– Aquele lugar está uma zona – Amanda comenta, parando ao nosso lado com uma caixa em mãos. – Boa sorte. As vassouras estão por lá, acho que Pedro deixou tudo o que precisavam – ela completa.
Assinto e sorrio para Lucas que parece considerar por alguns segundos antes de me seguir para nosso pavilhão. A pequena sala de cinema que usávamos para exibições de projetos não estava tão mal quanto diziam.
Um pano e tudo estaria lindo.
Vou até o balde verde com produtos de limpeza no canto esquerdo e avalio as opções, por onde começar. Tirar o pó das poltronas parecia legal, não que estivessem empoeiradas, mas causar uma boa impressão era importante e eu gostava da ideia de ter tudo extremamente limpo.
– Bom, já que estamos aqui...não quer me contar o que houve de manhã?
Não.
Vou até Lucas e lhe estendo um pequeno aspirador portátil e, por mais que eu odeie, eu falo, porque se eu não falar, que não vai parar com isso.
– Damien dormiu comigo essa noite. – A expressão de Lucas não se altera quando ele pega o aparelho de minha mão e vai em direção a uma das poltronas. Pego meu espanador e vou até outra.
– Achei que ele fazia às vezes.
– Ele faz – respondo.
– Então?
– Acho que a namorada dele nos viu – suspendo a respiração por um momento, mesmo sabendo que Lucas não diria nada sobre aquilo.
– Vocês estavam nus? – ele questiona, levantando o rosto que antes encarava a poltrona avermelhada.
– O que? Não. – Minha voz soa um pouco alta, acho que por conta do aspirador.
– Então? – ele repete, voltando a se atentar na atividade.
– Ela achou esquisito. Qualquer um acharia.
– Mas não é esquisito para Damien, ela devia saber.
– Acho que agora sabe. De qualquer jeito, ele esclareceu, disse que não era desse jeito comigo, que eu era um irmão. – Um silêncio curso seguiu minhas palavras. O som do aparelho momentaneamente interrompido por quem o controlava.
– Ah... – ele finalmente solta.
– Podemos varrer? – peço, um pouco constrangido.
– Claro. – Me concentro na poeira do chão, em mudar o foco do assunto.
– Me fale sobre a garota, a tal. Eu me lembro, o nome dela é Clara, certo? Você andava atrás dela abanando o rabo no ensino médio e não ficaram juntos porque o namorado dela era um cara bem bombado.
Me viro para Lucas e lhe dou meu melhor sorriso. Ele tinha mesmo uma paixão colegial, uma enorme, não que eu a tivesse visto ou coisa assim, mas todas as vezes que ele ultrapassava 3 cervejas, Clara e seus belos olhos cor de mel viravam o assunto favorito.
– Agora o cara bombado está fora de jogo e eu estou dentro – Lucas parece quase orgulhoso da constatação.
– Ela sabe disso? – desdendo um pouquinho e ele me joga uma almofada.
– Ainda não, palhaço. Mas eu tenho um plano.
– Espero que seja chamar a garota pra sair.
– Vou me aproximar do irmão dela, que é seu patrão, isso se chama comer pelas beiradas. – Paro o que estou fazendo e me viro para meu amigo que sorri satisfeito, como se aquela fosse uma constatação brilhante.
Oh, céus. Lucas estava praticamente no mesmo barco que eu.
– Você está sendo estúpido, digo isso com todo carinho do mundo.
– Convivendo com ela posso convidar naturalmente. – Lucas não se abala e me olha esperançoso, esperando o sinal verde, a aprovação.
– Não parece um plano muito elaborado. Por que você não pede o número dela? – sugiro, me apoiando em minha vassoura, tendo toda a consciência sobre a falta de propriedade no assunto.
– Não dá, ok? – ele retruca desviando o rosto.
– Você tá com medo.
– Me cagando de medo. – Assinto.
– Você é um cara legal, bonito, cheiroso, tem a coleção mais legal de fotos em preto e branco do mundo. Fora o bom humor. Por que ela te negaria?
– Você acha? – a voz dele detona esperança reprimida e isso me dá um motivo para sorrir outra vez.
– Eu tenho certeza, Lucas. Seja legal como você é, ela vai aceitar e se não, eu estarei aqui.
– O Damien é um imbecil de te deixar escapar – solto uma risada.
– Sim, ele é.
– Meninos, acabaram? Vamos começar aqui – Amanda grita da porta.
– Quase. Lucas, vá checar se todos estão com os bilhetes para participantes, sim? Eu vou terminar aqui. Não demorarei.
– Sim, chefinho.
Reviro os olhos para ele que corre até Amanda.
Me concentro em terminar e molhar um pano para esfregar o chão.
– É aqui que eu pego os bilhetes? Pedro do me entregou os papéis com preços – a voz de Damien me faz saltar e levar a mão ao peito. Olho em volta e encontro a pasta que me foi entregue, abro e cato dali algumas fichas.
– Ah, claro. Estão aqui. – Estendo, ainda um pouco distante. Ele pega de minha mão, mas não se move. Volto a me concentrar na limpeza.
– Fez tudo isso sozinho?
– Lucas estava comigo, estou só dando os toques finais – respondo.
– Vai se inscrever de verdade?
Ri. Parando de esfregar o chão que agora brilhava. Encaro Damien que espera por mim encostado na parede, braços cruzados.
– Na verdade eu vou deixar passar.
– O filme não atende aos seus moldes?
– Eu só acho que outras pessoas deveriam ter a oportunidade. – Dou de ombros.
– Acho que entendo o que quer dizer, vamos ver um filme em casa depois daqui, podemos escolher um daqueles mudos, em preto e branco, dos que você gosta.
– E a sua namorada? – interrompo.
Eu estava fora da barraca para evitar coisas assim.
Estava fora para não ter que encarar outra manhã com Camila entrando em minha casa e gritando em minha sala.
– Eu não tenho uma. Terminei com ela essa manhã.
Engulo a surpresa a sinto o baque quando a informação chega de verdade.
– Entendi – digo devagar. – Isso não foi por minha causa, certo?
Damien sorri, um sorriso largo e não me dá resposta alguma.
– Vai aceitar o filme comigo? Eu faço a pipoca.
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Oblíquo
רומנטיקהCaio sabia, estar apaixonado era uma maldição que em nada parecia com filmes ou séries de TV onde tudo acaba em um lindo beijo cinematográfico, tudo o que ele conhecia depois de quatro anos amando em segredo seu melhor amigo, Damien, era a longa lis...
Sim ou Não
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