58. As Dúvidas de Bela

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Na noite seguinte, Bela e Linda iam jantar com os Dewi. Naquela noite, iam planear o jantar de noivado que iria acontecer dentro de três dias. O vestido já estava encomendado, a restante família de Harta estava a caminho e o restaurante – onde Samir trabalhava – já tinha uma mesa reservada.

Estava tudo preparado, agora era preciso preparar Linda e Bela para todo aquele ritual que desconheciam. Linda ainda nem sequer os conhecia muito bem e resistia a conhecê-los e a querer estar com eles. No entanto, Bela sabia que ao conhecê-los melhor tudo melhoraria. Bela estava orgulhosa de Harta, conseguir falar em português com a Linda era sem dúvida uma conquista para ele. Bela não era uma boa professora, mas Harta era um bom aluno. Linda ficou impressionada, principalmente, quando ele lhe disse que foi Bela quem o ensinou.

Sentaram-se todos para o jantar e Harta nervoso e a arranhar no português tentava explicar a Linda que gostava muito da irmã dela e que queria casar com ela. Linda assentiu pacientemente sem falar nada. Talvez, porque sabia que ele tinha dificuldade em falar e ela não queria falar em inglês. Talvez, porque não gostava da ideia, mas não conseguia demover a irmã.

No casamento muçulmano haveria uma cerimónia de noivado e depois de casamento. Ela não teria fazer nada de especial, apenas deixar que a família a arranjasse o vestido e o anel. Na cerimónia de noivado Linda podia participar e depois do casamento, seria a vez da família da noiva dar presentes.

Linda olhou com uma cara de pânico para Bela quando Harta falou em presentes para a família deles. Linda sabia lá o que eles gostavam ou queriam! Pelo que via da casa deles nem televisão tinham! No entanto, a família Dewi não esperava presentes de Bela. Como podiam esperar presentes de uma mulher que salvaram de viver na rua?

Linda não conseguiu dizer nada, sentia-se enredada como um mosquito na teia de aranha. Não conseguia concordar com o casamento, mas ao ver a irmã tão mudada e tão feliz, como há muito não a via, desistiu de evitar o casamento.

Linda desde que reencontrou-se com a irmã sentia que o mundo se tinha virado do avesso, Bela nunca esteve tão pobre e estava mais feliz do que nunca, mais do que alguma vez esteve quando tinha tudo o que desejava. Ela que só queria saber das coisas mais caras e com melhor qualidade. Ela que fugia de mendigos e que dizia que as pessoas só eram pobres por falta de esforço... Linda ainda estava zangada com o mundo por Bela viver durante meses nas piores condições possíveis e nem ter ajuda da empresa que se sacrificou tanto. Transformou-se de uma forma que ela não reconhecia e que tinha medo.

E depois de casar com Harta, o que faria? Ficaria a viver ali em Padang com o seu lenço e apartamento minúsculo?

Linda estava mais do que confusa com toda aquela situação. Bela parecia pensar apenas num futuro: quando entregasse o relatório ao seu chefe. Tudo o resto eram dúvidas, ficar ou partir, o que fazer no que trabalhar. Só parecia ter uma certeza que não queria ficar longe de Harta. Logo ela que sempre fora tão racional e ambiciosa. 

Foi ao pensar nisso, quando elas estavam a voltar para o hotel depois do jantar que Linda perguntou:

– Depois de casares com o Harta, vais viver aqui em Padang?

Bela arregalou os olhos, via-se bem que não sabia o que responder, como Linda previu.

- Não sei... – desviou o olhar –, mas primeiro quero acabar o relatório e entregar ao Dr. Gonçalo. Era tão bom que Harta visse Portugal! Ele de certeza que iria se apaixonar! Sabes ele aprende muito facilmente línguas? Ele é incrível! – sorriu com ar de apaixonada.

- Eu trouxe o meu portátil comigo se quiseres podes acabar o teu relatório nele. – respondeu a fugir do assunto.

- A sério?! É claro que quero! Não tem sido nada fácil trabalhar e escrever o relatório. Eles não tem computador e os computadores do meu trabalho não tem acesso a todos os Websites, enfim uma aventura. Eu sabia que no momento em que chegasses tudo ia mudar. Linda, tu salvas-me sempre!

«Nem sempre» pensou Linda com amargura.

Investigação na IndonésiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora