1- O acidente

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É claro que eu iria me atrasar para a minha primeira reunião importante no novo emprego em Tokyo. É claro que meu desesperador não tocaria e eu perderia a chave de casa. Por que eu deveria estar tão surpresa? Eu sou um verdadeiro desastre ambulante!

Sinto raiva de mim mesma enquanto corro desesperada em direção a empresa. Eu preciso chegar, eu não posso perder esse emprego, não posso.

Minha vida nunca foi um verdadeiro conto de fadas. Sabe aqueles figurantes que morrem para o Madara na guerra? Pois é, eu sou um desses figurante. Só me ferro nessa vida.

Nunca tive uma boa relação com os meus pais, nasci em uma família perdida nos vícios da humanidade. Meu pai era viciado em bebidas e prostitutas, enquanto minha mãe tinha seu vício em drogas. Até os 18 anos minha vida foi um inferno.

Comecei a trabalhar aos 16 anos, e com o dinheiro que juntei, aluguei uma kitnet assim que completei a maior idade. No mesmo dia, nem um a mais, nem um a menos.

Enquanto vivi com eles, os animes foram meu consolo, minha distração, o que me permitia sair desse mundo. E Naruto é meu preferido entre todos eles.

Eu me envolvi emocionante de um jeito inexplicável com os personagens, não sei se meu amor pelo anime é a história em si, mas ver como muitos personagens sofreram e superaram suas dores, como o Naruto e o Gaara, me fazia sentir esperança de que eu também poderia conseguir superar as minhas e seguir em frente.

Mas é claro que eu estava enganada, se eu fosse uma personagem de Naruto, eu não seria uma secundário e muito menos a protagonista. Eu seria a figurante que morre para kunai.

Recebi uma grande próstata aqui em Tokyo há alguns meses. Depois que sai da casa dos meus pais, eu decidi que sairia do Brasil e resolvi fazer curso de Japonês. Por que não tentar a sorte no Japão?

Qualquer um teria tentado ir para os Estados Unidos, ou quem sabe a Europa, mas acho que meu amor pelo Japão me trouxe aqui.

E se eu perder esse emprego, não vou ter dinheiro nem para pagar o aluguel, nem para voltar para o Brasil. 

Então seja como for, eu não posso perder o emprego. Minha vida depende disso, meu futuro depende disso.

- Cuidado! - ouço barulho de sirenes, o que está acontecendo?

Vejo a polícia de Tokyo perseguir um carro branco, que está acelerado. Existem perseguições em Tokyo? Achei que essas loucuras só aconteciam no Brasil.

Vejo o sinal dos pedestres abrir, será que eu consigo passar antes do carro?

Vejo que nenhuma das pessoas da um passo para tentar a sorte e eu decido esperar também. É só esperar os carros passarem e eu corro para o outro lado da rua. A empresa está logo ali.

As pessoas a minha volta gritam e se afastam. O carro está vindo em direção aos pedestres, em minha direção!

Cara, eu devia ter atravessado a rua...

Tento correr também, mas de repente sinto um estrondo contra o meu corpo e eu grito, assim como outras pessoas que também foram atingidas pelo carro branco.

Sinto uma dor insuportável, coloco a mão sobre o meu peito. Isso é sangue? Eu não consigo respirar, tento puxar o ar com força, mas ele simplesmente não chega aos meus pulmões.

Minha mente se bagunça, tudo a minha volta começa a girar incansavelmente e a escuridão toda conta de tudo.

Sinto a fraqueza me tomar. Talvez eu nunca devesse ter aceitado esse emprego.

É o meu último pensamento, antes de perder a consciência.

(...)

- A respiração dela está voltado ao normal. - ouço um homem dizer.

Um amor silencioso (Gaara)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora