Cortesã

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Bjos

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CARMEN

Eu sempre tive fascínio por espelhos. Mamãe dizia, quando eu era criança, que eles refletiam nossas almas, mas não tenho certeza se gostaria tanto do que vejo se ele refletisse de fato a minha essência. Sorri quando pensei nisso, o sorriso maldoso que fazia todos caírem aos meus pés.

– Carmen. – Uma das meninas entrou em meu quarto chamando minha atenção. – Está pronta? Madame Margot mandou lhe chamar.

– Já estou indo, Querida.

Dei mais uma olhada no espelho e permiti apaixonar-me pela figura que ele refletia. Eu de fato tinha algum parentesco distante com Narciso. Gargalhei sozinha e acendi meu cigarro antes de enfim sair do quarto.

O espartilho muito bem apertado acentuava minhas curvas e a cor vermelha favorecia meu tom de pele. Diferente de todas as outras eu era dourada como ouro. Nas Pensões de Luxo daqui as putas em sua maioria são polacas, o que justificava o fascínio dos homens a mim. Meu tom de pele incomum denunciava minha identidade estrangeira à primeira vista, mas nada entregava mais a minha nacionalidade espanhola do que meu sotaque.

Apreciei do andar de cima o movimento. Como sempre a casa estava cheia de muitos Barões, Duques e velhos fazendeiros riquíssimos. Homens totalmente sem escrúpulos, fugindo de suas mulheres, filhos e a vida entediante que levavam e procurando aqui a ousadia que jamais admitiriam em suas casas. Há hipocrisia maior do que a ingenuidade e inocência que os homens exigiam em suas esposas? Duvido muito! Penso que exigem por sua masculinidade frágil, sabem que uma mulher sem essas qualidades que impõem não se sujeita a casamentos infelizes comprados com uma joia bonita ou um vestido caro. Única coisa decente que muitos deles são capazes de dar à elas. Umas coitadas. Por isso levo a vida onde me sinto livre para fazer as escolhas que bem quiser e estar aqui é, com certeza, a que mais tenho apreço.

Na passada de olho rápida pelo salão, escolhi a dedo os que aceitaria naquela noite, afinal, ser a Cortesã mais disputada do melhor bordel da Capital do Império tinha os seus benefícios e eu tirava o máximo de proveito possível de cada um deles.

Assim que botei meus pés na escada a sinfonia parou só para ouvir o som sensual de meus saltos batendo nos degraus de madeira, a cada passo que eu dava a excitação daqueles homens que me comiam com os olhos crescia e meu sorriso obsceno também. Como eu amava esse efeito que causava nas pessoas. Eu era exatamente o que as mulheres sonhavam em ser e o que os homens sonhavam em ter.

– Carmen, Querida. – A dona da casa, apareceu para me apresentar.

– Madame Margot. – Acenei com a cabeça enquanto encarava um homem com um sorriso depravado que o fez babar.

– Queridos, quero lhes apresentar Carmen, a mais bela mulher do Império. – Margot iniciou uma salva de palmas e sorri encarando nos olhos todos os que tinham coragem de retribuir.

Acenei com os dois dedos que seguravam meu cigarro e logo depois a música alta, as gargalhadas e a algazarra começou de novo, mas os olhares atentos ainda me perseguiam. Procurei o homem que do segundo andar escolhi para abrir a noite e o encontrei com um copo de uísque, um sorriso de lado e a sobrancelha arqueada para mim. Eu gostava de quem desafiava o meu olhar.

– Boa noite. – Deixei as palavras deslizarem por entre meus lábios muito bem tingidos de vermelho.

– Aceita? – Ele me ofereceu um de seus charutos e eu recusei, ele sorriu. – Muito forte para ti?

– Sabes, Duque. – Sussurrei carregando ainda mais meu sotaque e chegando perto dele. Por estar sentado, tinha uma visão privilegiada do decote e ele se aproveitou disso quando me abaixei para sussurrar em seu ouvido. – Me gustan los hombres que me desafían.

O Duque português cheirou meu pescoço e senti a barba irritar minha pele, em seguida beijou meu colo enquanto meus olhos encaravam outro fazendeiro em suas costas. Quando levantei novamente, sorri e pisquei para ele. O cavalheiro me puxou sem muita cortesia para seu colo e beijou meu pescoço, mas meus olhos ágeis não desperdiçaram oportunidade nenhuma de atiçar alguém. Era minha maior diversão. Bebi todo o seu uísque e quando pediu mais, tomei tudo outra vez.

– Vamos subir. – Disse ainda distribuindo beijos em meu peito e pescoço.

Continuei torturando-o por mais alguns minutos e quando me dei por satisfeita saí de seu colo e o puxei pela gravata para realizar seu desejo e enfim irmos para o quarto. Não era nem de longe um homem atraente, mas o tanto de dinheiro que, com certeza, carregava em seus bolsos fazia dele alguém que merecia a minha companhia.

Ao virar-me em direção as escadas passei os olhos pelo bar e parei assim que a vi, homem nenhum em todos os lugares que andei me fizeram sentir o que ela fez com aquele olhar desafiador. Os cabelos castanhos presos em um coque perfeito contrastavam com a pele alva e os olhos ébanos, as marcas de expressão no rosto denunciavam que era uma mulher de personalidade forte, parecia séria e brava.

Meu espírito se alegrou.

Ah, as mulheres!

Finalmente uma veio a esta casa. Seduzir as meninas da Pensão para realizarem meus prazeres individuais já havia deixado de ser uma diversão. Era fácil demais e entediante, todas queriam mais ser eu do que ter-me em suas camas. Não me desafiavam, não me divertiam, nem de longe me satisfaziam e acabava por, sem muita gentileza, pedir para se retirarem de meus aposentos assim como fazia com os homens. Desconfiei em dado momento da minha vida, logo depois de expulsar uma menina do meu quarto sem um pingo de sensibilidade, que o prazer era algo que ninguém me proporcionaria ou não era isso que eu procurava. Todos eram tão entediantes.

Voltei meu caminhar, mas mudei a direção para o bar, meus olhos não desgrudavam dos seus e ela respondia a altura, desafiava-me silenciosamente a ir até ela e eu não era mulher de recuar perante tal desafio. Eu a queria e sabia bem quem era senhorita.

– Lúcia. – Chamei a menina.

– Sim? – Perguntou.

– Te apresento o Duque Martín. Mostre os aposentos à ele. – Pisquei para ela e ele me olhou revoltado. – Faça bom proveito, Querido!

Assim que subiu as escadas no encalço de Lúcia e visivelmente contrariado, direcionei meus olhos outra vez à ela e, como todos aqueles homens que estavam lá, senti que me desejava. Podia ver através de suas pupilas negras que me devoravam quase sem piscar. Não era nem de longe uma mulher comum via-se só ao passar os olhos. Mas eu sempre desvendei as pessoas além da aparência e senti que essa noite seria bem mais divertida do que imaginei enquanto apertava meu espartilho mais cedo.

Sorri meu sorriso mais depravado e pude ver ela tremer mas não desviar o olhar do meu, fumava um cigarro caro e eu vi ali a oportunidade de me aproximar. Não que precisasse de uma, sabia que ela viria até mim cedo ou tarde, mas eu era impaciente.

– O que a donzela faz aqui a essa hora? – Perguntei debochada.

Sabia que não era uma donzela indefesa pelas vestimentas. Fofocas correm soltas por aí. Aquela era a Baronesa Isabel Albuquerque de Castro. Uma mulher atraente e séria, sem contar a elegância em suas vestimentas que traziam o toque sútil do melhor e mais caro alfaiate da cidade. Exatamente o tipo de clientela rica que eu amava.

A Cortesã e a Baronesa - Livro IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora