Não está rolando

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A primeira vez que Giovana subiu ao palco para cantar um solo ela tinha seis anos

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A primeira vez que Giovana subiu ao palco para cantar um solo ela tinha seis anos. Essa era uma lembrança que a garota guardava com os mínimos detalhes. Ela se lembrava de que estava usando um vestido rodado amarelo, uma meia calça branca e sapatinhos pretos envernizados. Se lembrava do penteado que sua mãe tinha feito quando estavam no camarim do auditório da escola e de como ela dizia sem parar o quanto Giovana estava linda.

A garota campos também se lembrava da pulseira bonita e delicada, de ouro branco com pedrinha vermelhas, que o pai lhe dera e que atualmente estava guardada com todo cuidado na sua casa em Belo Horizonte. Giovana se lembrava de como Rosângela e José Campos a abraçaram ainda nos bastidores e lhe disseram o quão orgulhosos estavam, apenas por ela ter tido a coragem de aceitar subir ao palco, sozinha. Eles a deixaram nos bastidores e disseram que estariam vendo tudo da plateia e que sabiam que ela seria perfeita, errando ou não.

Giovana se lembrava de ter sido guiada até a coxia por uma professora e de esperar o momento em que seu nome fosse chamado. Ela sentia suas mãos suando, o rostinho esquentando, o estômago gelando e o coração acelerando, demonstrando o quão nervosa ela estava. Antes de caminhar para o centro do palco ela respirou fundo e pegou o microfone, que parecia enorme em suas pequenas mãozinhas.  Já no centro, a garotinha encarou a plateia, mas foi cegada por uma luz forte, antes de conseguir achar seus pais.

Ela tinha consciência de tudo que estava acontecendo em sua volta. Cada barulhinho, risada, tosse, cochicho, passos nos bastidores, movimentos na coxia. Tudo. A pequena garota em chamas olhou o microfone, nervosa, e fechou os olhos tentando esvaziar sua mente. Ela sabia que não tinha problema, que se ela errasse estaria tudo bem e que se quisesse podia até mesmo pedir para desistir, mas ela não queria. A pequena Giovana já sabia que cantar era a melhor coisa do mundo para ela.

E quando a melodia começou a ecoar pelo ambiente, vindas das caixas de som, e tocaram seus ouvidos, tudo se calou. Foi como se ela tivesse sido transportada para uma dimensão onde só existiam ela e a música. A garotinha em chamas abriu um sorriso, maravilhada por estar tendo aquela sensação de ser abraçada e envolvida por um sentimento inebriante e realizador. Giovana começou a cantar e soube que não queria fazer outra coisa na vida. Seu coração se encheu de paixão e ela sentiu toda a sua completude.

Depois desse momento, em todas as outras vezes que ela tivera que subir ao palco, a menina ainda sentia que borboletas brincavam na sua barriga e sabia que o coração acelerado denunciava um pequeno nervosismo, só que ela não tinha mais medo. Ela sabia que ao escutar os primeiros acordes da canção que fosse cantar, de novo tudo o que existiram no mundo seriam ela e seu dom, e nada mais.

Tinha sido assim até quando a garota subira ao palco na semana passada, na noite que fora desafiada por Maria Luísa. Giovana Campos, que naquele dia ainda se sentia perdida, estava muito nervosa e apavorada, mas ao ouvir os primeiros acordes, de repente pareceu que nada mais importava.

E era por isso que Giovana simplesmente não entendia o motivo de não conseguir soltar a voz no ensaio. Aquilo não estava rolando e ela, assim como todo mundo, tinha certeza disso.

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