Oblíquo

Dia do sim

Viver é um paraíso.

Este é meu pensamento quando levanto na manhã seguinte ao beijo que Caio me deu na porta de sua casa. Eu estava pronto para esse vida melosa de casal. Estava sim.

A primeira coisa que faço é tomar banho.

Segundo, preparo meu café da manhã. Como um pouco de pão enquanto escrevo para Lucas, perguntando se ele teria tempo de sentar e repassar o roteiro comigo naquela mesma manhã, então termino de arrumar minhas coisas para o dia e saio.

O sol estava quentinho e eu cumprimento as pessoas na calçada quando passo por elas, sorrindo e dizendo "bom dia". Decido caminhar uns bons 20 minutos da minha casa até o teatro.

Eu precisava cuidar dos detalhes sobre o roteiro ainda hoje, estávamos atrasadíssimos. A peça rodaria daqui dez dias e não tínhamos nada. Eu assinaria meu atestado de fracasso se usasse alguma coisa de baixa qualidade. Felizmente eu tinha alguns calouros que poderiam ajudar colhendo os sons mais fáceis. Pedro poderia ajudar com algumas edições aprimoradas se fosse extremamente necessário.

—  Eu vou morrer afundado no estresse, eu vou morrer hoje.  — A voz de Caio soava quase alta. Um passo para dentro do teatro e eu o vi andando de um lado para o outro freneticamente com o celular na orelha.

—  Bom dia?

—  Damien! Você tá aqui. — ele abaixa o telefone do ouvido e seus olhos grandes se voltam para mim. — Você tá ocupado?

— Depende? — digo, incerto, olhando em volta, procurando a origem da tensão. Não encontro nada.

— Contratamos uma empresa responsável por entregar os moldes dos cenários idealizados pelo Lucas, pois bem, acontece que eles entregaram na faculdade e não aqui, eles não me atendem e se não me atender eu não consigo fazer com que consertem essa burrada.

Se atendessem, estariam mortos. Se eles olharam com atenção para o Caio espumando em raiva, eles tinham notado isso e fugido o mais rápido possível.

— E o que você quer que eu faça?

— Se for possível — ele começa. — Pode dirigir até lá e buscar o figurino? Sei que não tem nada a ver com o cenário, mas a galera de moda acabou e deixou tudo pronto com a Abigail, se você pudesse...

Abaixo a cabeça rapidamente e, num movimento rápido, amasso minha boca na dele, um breve contato, um selinho. Caio arregala os olhos, mas continua imóvel com seu celular apertado entre os dedos.

— Claro que busco, mais alguma coisa? — Caio lentamente estende um sorriso grande e fecha os olhos brevemente, um tom adorável de vermelho surgindo em suas bochechas.

Puta merda, como eu amo esse rosto.

— Não me deixe constrangido em publico — ele sussurra, olhando em volta e eu sorrio orgulhoso. Se eu pudesse, deixaria todos saberem que eu o estou perseguindo. Tentando torna-lo meu namorado.

Ouço um pigarrear e olho para o lado. Camila estava parada há alguns passos de distância. Quando a noto um passo para trás.

— Caio, pediram para perguntar se está tudo certo para o ensaio geral. Os atores estão meio ansiosos, na verdade.

— Avise que sim. Melhor, eu vou conversar com eles, obrigada por me avisar. Damien, os figurinos estão com a irmã do Bernando, como eu disse, você sabe onde fica o estúdio de edição dela na faculdade, sim? Estarei esperando por você no camarim com os atores.

Caio franze o cenho e solta um longo suspiro. Ele lidava com a pressão tão bem quanto podia. O assisto se afastar e penso em como posso ajudar com alguma coisa além de um prato cheio de doces para aliar seu nervosismo.