45. O Beijo

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Estavam com falta de dinheiro, mas Samir queria que Batari ficasse em casa. Ela ficou muito desanimada com o incêndio da casa e, por vezes, começava a chorar do nada. Ela que costumava falar muito mais do que Samir andava calada, distraída como vivesse num mundo só seu. Portanto, ficou decidido que ela ficava em casa e Harta, Bela e Samir iam trabalhar. Os seus trabalhos ocupavam todo o dia, por isso, só voltavam na hora de jantar.

Samir conseguiu um trabalho na copa de um restaurante.Era simples e pagavam pouco, mas era um trabalho que Samir sabia fazer bem. Talvez, com tempo, conseguisse chegar a ajudante de cozinha. Harta estava entusiasmado com o seu trabalho no condomínio, mesmo que fosse apenas limpar vidros pagavam mais do que um trabalho normal. Até porque ele tinha de trabalhar com cordas e andaimes, o que tornava mais perigoso e, por isso, o ordenado tinha de ser melhor. 

Apesar das boas notícias, eles não tiveram tempo para comemorar. No entanto, parecia que Deus tinha olhado por eles, como Samir tinha dito a Harta. Bela aproveitou o pouco dinheiro que Harta lhe deu para comprar um caderno enquanto ia para o hotel.

Depois de jantar Bela estava a escrever no seu caderno novo. Já fazia mais de uma hora que estava a escrever sem parar quando Harta, que a observava impaciente, perguntou:

– Que tanto escreves nesse caderno? – olhou-a desconfiado – não me digas que é outra vez aquilo?

– Exatamente. Estou a escrever o que me lembro das investigações para o relatório sobre a plantação de óleo de palma.

– Ainda estás a insistir nisso?! – Harta estava chocado – Sabes o que aquela gente é capaz e depois de tudo o que te fizeram ainda continuas a trabalhar para eles! – Harta ergueu as mãos.

- É a minha maneira de me vingar deles! – Bela deixou a escrita e enfrentou-o – não percebes?

– Não, não percebo essa estranha vingança! – Harta estava a gritar e agitar os braços – O que eu percebo é que eles revelaram bem o tipo de gente que são! O que eu percebo é que a nossa casa estava a arder logo a seguir de lhe recusarmos a venda! Tu sabes que a culpa é deles. O que eu percebo é que são gente perigosa que não podemos impedir ou lutar contra eles!

– Exatamente por isso! Não se faz o que eles estão a fazer! A única forma que posso lutar contra isto é acabar este relatório...– Bela gritou de volta – já pensaste que a tua família não é a única a sofrer com isto? Posso parar os incêndios, ajudar as pessoas que estão a sofrer a trabalhar para a Global, posso reaver a meu orgulho e ganhar muito dinheiro com isto!

» Além disso, não é Global que está a fazer isto, são os seus empregados. Porque são as pessoas que cometem crimes, não empresas. O problema é que as pessoas escondem-se atrás de empresas para fugir à responsabilidade dos seus crimes. Isto precisa de acabar! A forma de acabar é falar com os dirigentes da empresa sobre o que está a acontecer. Para isso preciso de provas e de soluções.

– Mas pensas mesmo que isso vai resolver alguma coisa? – Harta começou a falar mais baixo – Tu preocupas-te demasiado com uma empresa em que nem sequer trabalhas!

– Acredito. Não é pela empresa, mas por todas as pessoas que dependem dela. Mais importante ainda, para evitar que isto volte acontecer. Eu sei o que estou a fazer. Acredita em mim.

Eu acredito em ti, não acredito é neles. Tenho medo que eles façam-te alguma coisa...– sorriu timidamente para Bela.

Bela agarrou-lhe o rosto entre as mãos e beijou-lhe a testa. Ela sabia que ele estava a cuidar dela, à sua maneira. Ele fechou os olhos como quisesse sentir intensamente aquele pequeno beijo. Como Harta era mais alto do que ela ela teve de se colocar em bicos de pés para beijá-lo na testa. Ao baixar-se passou com o rosto perto da boca de Harta e sentiu a sua respiração a conter-se. Num impulso, ele puxou-a para si e contemplou o seu rosto devagar como se estivesse a saborear um momento que nunca mais iria repetir. 

Harta tinha um tom moreno, cor de café com leite linda, olhos negros e cabelo da mesma cor. A harmonia do seu rosto, onde tudo se encaixava perfeitamente, era o que o tornavam tão atraente. Naquele dia ele não tinha barba e nem se notava que podia crescer na sua cara, suave mas claramente masculina. 

Os seus lábios não eram muito finos, dava vontade de morder principalmente o lábio inferior. Harta pareceu ler os pensamentos de Bela e aproximou os seus lábios aos dela, roçaram brevemente. Bela já não conseguia resistir mais. Ela aproximou-se e colou os seus lábios aos dele. Ele estava mais do que receptivo e beijou-a suavemente, devagar e provocante.

Toda a resistência e toda a ilusão que estava com ele apenas por ser conveniente desapareceu. Ela estava com ele porque o seu coração lhe ditava. O seu coração sentia-se agitado e calmo, como se sempre pertencesse naquele abraço, mas a querer saltar do seu peito para fugir daquele sentimento que a deixava tão vulnerável.

Investigação na IndonésiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora