Maresia

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Um berro escapou da boca de Nico. Com certa dificuldade ele conseguiu se desvencilhar do abraço de urso que o rapaz lhe infringia. Atordoado, assustado ele recuou; cambaleando com passos incertos para o mais longe possível. E por pouco não pisando nos cacos de vidro sobre o chão.

O homem se apoiou no dorso do sofá. Soltando um arfo pela boca. Encarava Eco com estranheza. Processando toda aquela loucura. E inevitavelmente se perguntando o que diabos ele queria dizer com “papai”.

O pingente ainda estava preso ao seu pescoço e reaquecia seu peito. As duas metades unidas. A cordinha que envolvia o pescoço de Eco pendia em sua barriga. Apesar do cordão arrebentado ele parecia bastante feliz; com os dentes arreganhados em um sorriso.

— P-Percy... Ele. Ele falou de mim?

Nico esboçou um sorriso nervoso, como se os braços ainda o apertassem. Era a única explicação possível. O pai dele, Percy, havia contado sobre eles. Sua história. Imaginar lhe causava estranheza.

— Contou, contou sim. — Eco confirmou. — Falou tudo sobre você...

A voz do rapaz vacilou. Ele massageava o pescoço marcado, ao ver que seu cordão pendia do pingente de Nico. Havia o brilho, verde e sutil, que seu pai Percy prometeu que teria.

— Sobre mim?

Nico espantou-se. E o jovem tritão assentiu brevemente.

— Sim. E falou que o pingente me guiaria até a outra metade. E quem estivesse com ele seria o meu pai. Que ele nunca se desfaria o presente. Seu nome é Nico, não é? Nico Di Angelo...

Os olhos do jovem brilhavam eufóricos.

Os de Nico se arregalaram. Era muita coisa acumulada. Muito a se processar; a ideia do retorno de Percy. Não encontrá-lo. E sim um jovem, seu filho. A desconfiança, a traição, sua insatisfação com suas criações.

Seu corpo pendeu para trás. O mundo se inverteu e girou em câmera lenta. Antes de tudo escurecer.

Nico despertou um tempinho depois. Estatelado no chão. Recebendo tapinhas no rosto.

— Pai, pai, pai. O senhor está bem? 

A voz esganiçada de Eco chegava aos seus ouvidos. E mais tapas em seu rosto.

Nada comparado ao que era desferido cada vez que ouvia aquela palavra saindo da boca do jovem.

Era um pesadelo. Nada daquilo era real. Nada aconteceu naquela noite. Ainda estava deitado na sua cama. Parecia um pouco mais dura, mas dessa vez se recusava a abrir os olhos.

— P-Pai...

O rapaz sussurrou. Parecia assustado.

Nico suspirou e se sentou de supetão. Quase batendo a cabeça na do jovem.

— Eu não sou... — disse-lhe.

— Você está bem.

Eco exclamou em alívio. E o abraçou.

Nico estremece. E o afasta outra vez. E se levanta, mantendo uma distância segura.

Eco se levantou também. Os olhos negros brilhavam curiosos e confusos.

— O que houve?

— Nós... — Nico pigarreia. — Não temos o costume de abraçar estranhos.

Eco pisca os olhos. Encolhendo os ombros.

— Mas... Não sou um estranho. Sou seu filho. — Contrapôs.

— Impossível.

Nico grunhiu. Esfregando o rosto e os cabelos escuros.

— Porquê?

— Porque o que?

— Porque é impossível? — insistiu o tritão. Que não entendia o ceticismo do mais velho.

— Oras. — Nico torceu o nariz. Visivelmente incomodado por ter que explicar algo, aparentemente, óbvio. — Eu sou um homem. E se me lembro bem, Percy também era.

Ele murmurou. E o rosto corou um pouco, com imagens impertinentes.

Eco o encarou em silêncio. E franzi o cenho.

Algo que Nico fez questão de não olhar. Se recusava a ver alguma semelhança naquele gesto.

— Então, deixa eu ver se entendi direito, você lida muito bem com o fato do meu pai ser um tritão. Mas reage assim, não acredita que ele possa ter engravidado por ser um macho?

Nico engoliu em seco. Sentia o olhar queimando sua pele, fixo e intenso. Tentava achar algo para contra-argumentar, mas via-se desarmado. Haviam formas de vidas peculiares e segredos desconhecidos nas profundezas do mar.

— Como... Como isso é possível?

Perguntou. E pigarreou por conta da voz esganiçada.

Eco deu de ombros, simplesmente. Nunca se interessou por aquele assunto.

— Estou aqui não? — Ele sorriu tímido. — Treze anos depois. O encontrei. Com o medalhão da família.

Ele apontou para o peito do homem.

Nico mastigava aquelas informações e tentava engoli-las. A palavra “pai” se propagava em sua cabeça feito um eco.

— estou com fome.

Eco disse simplesmente. Massageando a barriga.

Nico apontou vagamente em direção a cozinha. Pedindo que o garoto o seguisse. Iria disseca-lo em busca de informações.

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Quebra-MarWhere stories live. Discover now