Sob o mesmo sol

Prólogo - Um dia antes das férias

A última aula do terceiro ano havia acabado. Sentada no ônibus para minha casa, não consegui parar de pensar que era o fim de uma era. A escola tinha terminado e eu me sinto meio perdida, meu plano é cursar medicina, mas o Enem não foi tão legal quanto eu pensei que seria. Então eu preciso deixar todo esse sentimentalismo de lado e focar nos meus estudos. Meus planos para as férias são bem simples, estudar e esquecer meus sentimentos pelo Thiago, não é nada impossível, eu tenho certeza que vou conseguir. Já passou mesmo da hora de esquecer esse amor infantil pelo meu melhor amigo.

— Laura? — ouço a voz conhecida me chamar e ergo os olhos meio sobressaltada, como se ele pudesse ler meus pensamentos e saber sobre o que eu estou pensando. O rapaz se senta ao meu lado e eu tento não ficar o olhando fixamente. A pele de Thiago está cada vez mais bronzeada, além disso, consigo ver os resultados da musculação em seu corpo. Antes um menino magrelo, agora estava parecendo cada vez mais um homem. Os cabelos cacheados e escuros estão bem cortados e os olhos castanhos parecem sempre cheios de empolgação. Me esforço para não suspirar como uma daquelas garotas idiotas de filmes adolescentes.

— Thiago. — Forço meu sorriso mais convincente, será que é possível que ele sempre esteja tão bonito? O cheiro do perfume que Thiago usa sempre me deixa meio desnorteada, não é ruim, muito pelo contrário, mas não me ajuda na minha tarefa de esquecê-lo. Endireito a postura, tentando não reparar como meu melhor amigo fica bonito na farda do novo trabalho.

— Como foi no trabalho?

— Foi tudo tranquilo, como é minha primeira semana eles me liberaram cedo hoje, foi só mais uma parte do treinamento. — Thiago faz uma caretinha engraçada, ele já deve estar com preguiça do treinamento, aquilo me faz negar com a cabeça.

— Não reclame do treinamento, vai precisar dele, você sabe disso. Aliás nem te conto, meus pais disseram que hoje querem conversar, passei a manhã pensando no que eles estão inventando. — confesso, deixando uma risada baixa escapar e Thiago ri também.

— Conhecendo eles, com certeza estão aprontando algo. — Thiago dá de ombros e eu suspiro, não tenho dúvida alguma de que meus pais vão me pedir algum favor mirabolante. Apesar disso, sorrio, não tenho do que reclamar, eles são ótimos.

— Minha vida não teria graça nenhuma sem eles, tenho pais mais divertidos que eu.

— No fim eu não posso discordar, eles são mesmo mais legais que você. — Ele me provoca e eu reviro os olhos, mas tenho um sorrisinho de canto em meu rosto. — Chorou muito no último dia?

— Você me conhece, sabe que eu sempre choro. — Dou de ombros, enquanto balanço as pernas. — É meio que o fim de um ciclo, é estranho.

— Relaxa, se sua sala for tão unida quanto a minha você ainda vai ver a maioria deles. — Thiago sorri e eu me forço a não pensar em como seus lábios carnudos são convidativos, ou como os dentes são perfeitamente brancos e alinhados. Ele tem namorada e eu não devo ter pensamentos patéticos como esses. Eu o conheço desde que era uma criança catarrenta e magrela, me defendendo dos garotos mais velhos que eu, não existe um motivo racional para estar apaixonada. Então aquele sentimento ia sumir, nem que eu tivesse que operar um milagre.

— É estranho, eu nem gosto de todo mundo, mas já tava acostumada. — Dou de ombros, então observo a janela. O ônibus entra na avenida Santos Dumont e eu me levanto. — Passa lá em casa pra ver série no final de semana, ok? Os meus pais vão viajar pra França e com certeza vão querer te ver antes de ir pra desejar feliz natal.

— Claro, a Duda vai sair com o pessoal da faculdade, vai ter um aniversário, então eu vou estar livre.

— Fechou então. — sorri, não me abalo mais com os comentários de Thiago sobre a namorada, no começo havia sido um inferno, mas depois de um tempo me acostumei. Ele me dá um abraço meio desajeitado, quando me solta, aperto o botão para o motorista saber que vou descer. — Tchau. — Aceno, antes de descer.