou girando o garfo um tanto zonzo. – Como foi seu dia?

-Bom. – Respondi imediata

Ele enfiou uma garfada na boca, pensativo:

-E no trabalho?

-Normal eu acho.

-Não exagere. Não queremos que nada aconteça, não é mesmo?

Não sabia aonde ele queria chegar, então apenas continuei concordando:

-Sabe, é bom conversarmos às vezes. Se não como eu vou saber se tiver um chilique de novo.

Parei de remexer o garfo o olhando diretamente nos olhos.

Não sei se ficava mais brava por questão dele estar meio bêbado e falar bobagens, ou por justamente estar bêbado e essas bobagens serem exatamente os seus pensamentos verdadeiros. Depois do ocorrido ele acha que eu simplesmente tive um distúrbio nervoso.

-Você vive trancada naquele quarto, nem sabemos o que faz lá. – Seu tom de voz começou a se elevar aos poucos. – Do que adianta aguentar seus problemas e trazer problemas pra gente?

Franzi o cenho tentando entender a mudança no rumo da conversa, a comida descia como se eu tivesse engolindo um elefante.

-Se gosta tanto de agir como um adulto então por que não pensa como um?

Me levantei o interrompendo e coloquei o prato na pia:

-Vai me deixar também?

-Pai, eu acho melhor você ir dormir.

Carlos se levantou irritado e fechou a torneira:

-Não fuja de mim, estamos no meio de uma conversa.

-Eu já sei aonde isso vai dar. – Respondi atordoada. - É melhor pararmos por aqui.

Me virei quando ele me segurou pelo braço olhando alguns borrões secos de tinta no meu cabelo:

Não se apaixone por mimUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum