Preamar

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Não era o Percy.

Nico percebeu assim que de aproximou o suficiente para distinguir a silhueta em meio a penumbra. Era iluminado pela luz fraca que emanava do pingente caído na areia.

Era novo demais. O cabelo escuro caia-lhe sobre a testa feito um véu de retalhos. Havia uma expressão em seu rosto, contorcido, como se sentisse dor no momento em que apagou. Estava manchado de sangue, que vertia de um corte na bochecha.

Nico se agachou para vê-lo melhor. E viu algo em sua cabeça, de início pensou que fosse um chifre, mas era só um galo muito grande. Ele respirava, o peito subia e descia em um ritmo indefinido. E se não fosse pelas três fendas no pescoço, onde se ocultavam as brânquias, pensaria que se travava de um jovem; que fora idiota o suficiente para pular do píer e mergulhar, muitos jovens faziam isso, como um rito de passagem. O que o levaria a pensar nisso era o fato de que o rapaz não possuía um cauda longa de peixe, como a de Percy. Apesar dele estar em contato com a água, as ondas lambendo seu corpo nu.

O Di Angelo focou na origem do brilho verde. O pingente caído ao lado da cabeça do rapaz, preso a uma espécie de cordinha escura. Pegou o objeto em suas mãos como se fosse uma bomba prestes a explodir; Um pedacinho de metal, um arco partido, um meio tridente cravejado. Idêntico, ao inverso, do que carregava no peito. Se curvou e só para ter certeza os encaixou. Os pedaços se uniram perfeitamente.

Nico pressionou o pingente completo contra o peito, com força, com um arquejo engasgado. Se perguntando quem era aquele? E onde estaria o dono do colar, onde estaria Percy?

Sentiu os olhos úmidos. A maresia pinicando seu rosto. O vento e a chuva assobiando.

Porque agora?

Porque do medalhão? Porque o chamado?

Um gemido o trouxe de volta a realidade. Um espasmo no corpo adormecido.

Nico se estapeou por se distrair. O jovem estava desmaiado. O espasmo não era mais que um tremor continuo. A noite era de um frio solido e cortante, a chuva ainda caia. Diferente dele, Nico estava agasalhado.

Nico o arrastou para longe da água e o cobriu precariamente com seu casaco.

Tateou os bolsos da calça e só quando sentiu o contorno duro do celular percebeu que não poderia fazer o que pretendia. Não poderia ligar para ninguém.

Afinal, como explicaria as guelras? As membranas entre os dedos? As escamas que subiam das mãos para o pulsos, dos pés estranhos até os tornozelos? Mesmo com elas sumindo aos poucos, agora longe da água. E se aparecesse algo nos exames?

Por não saber o que fazer, e ver-se sozinho com o problema, Nico o pegou no coloco. E o carregou até o carro. E porque precisava saber. Precisava saber de onde ele tinha vindo, já que suas características era diferentes. Onde conseguira o pingente?

Nico quis gritar, quis chorar, mas continuava apático pela desilusão. Por alguns minutos perdeu-se em pensamentos. Apertando o volante com força, os olhos vidrados na tempestade que se desenrolava lá fora.

E mais uma vez o rapaz o trouxe de volta, com um gemido sôfrego. E o fez dirigir pelas ruelas da cidade costeira, sem a pressa que usara minutos atrás, agora pareciam horas.

Quando Nico estacionou o carro na garagem, o espiou pelo retrovisor; continuava deitado nos bancos traseiro e desacordado

O homem carregou o jovem da garagem até a sala de estar. Não era tão pesado quanto parecia e não custou nada além de uma topada no canto da parede. Assim que o deitou no sofá correu para o quarto, pegando cobertores largos e o aquecedor para esquenta-los.

Em silêncio observou o ranger dos dentes e o tremor do rapaz diminuírem.

Nico se acomodou na poltrona. Ignorando sua camisa enxercada. Refletia sobre diversas hipóteses e suposições equivocas que explodiam em sua cabeça. Observava o rapaz adormecido com o rosto contorcido em uma incógnita.

Quem é ele?

Apesar do pingente de Percy estar ali, diante dos seus olhos, dúvidas e mais dúvidas se acumulavam em sua mente inquieta. Onde Jackson estaria? Aquele rapaz o acompanhava? Eles se separam? Ele roubou o colar de Percy?

Uma vozinha de seda ronronava em sua cabeça. Surrando docemente que Percy nunca estivera tão distante como agora.

E agora – mais calmo, se é que isso era possível – a esperança de rever o tritão nada mais era do que uma idiotice inalcançável.

Percy dissera que não voltaria. Não com palavras. Mas a afirmação estava gravada nas entrelinhas dos seus olhos verde-mar. E os olhos era a única parte do seu rosto que continuava viva nas memórias do homem.

Nico se voluntariou a esperar, não Percy. E agarrou-se a isso. Percy desejava que ele seguisse em frente, francamente! Ele não fizera isso devidamente.

O Di Angelo balançou a cabeça. De nada adiantaria pensar nisso agora, embora fosse difícil. O pingente fora a pedra atirada num lago muito quieto. Afundando, batendo no fundo e fazendo se elevar as sensações e esperanças que tentava manter no fundo. Ele focou sua atenção no jovem estranho. Reparou-o melhor. E sob a luz do abajur parecia ainda mais jovem do que imaginou: um pré-adolescente, nada mais que isso. As escamas cinzentas sumiram completamente dos seus braços e pernas. Tal como as membranas que ligavam seus dedos. As fendas no pescoço haviam sumido. Eram riscos vermelhas, algo como cicatrizes de um feio acidente. O corte que havia limpado não mais sangrava, o galo continuava igual, pontilhando a cabeça.

Quanto mais o observava mais semelhanças pescava.

Os cabelos escuros e desgrenhado. A forma do queixo e a boca. Sutis semelhanças, apesar da pele amorenada. Nico se questionou se ao abrir aqueles olhos se depararia com tons intensos de verde.

Seria seu irmão mais novo? Um primo? Algum parente?

Perguntas e mais perguntas que lhe davam dor de cabeça. Apesar do cansaço, Nico sabia que não conseguiria pregar os olhos outra vez. E começou a se perguntar sobre o horário. Pois a sala começava a se iluminar, algo além das proporções de um pequeno abajur. O sol nascia, se esgueirava para dentro da casa, afirmando que não se tratava de um sonho esquisito.

Dando uma última olhada no rapaz, ele de retirou do cômodo.

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Quebra-MarUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum