Balanço

436 50 16
                                    


🌊🌊🌊

Até chegar a fazer, Nico não percebeu que precisava fazer uma vídeo chamada até cumprir a promessa feita mais cedo, no café. Que precisava falar com seus sobrinhos, vê-los e conversar minutos a fio com os pequenos.

Fez uma nota mental para visita-los. E tal como a chamada cumpriria sua palavra. Aproveitou, até, e ligou para sua irmã mais nova, Hazel. Que hoje morava na China, com seu marido.

Ele deitou cedo aquela noite. Estava se sentindo um pouco cansado. A mente improdutivo fervilhando com a visita da sua irmã. Pensando em Will e sua língua enorme e cuidadosa.

O bairro era silencioso e calmo. Na esquina, virando a esquerda, além da ladeira, via-se o oceano. Foi a melhor localização que conseguiu encontrar. Era como se praticamente tivesse a praia como quintal e o som das ondas em embalos o alcançavam. Era como um ninar.

Percebeu, enquanto ainda repassava sua conversa com a irmã, que ela evitava falar o nome; Percy, como sempre. Só o dissera uma única vez. Repetiu-o, após Nico contar-lhe a história.

As vezes ele desejava que ela dissesse. Em alto e bom som. Seria bom ouvi-lo em outra voz, senão a sua e em seus pensamentos. Pensou também em seu ex, Will Solace. E se ele já teria tirado as coisas do seu apartamento.

Inquieto. Foi assim que ele adormeceu e, como tal, despertou.

Nico acordou de um sono agitado, de repente. Como se tivessem ligado um botão, arrancando-lhe da dormência. Não fora a chuva, cujo as grossas gotas caiam como pedrinhas no telhado e nas janelas.

Fora pela quentura suave em seu peito. Que o trouxe de volta a consciência. Nico piscou e tocou o torso nu quase que imediatamente, encontrando ali o que esperava.

O pingente, que o tritão lhe dera antes de partir, preso em uma correntinha prateada.

Nico arquejou se sentando na cama. O pingente era um círculo platinado, com um tridente dourado encrustado no meio. Ou um dia fora pois ele só possuía uma metade. O que causou seu espanto foi o brilho, uma luz esverdeada e fantasmagórica, que refugia no seu quarto escuro.

O homem apertou o pingente com força. Sentindo o metal vibrar em sua palma, aquecido.

— Percy...

Ele balbuciou atordoado e repetiu o nome, antes de se levantar num salto quando a ficha caiu. Seu coração passou a espancar suas costelas.

“É você, é você, é você.”

Repetia mentalmente enquanto se enfiava dentro das roupas que encontrava no cabideiro.

Que outra explicação teria? Senão o retorno do tritão?

A última vez que o objeto brilhou daquela forma Percy mergulhara para as profundezas oceânicas. Há doze anos atrás.

Nico saiu as pressas de casa. No carro, ele ignorava a chuva e algumas prudências que deveria tomar no trânsito. Ciente de quão irresponsável estava sendo, deixando-se guiar pela incredulidade e impulsividade, e pela esperança que insistia em alimentar em vê-lo nem que fosse por um instante.

Ele dirigiu até a praia. Com o pé no acelerador. Os anos passavam como flashes diante dos seus olhos. Principalmente as vezes que tivera de fingir que Percy Jackson não era real.

Estacionou o automóvel de forma desleixada na orla. Correu ignorando a areia em seus pés, a chupa chapinhando sua cabeça. Encharcando suas roupas e fazendo seu corpo tremer de frio.

O mar estava revoltado. As ondas açoitavam a areia e o vento rugia como uma fera furiosa.

Nico olhava de um lado a outro, desesperado. Andando a esmo pela praia. Olhara o píer, onde o encontrara pela primeira vez. Lançava olhares onde Percy havia se refugiado durante os dias de fugitivo, mesmo que não conseguisse ver nada além do mar e sombras. Mas se perguntando “e se...”

A luz dos poucos refletores iluminavam precariamente o local. E Nico agradeceu mentalmente por isso. Pois na penumbra pode ver o brilho sutil e esverdeado, quando já começava a desistir e se achar um estúpido, ao longe.

O homem correu em plenos pulmões. O sangue pulsando em seus ouvidos. Se aproximando do corpo desfalecida, banhado pelo mar.

🌊🌊🌊

Quebra-MarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora