Sempre ao seu lado

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É que eu sou fraco, frágil
Estúpido pra falar de amor
Mas se for com você, eu vou, eu vou

Imaturo, Jão


— Na minha sala? Ah meu Deus, eu... — Mais uma serie de gargalhadas, Caio, num flash, vestiu seu short, mas nem mesmo a maior compostura do mundo podia esconder seu rosto vermelho feito um tomate cheio.

— Lucas, você está constrangendo o Caio. — O acuso, a testa franzida, a voz irritada. Toda aquela situação era terrível. Terrível porque eu estava de pau duro, porque fomos interrompidos num momento importante. Porque Caio estava se sentindo tão claramente envergonhado que fazia eu querer me levantar e me colocar entre ele e Lucas.

— Cala a boca, Damien!

— Tá bom, amor.

— Amor? — Lucas repetiu. Caio abaixou a cabeça, o rosto se escondido nas mãos. — Damien você não tem vergonha na cara?

Foi a minha vez de me sentir levemente embaraçado.

— Lucas eu peço desculpas, não sei o que me deu — Caio começa, sua postura já ereta, o rosto contorcido numa expressão de pavor.

— Eu sei o que te deu, esse predador aqui bem na nossa frente. — Lucas tentou parecer sério, decidido, mas falhou miseravelmente. Eu dei de ombros, não me sentia exatamente constrangido. Talvez frustrado, essa era a palavra.

Mas não queria que Caio se sentisse mal, ou acuado.

— De qualquer forma, eu... eu acho que vou para casa.

— Não, não precisa.

— Ah, eu insisto.

— São quase uma da manhã.

— Eu o levo — Me levanto do sofá, Caio já estava com a mão na maçaneta, apressado. Caminhei logo atrás, sem dar tempo de uma negativa. 

Lucas olhou de mim cara Caio.

— Usem camisinha, rapazes e Damien, a ligação de agora pouco... acho que tenho um trabalho para você, mas amanhã falamos, sim?   

Sorrio sem humor para ele e bato a porta atrás de mim. Caio era incapaz de me encarar, as mãos enfiadas nos bolsos, os olhos voltados para frente.

Eu não achava que era pelo sexo, também não achava que fosse 100% por conta da interrupção. Caio não costumava evitar um problema, mas ele com certeza evitava suas dores.

— Eu realmente consigo caminhar sozinho, Damien, não é muito longe.

— Não, eu vou contigo.

Silêncio, a noite calma sendo rasgada apenas por um carro ou outro apressados na rua. A calçada era larga o bastante para que andássemos lado a lado.

— Então... sobre o que aconteceu... — Caio virou o rosto em minha direção, os olhos grandes incertos e amedrontados, aquilo me fez recuar. Pisar no freio. Ele estava apavorado.  — Eu entendo...

A última frase saiu baixa. Baixa demais, como se ele odiasse cada palavra que dizia.

Eu as odiava também.

— Acho que não entende — o interrompo.

— Damien, relaxa.

— Eu não quero relaxar, Caio. Eu não sei exatamente o que você acha, mas acha errado, porque eu... eu quero fazer aquele tipo de coisa contigo o tempo todo, mas não só isso, depois eu quero dormir abraçado com você, e tomar café da manhã juntos. Eu sinto sua falta todo dia e se você quiser, a gente, quer dizer, eu e você, a gente pode.

Paro, tomando ar. Na minha mente aquilo era um milhão de vezes mais fácil.

— Damien. Você está se ouvindo? — tenho vontade de rir do tom que ele escolhe. Rir sem nenhum humor.

— E você, está me ouvindo? — Questiono enquanto chegamos na portaria do prédio dele. Eu não queria sair andando, não podia dizer tchau. Caio desaparecia amanhã se eu deixasse as coisas como estão.

— Sim, estou ouvindo você dizer que gosta de mim — ele diz sem delongas, como se anunciasse o clima do dia.

— Ótimo — retruco.

— Posso perguntar o porquê?

Pisco algumas vezes, confuso.

— Como assim?

— Estive do seu lado desde o primeiro dia de faculdade, passei esses anos todos bem aqui. Eu não mudei, não estou mais musculoso, mais alto ou menos ranzinza. Eu sou a mesma pessoa, então, por que?

Era uma pergunta perfeitamente razoável. Algo que soa exatamente como ele mesmo. Tomo ar pela segunda vez em um curto espaço de tempo e quando abro a boca, decido pela verdade absoluta:

— Porque eu sou um idiota. Porque quando eu vi você pela primeira vez, extremamente sério, no meio da brincadeira dos calouros, eu pensei que você era lindo, quase uma obra de arte. Eu fiquei impressionado com seu jeito, sua voz de comando, suas manias e todo o resto, isso me vez estar perto, mas a verdade é que você sempre esteve lá. Eu nunca precisei ficar sem você um dia sequer, isso, pra mim, de alguma forma, bastava. Quando me deparei com a minha casa vazia, com a cadeira do meu lado vazia, com meu dia sem a sua presença, eu entendi que esse aperto no peito ele não é normal, que eu não sentiria isso por outras pessoas. Eu não consigo imaginar um Caio que não me ame.

Ele pensa por alguns segundos, logo assente, retirando as mãos dos bolsos e olhando dentro dos meus olhos pela primeira vez desde que saímos da casa de Lucas.

— Uma pena, porque o Damien que eu conheço ama apenas a si mesmo — as palavras são como laminas frias e eu as sinto em minha pele, afiadas.

— Eu também não mudei, Caio, eu só entendi — completo e sei que ele entendeu o que eu quis dizer, sei que sabe. 

— Então eu peço que me entenda. Não é fácil para mim acreditar nessas coisas, você pode acordar amanhã e como em qualquer outra história sua, você pode enjoar, é isso que vi de você.

Aquele era um medo com o qual eu poderia lidar, um que estava em minha balança desde o começo. Minha reputação. 

— Amanhã ainda estarei aqui, e depois de amanhã também, se é tempo que você precisa, eu tenho tudo do mundo.

— Não vou pedir que faça isso.

— Você não está pedindo. E se, no fim desse tempo você decidir que eu sou mesmo um imbecil e não quiser nada comigo, eu seguirei adiante, te deixarei em paz.

Estendo a ele o dedinho, ele encara por um momento antes de apertar, selando pacto.

— Tem mesmo dois meses que você não dorme com alguém?

— Eu quero dormir com você, quando quiser.

Oblíquo Where stories live. Discover now