O Primeiro Amor

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Um prato vazio estava a minha frente, ao lado dele algum tipo de café gelado, um desses com creme em cima, algo muito mais parecido com milkshake do que com café. Enfio o canudo da boca e puxo. O sabor meio amargo não é ruim, engulo devagar escutando uma risada alta ao meu lado. Lola parecia alegre, os olhos brilhando enquanto falava com Pedro e Lucas que comiam pães de queijo.

A cadeira na ponta, a que sobrava, estava ocupada por Caio, cuja atenção estava completamente focada na tela de seu notebook. Ele não bebeu seu café, também não comeu, parecia extremamente concentrado. Penso em espiar pelo canto do olho, mas não seria educado.

Penso em perguntar, mas parecia rude.

Solto um suspiro cansado.

Se ele agora me odeia, como eu posso falar com ele?

– Damien?

– Está falando comigo?

– Chamei duas vezes. Você vem comigo para casa mais tarde?

– Vou, vou sim.

– Ótimo!

– Pessoal – Lucas começa. – Sei que vocês dois estão animados para ficarem sozinhos e blá, blá, blá, mas temos que assistir a um filme para aula de estruturação de roteiros, lembram? Precisamos escrever um trabalho.

Caio fecha o notebook e lança a Lucas um olhar entediado.

– Qual filme vocês escolheram?

– Nenhum, estávamos esperando por você – Pedro fala na voz mais mansa possível e eu me contento em olhar para os olhos grandes dele.

Meu Deus, como a gente estava patético naquele momento. Qual o meu problema?

– Podemos falar sobre Flipped – a mesa toda fica em silêncio e eu me pergunto se era uma sugestão tão esquisita assim.

– Você odeia esse filme. – Lucas é o primeiro a pontuar.

– É o favorito do Caio. – Me encosto na cadeira enquanto falo e a atitude é seguida de outro silêncio.

Isso era mesmo estranho?

– Por mim tudo bem – Caio diz, pegando sua mochila do chão e enfiando o notebook ali. – Vamos? – questiona quando não vê ninguém se movendo.

– Vou com vocês – Lola se levanta. – Posso ficar na sua casa então, Damien?

Concordo enquanto eu próprio me levanto. Vejo Pedro se aproximar de Caio e estico um pouco o pescoço, tentando escutar um pouquinho. Tudo o que capto é um breve sorriso de Caio seguido por um balançar de cabeça.

– Pedro já conversou com ele. – Lucas diz, tocando meu ombro com o seu. – É bem ruim pra sua moral tentar ouvir uma conversa privada.

– E o que houve? – Ele olha para Lola ao meu lado antes de responder:

– Devia perguntar a um dos dois.

– Vamos assistir na sua casa então, Damien? – Caio pergunta quando chegamos ao lado de fora.

– Sim, é o lugar mais parto e eu tenho o filme.

Ele assente enquanto caminho em silêncio.

Eu odiava aquele clima, a sensação de pisar em ovos e precisar ser cauteloso. Éramos todos amigos, eu queria saber sobre a nova casa, sobre o trabalho, se estava tudo bem ou se não estava, mas tudo o que eu tinha era um clima de merda e um olhar gelado.

Lola segura meu braço no meio da caminhada e me lança um olhar preocupado.

– Está tudo bem?

Oblíquo Where stories live. Discover now