A frase não tem poder de me parar, o discurso era velho, ultrapassado, gasto.
Ele sempre dizia essas coisas.
Por Damien ser essa pessoa, eu jamais, nem por um segundo, abaixava a guarda. Ser um irmão estava de bom tamanho para mim, mesmo que meu coração dissesse o extremo oposto. Atravesso o corredor em silêncio quando ouço o som da cerâmica se partindo contra o chão, o barulho me faz virar a cabeça. Minha caneca em pedaços não muito longe de onde eu estava.
Dou um passo adiante, meu coração acelerando sem consentimento.
Merda, merda... o meu presente.
– Ele estava ouvindo. Damien ele se escondeu para nos escutar.
Não olho para Damien, eu simplesmente encaro o chão. Cada caquinho branco pelo piso refletia muito de como eu me sentia vendo aquilo.
Meu presente de seis meses era especial.
– Caio – é a voz de Damien que soa próxima e me faz levantar os olhos devagar.
– Me desculpe – pisco algumas vezes, tentando recobrar a voz. Eu não sabia porque a caneca me feriu, mas ela o fez. Eu segurei a respiração bravamente e tentei não parecer mais chocado que estava.
– Está tudo bem – respondo.
– Me desculpe, mas você poderia sair por algum tempo? Algumas horas. Eu só preciso resolver as coisas com Camila.
– Como é? – ele olha para trás e logo se volta a mim.
– Daqui algumas horas eu e ela vamos ao evento dos veteranos. Você ia com Lucas, certo? Pode nos dar um momento de privacidade aqui para... resolvemos as coisas?
Me afasto um passo, atordoado.
– Preciso ir ao banheiro. Faça o que quiser.
Dou passos largos para longe, sentindo meu peito esvaziar.
Repito para mim, que aquela não era a primeira vez, aquele era meu melhor amigo, aquilo não tinha nada demais.
Eu podia sair e dar alguma privacidade, certo?
Jogo água no rosto e tomo um banho rápido, quando apareço na sala Damien e Camila estão tomando café. Tudo parece melhor para os dois.
Saio batendo a porta atrás de mim e torço para que Lucas esteja a caminho, ele ia me ajudar a limpar o apartamento, poderíamos ir ao evento mais cedo, ajudar os veteranos. Por sorte só preciso esperar cerca de 10 minutos para o carro do meu amigo estacionar no parapeito da calçada. Me enfio no banco do passageiro sem dar tempo algum para que ele botasse um pé para fora.
– Então a faxina... – ele começa enquanto afivelo o cinto.
– Damien pediu privacidade, sabe? Com a namorada – solto com naturalidade, sei disso. a voz é perfeitamente calma.
– Caio, eu... – meu amigo começa e preciso olhar para a janela, porque o tom vacilante de Lucas me faz pensar em coisas tristes, quase me fez vacilar com ele.
– Podemos chegar no evento mais cedo? – digo e Lucas entende, ele sabe bem sobre o quanto eu gostaria de falar qualquer coisa agora.
Ele é o melhor dos amigos que se pode ter.
O carro segue seu caminho e eu permaneço em silêncio por todo o trajeto até a faculdade.
O festival de cinema estudantil era como uma pequena feira organizada por nós para todos os alunos do campus. O evento servia para arrecadarmos fundos para nossos pequenos projetos cinematográficos e peças de teatro. Ao redor de todo nosso campus pequenas barracas ofereciam uma boa fotografia, jogos e comida barata.
YOU ARE READING
Oblíquo
RomanceCaio sabia, estar apaixonado era uma maldição que em nada parecia com filmes ou séries de TV onde tudo acaba em um lindo beijo cinematográfico, tudo o que ele conhecia depois de quatro anos amando em segredo seu melhor amigo, Damien, era a longa lis...
A barraca do beijo
Start from the beginning