Alguém tem que ceder

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 – É o seguinte – grita o veterano segurando um megafone em uma das mãos. – Esse jogo é uma caça ao tesouro misturado com um "quem sou eu", o objetivo é simples, Calouro. Descubra o personagem grudado em sua testa e depois ache, no meio da multidão, o seu par.

Olho em volto, contemplando a multidão de pessoas sorrindo animadas, todo um ar de excitação e descoberta. Eu não imaginava que jogos para calouros pudessem ser tão pouco agressivos. O dia era quente e eu estava perdido com tudo, olhando as duas garotas a minha frente me oferecendo pistas do personagem cinematográfico grudado a minha testa por uma tira de pano.

– Eu tenho cabelo longo? – pergunto gesticulando.

– Sim! – elas gritam em uníssono.

– Liso, encaracolado? – trapaceio, sem mais ideia do que perguntar.

– Você é linda – uma delas diz apontando para a faixa em minha testa.

– É, tipo, uma linda.... – a outra completa, deixando o final da frase para mim.

– Mulher! – grito. – Eu sou uma linda mulher... eu sou a... Julia Roberts.

– Isso. Vá buscar seu par.

– Obrigada, meninas – grito acenando desajeitado enquanto me ponho a procurar. O olhar atento voltado a todas aquelas pessoas.

– O tempo está acabando, um minuto – o veterano grita com o megafone e isso me deixa com os nervos à flor da pele. Giro de um lado a outro procurando o nome correto para mim, então, em meio a todas as cabeças enfeitadas com papel azul que andam apressadas tentando se reconhecer, eu o avisto, uma cabeça mais alto que a maioria das pessoas na multidão, os olhos verdes brilhando espertamente junto com um sorriso grande. Meu coração falhou uma batida, apenas o tempo de eu piscar algumas vezes e me botar para andar em sua direção.

– Cinco.

Ele me viu, arregalando os olhos levemente e vindo até mim.

– Quatro.

Abrir caminho pela multidão me fazia rir como uma criança. Todos estavam agitados demais.

– Três.

Uma garota grita bem ao meu lado ao agarrar os ombros de sua parceira.

– Dois.

Aperto o passo. Sentindo toda adrenalina possível correr por minhas veias naquele momento.

– Um.

Me choco contra o estranho dos olhos bonitos e ele consegue sorrir ainda mais. Seguro os braços dele com as mãos enquanto recupero o folego da corrida contra o tempo.

– Então você é Richard Gere – digo arfando.

– Eu mesmo, e se estou certo, você é Julia Robert e nós somos o amor da vida um do outro.

O barulho do celular me faz abrir os olhos de supetão e sou atingido pelo raio de sol que passa pela janela aberta. Me sento, sentindo todo o pescoço dolorido pela noite inteira gasta em um sofá. Suspiro pesado e agarro meu aparelho na cômoda ao lado.

– Bom dia – digo, ainda grogue. Olho para o lado de fora e em seguida para o relógio. Sete e meia da manhã. Arregalo os olhos, me levantando rápido e sofrendo amargamente com decisão quando os cantos da vista dão uma breve escurecida.

Pressão baixa e suas vantagens.

– Bom dia! Você ainda vem?

– Eu vou, quer dizer, eu estou no caminho agora mesmo?

Oblíquo Where stories live. Discover now