Montenegro

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Carmen

Meu filho mudou completamente a minha vida. Desde a gravidez ele transformou tudo que eu achei que fosse intocável em mim. Despertou medos antigos e me trouxe muitos novos com sua doce e pequena existência, ele e Isabel me ensinaram a amar incondicionalmente e já não consigo imaginar vida sem os dois.

As primeiras semanas foram caóticas. Se eu não conseguia dormir nos últimos dias de gravidez, depois que Rafael nasceu se tornou impossível. Ele chorava para mamar de três em três horas, certo como um relógio, nesse meio tempo eu também precisava cuidar de mim, fora suas fraldas sujas que, mesmo com Marta me dizendo que não precisava me incomodar com isso, eu fazia questão de mudar. O banho e a pequena manha que a Baronesa deixou no garoto com a mania de embalá-lo. Ou seja, o meu sono se resumia a três ou quatro horas diárias.

Isabel ficou ainda mais atarefada com a fazenda por conta da queima da plantação, tentava a todo o custo encontrar solução para sanar o grande prejuízo sem prejudicar suas propriedades, mas isso também nos tirava o sono.

Juntas passamos a aprender sobre a rotina do nosso filho. Ela dividia o tempo entre Rafael, eu e os negócios e eu dividia meu tempo entre os dois. Nossos momentos tranquilos como casal, agora tinham resmungos, choros de manha e fome, fraldas sujas e sorrisos bobos da minha parte e dela para cada nova traquinagem que Rafael aprendia. Nunca estive tão feliz e tão completa. O tempo correu e depois de pouco mais de um mês, nos adaptamos a rotina do recém nascido e eu, um dia ou outro, deixava Marta tomar conta dele sozinha para cochilar por algumas horinhas.

Lucília se tornou menos detestável, me respeitava mais e passamos a dividir a mesa nas refeições e limitar nossas conversas a um comprimento. Ainda não gostava da ideia de deixar meu filho com ela, não esqueci das coisas que me disse, mas sei que ela é como uma mãe para Isabel e passei a tolerar seu contato com Rafael.

Louis, assim que soube do acontecido, enviou uma carta para Isabel e salvou a fazenda. Ele definitivamente seria padrinho do nosso filho, era um homem incrível e graças a ele conseguimos dormir três horas tranquilamente nas noites que se seguiram depois de sua grande ajuda.

No dia em que Margot foi até a fazenda eu levei um grande choque. Não fazia três meses que nos vimos. Em sua última visita ela já estava diferente, abatida, mas agora, meu Deus, ela estava péssima. Olheiras fundas escondidas atrás da maquiagem, o corpo frágil e trêmulo, magra, era nítido que perdeu consideráveis quilos. Sua voz mudou também, estava mais ofegante e baixa, como se tivesse envelhecido uns cinco anos em pouco mais de dois meses, era completamente diferente da Margot que administrava o bordel quando eu saí de lá e isso me fez ter a certeza de que ela estava doente. O uso da bengala não tinha nada a ver com um tombo, seu corpo já não tinha forças para se sustentar sozinho.

Apesar da minha constante preocupação, nosso dia foi muito agradável e, por incrível que pareça, eu, Isabel, Margot e Lucília fizemos as refeições com conversas agradáveis sobre o primeiro mês de vida do nosso filho e o parto.

– Tu não imagina o tanto que essa mulher gritava por ti quando cheguei aqui. - A governanta contava para Isabel. Eu ri discretamente, a Baronesa abriu um sorriso largo e Margot se limitou a sorrir sem vontade. Estávamos na sala, há pouco havíamos jantado.

Lucília estava menos insuportável e contamos sobre aquela noite para as duas mulheres que não puderam estar ali, Margot ouvia em silêncio e se limitava a sorrir sem vontade, apesar da conversa, ambas não se encaravam. Eu entendia perfeitamente o que Margot sentia, mas Isabel se divertia e nós duas cedemos àquele momento.

– Eu estava preocupada com ela e com Rafael. - Justifiquei rindo.

– ¡La quiero aquí! - Lucília imitou meu sotaque recordando, Isabel ria sem parar e minhas bochechas estavam quentes de vergonha.

A Cortesã e a Baronesa - Livro IWhere stories live. Discover now