O vigésimo primeiro dia das férias

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Thiago

No começo eu adorava ir para o trabalho todas as manhãs, as condições eram ótimas e o salário legal. No momento, já não gosto tanto quanto antes.

Sentado em minha mesa, estou fazendo uma coisa ou outra de atualização na segurança de dados da empresa.

- Thiago, meu chapa! - meu chefe se aproxima de mim e eu respiro fundo, tentando não demonstrar nenhuma reação, exceto simpatia.

- Oi, seu Fábio - respondo olhando meu chefe. É um homem no auge de seus trinta e cinco anos. Seus cabelos são castanhos com alguns fios brancos, ele é alto e tem olhos claros, mas nunca prestei muita atenção na cor.

- Tô vendo aí que tu não tá fazendo nada, queridão, você pode ir buscar minha filha na escola pra mim? - ele pergunta. O seu Fábio usa aquele tom amigável, mas se eu dissesse não, provavelmente geraria uma situação chata entre nós. O mais engraçado é que ele só faz isso comigo e eu ainda não entendi qual é a dele - Ah! Se puder pegar meu cachorro no pet shop também, fico muito agradecido, são só algumas quadras e com certeza você consegue rapidinho.

- Claro, senhor - digo, fazendo o que posso para esconder meu desgosto com aquilo. Levanto e pego as coisas que preciso, andando para fora dali. Eu posso pedir demissão se quiser, a situação financeira da família está boa, mas eu não quero causar problemas. Meu irmão tem dado muita dor de cabeça para todo mundo e eu sinto que, como irmão mais velho, preciso fazer tudo perfeitamente, não quero que meus pais tenham mais um motivo de preocupação. Pedir demissão do trabalho e ter que explicar tudo isso, deixá-los preocupados, não está nos meus planos, prefiro apenas aguentar.

Pego a minha carteira e saio dali, a escola não fica muito longe e a filha do Fábio já me conhece, afinal, eu estou buscando ela constantemente.

- Oi, o senhor veio buscar a Antonella? - o segurança da entrada pergunta para mim e eu faço que sim com a cabeça. Ele já me conhece, o seu Fábio já havia autorizado eu buscar a menina lá das outras vezes que eu tinha ido, depois de tantas autorizações, já nem perguntavam muita coisa.

- Oi Ella - aceno para a menina, que corre até onde estou. Os cabelos cacheados e claros estão uma bagunça, ela é alta para a idade e é bem falante.

- Thi! - ela sorri e me entrega a mochila, eu pego para carregar. A casa realmente não fica distante, eu só não consigo me sentir confortável com a situação. Antonella é um amor, mas eu não devia ter que me responsabilizar por uma criança de sete anos.

- Oi princesa, vamos pegar seu cachorrinho e depois vou te levar em casa, ok? - Antonella faz sinal de legal com os dedos, caminhando junto de mim.

Na primeira vez que o Fábio pediu para eu buscar a filha, eu não vi muito problema, achei que seria algo de uma vez e nunca mais, só que foi ficando cada vez mais frequente e atualmente pelo menos três vezes na semana eu acabo responsável por isso, ou por outro dever dele. Buscar a filha, buscar o cachorro, pegar resultados de exame no médico, no pouco tempo que trabalho na Info Tech, já até comprei o presente de aniversário de casamento, ou algo do tipo.

- Hoje eu aprendi mais sobre os números! Você sabia que dez mais dois é doze? - conta empolgada e eu rio baixo.
- Eita como você é sabida! - ela ri, me mostrando a janelinha nos dentes e conta que arrancou o dente sozinha. Vou conversando com a pequena e logo nós buscamos o cachorro, ele já não gosta tanto de mim quanto a Antonella, pelo menos nunca me mordeu. Imagino que a mordida de um Husky doeria bastante.

Caminho, ouvindo todos os acontecimentos da escola que Antonella consegue me contar na breve caminhada, ela é uma menina muito doce e é uma pena que o pai ache que é tão ocupado que não pode buscá-la na escola.

Sob o mesmo solOnde as histórias ganham vida. Descobre agora