Por trás de seus olhos

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Era sexta à noite, a festa para qual Lola me convidara não parecia grande coisa agora, não quando minha cabeça parecia pesar duas toneladas com tudo o que estava acontecendo.

Minha tarde com Caio só revelara o que já estava me martelando. Eu realmente poderia ficar com ele... não, essa frase não é apropriada. Eu realmente quero ficar com ele.

Não que eu fosse difícil, mas não se tratava disso. Eu estava disposto a ir atrás do Caio num esforço muito maior do que apenas uma ficada, mas eu não tenho certeza sobre sentimentos, sobre amor.

Coço a cabeça, a verdade é que eu nunca pensei muito sobre isso, sobre o que definiria um limite entre a linha do que é romance e o que é um desejo passageiro. Pedro poderia me dar mil discursos, mas eu ainda não pretendia arriscar com Caio e vê-lo magoado porque eu entendi errado.

Eu sabia que o queria, mas não até onde isso se estendia e isso me paralisava de tomar qualquer atitude definitiva, era pura tortura.

–  É uma festa, não um velório – Lucas me fez sobressaltar, surgindo ao meu lado, segurando uma cerveja. – O que está fazendo meu amigo se afundar em drama?

Dou uma piscada longa, eu já havia bebido demais para responder esta pergunta com alguma dignidade. Peguei a garrafa da mão dele e passei os olhos pela pista de dança e pela entrada.

Por que eu não fiquei em casa?

– Ajudei Caio a pintar a sala dele – ofereço um tópico mais amigável e Lucas parece bem disposto a aceitar, mas não antes de um olhar longo e cheio de perguntas.

– Tô sabendo.

– Mesmo?

– Sim, ele me disse que você estava bem esquisito. Eu pensei em perguntar o porquê, mas eu acho que toda essa situação é esquisita mesmo.

A situação era pavorosamente esquisita. Eu pagaria para não precisar me sentir tão esquisito toda vez que via meu melhor amigo.

– Não, quer dizer, eu acho que posso ter me comportado de uma forma estranha – admito, levando a garrafa a boca. O álcool fazendo seu trabalho e me deixando mais tranquilo. Talvez Lucas entendesse exatamente do que estou falando, assim como Pedro, mas o que me veio de resposta foi o oposto do que eu esperava.

– Não precisava. O Caio entendeu seu recado da última vez, ele deu o melhor que pode e está seguindo em frente, se o seu receio é esse.

Dou um meio sorriso sem nenhum humor.

O meu receio era exatamente esse, que ele seguisse em frente. O filho da puta do Pedro tinha toda razão.

–  Estou falando sério –  Lucas repete. –  E acho que é melhor assim.

–  Do que vocês estão falando? –  Leticia se joga no sofá ao meu lado, bebendo de sua cerveja com os olhos pretos focados em mim.

–  Nada demais – digo, terminando minha garrafa nas últimas goladas. – Acabou cedo no teatro?

–  Só os atores, Caio ficou com Bernardo, eles estavam vendo umas coisas, eu até me ofereci pra esperar acabar e dar uma carona, mas ele não quis.

Meu coração dá um salto e a feste se torna muito mais interessante em um único segundo.

–  Ah, ele vem?

–  Vem, bom, ele me disse que vinha. Eu chamei umas mil vezes, ele precisa muito beber um pouquinho, dar uma relaxada, ele estava muito mal nos últimos tempos, só agora estou vendo melhora e... – ela se interrompe. – ah, me desculpa, Damien.

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