Experimento Apocalipse (Catradora)

3. Conexão

Autora falando

Vamos sofrer mais um pouquinho? Não? Sim? Enfim, tá aí!
Ponto de vista de Adora dessa vez.

Obs: Essa She Ra não tem poder de curar ninguém, só à própria Adora, e nem tanto assim.

Fim da autora falando

* * *

Faziam alguns minutos desde que começara sua trilha do acampamento até o centro da cidade. Adora estava sozinha. Também não avisou nenhum de seus amigos, ainda adormecidos no primeiro horário da manhã. Sabia que se houvesse alguém acordado, seria Glimmer, para suas vídeo-chamadas matinais com a líder da Aliança sobre atualizações de status dos grupos globais. Líder e também mãe, o que com certeza resultaria em conversas mais longas e preocupadas com a jovem de cabelos lilás.

Adora, afinal, não precisaria de ajuda. Não quando podia virar She Ra a qualquer momento. E também não era uma missão, pelo menos não de seu grupo. Era algo pessoal.

Desde o reencontro inesperado com Catra, passaram-se dois dias. Dois dias sem dormir, dois dias sem se concentrar em qualquer outra coisa a não ser àquela breve troca de olhar. Tinha tanta coisa para perguntar, tantos anos para pôr em dia sobre a vida, sobre o ZM-H, sobre tudo. Por isso estava, em passos largos e ansiosos, a caminho de um lugar que facilmente poderia ser encontrado o bilhete que carregava consigo, em uma linguagem que só ela e Catra entendiam. Na época do orfanato, inventaram alguns códigos entre si para que pudessem conversar inclusive em horários proibidos pela Shadow Weaver, sobre tópicos igualmente ilegais. Adora iria deixar em um mercado no centro da antiga cidade, local frequentemente saqueado pela Horda.

Não ficou mais que alguns segundos. Colocou o bilhete em uma das prateleiras de produtos já degradada e voltou para seu acampamento.

Não sabia se a equipe inimiga estaria ali temporariamente, como a Aliança, ou se era fixo. Rezava para que sua antiga colega de quarto ainda fosse naquele local e achasse seu bilhete. Nessa missão, não fez cálculo, não pensou em estratégia e nem em probabilidades. Apenas deixaria seu recado e contaria com a sorte para que, um dia, fosse visto.

Também não pensara em quando voltaria para conferir uma réplica. Mais dois dias seriam o suficiente? Três, talvez? Aliás, por quanto tempo o seu próprio grupo ficaria ali até ter que ir embora?

Adora já balançava as pernas aflita com a possibilidade de partir sem encontrar Catra. Iriam se separar mais uma vez.

– Pessoal, vamos ficar por mais alguns dias aqui nesse acampamento – Glimmer saiu de uma das barracas e disse enquanto caminhava para perto do pessoal reunido.

Nem todos estavam ali, mas o recado da líder facilmente chegaria aos não presentes, através dos outros. Adora pôde ouvir, apesar de estar um pouco distante e fora da conversa grupal pré-anúncio.

Levantou-se em uma euforia que não conseguiu disfarçar. Seu sorriso e animação comemorada com um soco no ar não foi entendida por ninguém, muito menos por Glimmer.

– Por que a euforia? Tem algo de bom nisso, Adora? – A líder perguntou com as mãos na cintura, arqueando uma das sobrancelhas.

– Eu... – Adora pausou e fitou os amigos que aguardavam uma resposta. – É que tive uma intuição... She Ra teve uma intuição de que iríamos ficar, e eu comemorei por estar controlando melhor os poderes. Não estou feliz pelo cenário, claro que não, é só por essa questão pessoal mesmo...

Era péssima em disfarçar, contava com um bom argumento nesse caso.

Ainda que tenha coçado a nuca em um sinal de desconforto e desviado o olhar enquanto falava, foi convincente. E soube disso quando recebeu, inesperadamente, o abraço de uma Glimmer sorridente e um Bow festivo. Eles sabiam como o processo de lidar com os poderes era um grande desafio para ela. Qualquer passo, qualquer vitória era motivo para prestigiá-la. Adora sorriu, aproveitando aquele abraço triplo que não sabia que precisava até receber. Os outros integrantes também sorriram para ela. Cada dia mais confiavam em seu poder, em sua grande contribuição para Aliança. Weaver a disse que iria ser algo grande, certo? Ela desejava, mais que tudo, que fosse mesmo.