Permita-se Amar

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Carmen

Acordar na fazenda foi um susto, não ruim, mas um susto enorme. Eu ainda estava perdida, acordei desnorteada, sem saber onde estava e o que havia acontecido, mas depois de uma longa conversa com Margot, finalmente entendi que era isso ou... na verdade eu não tinha outra opção.

Quis ir embora assim que acordei, mas Isabel não deixou. Eu seria eternamente grata pelo que ela fez a mim, mas não queria ser um fardo em sua vida, sempre fui uma mulher independente e estar nessa situação me incomodava profundamente.

Com o passar dos dias as coisas iam se encaixando. Um clima tenso ficou no ar nos primeiros momentos, mas nenhuma de nós tocou no assunto de Petrópolis e graças a Deus ela não me perguntou nada sobre a gravidez, tampouco me julgou pela fracassada tentativa de interromper, era como se aquilo fosse um pequeno detalhe que temporariamente não vinha ao caso.

Fazia uma semana que eu havia acordado, meu corpo reagia bem aos remédios prescritos pelo médico, quase não tinha febre, mas ainda sentia dores que por vezes eram quase insuportáveis. Tomava o cuidado de não reclamar tanto, Isabel tinha seus compromissos na fazenda e sempre que eu lhe dizia das minhas dores ela deixava tudo de lado para ficar comigo e isso não era sua responsabilidade, me sentia culpada, mas confesso que tê-la tão perto me tirava dos eixos completamente, eu me sentia segura de uma forma que nunca me senti.

Era madrugada, Isabel dormia linda e tranquila na cama de solteiro improvisada ao meu lado, eu ficava encantada com o seu cavalheirismo. Nenhum homem jamais chegaria aos seus pés, ela era a melhor mulher em tudo o que fazia e mesmo quando tinha de assumir uma postura mais dura, cortês, profissional e séria, geralmente relacionada aos homens, ela era melhor que qualquer um deles.

Sorri observando-a pela luz da lua cheia que invadia as cortinas. Como eu sentia saudades dela, muito mais do que gostaria de admitir. Sentia falta do seu cheiro, do seu carinho, de dormir em seu peito depois de fazer amor, de fazer amor, coisa que eu nunca havia feito antes e era completamente diferente de sexo. Sentia falta de absolutamente tudo. Isabel invadiu a minha vida de uma maneira assustadora e a verdade é que nem me lembro quando isso aconteceu, as vezes acho que foi no momento em que à vi no bordel na primeira vez.

Suspirei, estava sentindo dores fortes, mas não queria acordá-la.

Aproveitei o momento só para pensar um pouco sobre tudo o que aconteceu nos últimos meses. Eu definitivamente não sou mais a mesma mulher que desceu as escadas do salão da primeira vez que nos vimos e nunca mais serei, eu achava que aquela mulher não era capaz de amar ninguém além de si mesma, mas então Isabel chegou e agora eu sinto que não sou mais capaz de viver sem amá-la, mesmo sabendo que era assim que eu teria de viver. E como se, por si só, isso não fosse o suficiente para desbancar de vez a minha pose de intocável, eu estou gerando uma criança e nunca estive tão assustada. Me sinto um cão acuado, escondido entre as sombras com medo de tudo e todos.

Eu que sempre soube de tudo, já não sei o que fazer. Me sinto culpada por não estar ao lado de Margot, me sinto um fardo na vida de Isabel, me sinto culpada pelo que fiz a mim mesma e por estar nessa situação e, por mais horrível que seja admitir, me sinto culpada pelo que fiz a essa criança inocente. Eu nunca quis ser mãe, mas também nunca quis ser semelhante ao homem que convivi durante os primeiros anos da minha vida. Sei que são coisas diferentes, mas sinto que causei a esse pequeno ser a mesma dor que ele me causou tantas e tantas vezes. Eu costumava não chorar, não demonstrar minhas fraquezas nem a mim, mas dessa vez eu apenas deixei algumas lágrimas teimosas molharem o travesseiro em silêncio.

Senti uma fisgada forte embaixo do abdômen, das dores que eu senti nessa última semana, essas pontadas repentinas eram sempre as que mais me deixavam desnorteadas e agora não foi diferente. Gemi mais alto do que pretendia serrando os dentes e os olhos com a dor.

A Cortesã e a Baronesa - Livro IМесто, где живут истории. Откройте их для себя