Capítulo 1 - A bruxa

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Não sou o tipo de pessoa que você consideraria esteticamente a mais bonita ou algo do tipo. Minha vida? Ter uma madrasta viciada em produtos de beleza, um pai pão-duro e um irmão caçula mais grudento que vendedor da Avon? É, acho que é uma vida razoável.

Eu adquiri uma independência muito cedo, com a perda da mamãe tive que me virar e aprender a fazer tudo sozinha. Na época minha relação com meu pai não era assim tão boa, o processo da perda não foi fácil para ambos. Não nasci com o dom da simpatia, dificultando ainda mais o meu convívio social.

Na maioria das vezes que chego em um lugar as pessoas saem correndo, talvez por conta da minha aparência, sempre fui magra, alta e pálida. Em questão ao comprimento do meu cabelo? Curto e despenteado, dando complemento para as minhas sobrancelhas escuras e grossas. Diversas vezes acabaram me confundindo com um menino. Pois é, isso eleva muito a minha autoestima. Ah sim, esqueci de mencionar um detalhe pequeno, eu nasci com uma peculiaridade chamada heterocromia, talvez você já tenha visto em algum lugar, só não imaginava que teria um nome tão grande como esse, mas vamos deixar isso mais pra frente, tudo o que precisam saber no momento é que eu sempre ando com óculos escuros por conta disso.

A escola é um lugar intrigante. É impressionante como algumas pessoas a levam tão a sério, não digo em estudar, e sim em se exibir dentro de suas "bolhas sociais". Chega a ser cômico como cada um tem o seu devido papel dividindo a sala em grupos diferentes. É apenas uma fase e você não precisa necessariamente pertencer a um lugar específico.

De qualquer forma, eu não me vejo em nenhum deles. Uma coisa que aprendi desde pequena é não depender de ninguém, isso se enquadra a amigos também. Então, levo da vida apenas o que é conveniente para mim no momento. Aliás, estar sozinha já é o suficiente ( sendo minha escolha ou não).

Acho que até agora já dei uma boa prévia de como eu sou, podem me julgar como uma pessoa egoísta, mesquinha, egocêntrica, pessimista, talvez realista, entre outras coisas...

Talvez se eu tivesse nascido em outro corpo, se não tivesse chovido na tarde de domingo, ou se mamãe estivesse viva, eu não seria essa pessoa. Vamos parar a falação por aqui e bora começar a história de uma vez.

Era uma v...? Manhã ensolarada. A minha madrasta não parava quieta em casa, e meu pai estava com a cabeça enfiada nas contas:

-Sim, pode ser na quinta, estarei livre. - disse Carlos, no telefone enquanto segurava um cigarro na mão.

Ouvi de longe enquanto procurava o molho de chaves que havia deixado na mesa.

Minha madrasta surgiu por detrás dele o atingindo na cabeça, os dois começaram a cochichar enquanto ela o repreendia:

-Então, docinho - proferiu ela com um sorriso sem graça -eu e seu pai planejamos uma surpresa pra você, o que acha de sairmos todos em família na quinta à noite?

Parei o que estava fazendo e analisei a reação de meu pai.

-O quê? Jantar fora?! Mas isso... – balbuciou ele.

-É o aniversário de sua filha. - cochichou Rose lhe dando uma cotovelada.

-Ah! Aniversário... É claro!

Meu pai concordou com a cabeça e puxou um bloco de folhas na gaveta.

Nos meus aniversários era sempre assim, eu não tinha amigos, portanto não fazíamos festas, no máximo saímos para comer em algum restaurante.

Soltei um breve sorriso e o ignorei passando para a cozinha. Me deparei com as chaves em cima da geladeira:

-Vamos ter bolo, bolo, bolo, bolo! - cantarolou Miguel fazendo uma dança esquisita.

Não se apaixone por mimWhere stories live. Discover now