Desafio

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ISABEL

Meus olhos já seguiam cada passo seu pelo salão, observei quando sentou no colo de um homem e todo o fascínio que ela exercia neles. Era a mulher mais linda que já vi. O copo vazio na minha mão foi deixado de lado. Eu precisava fumar, era o que sempre fazia quando estava nervosa.

Acendi meu cigarro e continuei a admirá-la. Estava no colo de um homem, enquanto seus olhos examinavam toda a sala. Sorri com sua ousadia. Ela gostava do que causava aos outros, sabia o quanto era fascinante e isso era um perigo.

Cochichou algo no ouvido do homem e levantou do seu colo. Foi exatamente nesse momento que seus olhos se prenderam aos meus pela primeira vez. Aqueles olhos que pareciam desvendar minha alma. Ela me admirou por alguns segundos até cortar o contato e chamar por uma menina que estava próxima. Dispensou o homem e praticamente jogou a outra garota em seu colo. Eu ri assim que vi sua cara de revoltado.

A mulher me olhou de novo, ainda de longe e sorriu. Que sorriso. Me tirou do eixo. Nenhuma mulher me deixava daquela forma, nenhuma mulher sorria daquela forma. Não desviei meus olhos em nenhum momento.

Ela se aproximou com aquele sorriso debochado que não saía de seu rosto.

– O que uma donzela faz aqui a essa hora? – Perguntou.

Eu ri fraco. Ela sabia muito bem que ali não tinha nenhuma donzela. Olhei para os lados divertidamente.

– Onde a senhorita viu a donzela? – Perguntei e ela riu alto.

Estendeu a mão na minha direção e beijei delicadamente.

– Carmen... – Falou.

– Isa... – Ela me interrompeu.

– Baronesa Isabel Albuquerque de Castro. – Recolheu sua mão e se aproximou mais.

– Vejo que és uma mulher esperta... – Falei rindo.

Aproximou sua boca do meu ouvido.

– Sei quem é cada um nessa casa, Baronesa. – Seu sotaque era uma arma perigosa. Arrepiei-me da cabeça aos pés. Carmen envolveu seus braços no meu pescoço.

– Agora entendi o imediato interesse pela minha pessoa – Puxei ela um pouco mais perto. – Isabel, me chame somente disso...

– Como quiser, Isabel. – Carregou bem o sotaque ao pronunciar meu nome. – O que acha de subirmos?! – Mordeu os lábios.

Eu estava louca por aquela mulher, iria até o inferno com ela naquele momento, mas eu não a deixaria saber disso. Me soltei dos seus braços e me direcionei ao bar pedindo outra bebida. Carmen aproximou seus lábios do meu pescoço e distribuiu diversos beijos. Fechei os olhos e me controlei para não soltar um gemido ali mesmo.

– Vou perguntar novamente e pela última vez... Vamos subir?! – Sua voz já estava impaciente, ela não era mulher de repetir aquela pergunta.

Tomou o copo da minha mão e bebeu todo o líquido de uma vez só.

– Se acha que vou me jogar a teus pés como todos esses velhos fazem... – Disse desafiando-a. – Estás muito enganada! – Carmen se remexeu nervosa e se pudesse me matava ali mesmo.

– Como queiras, Baronesa... – Repetiu meu título com desdém.

Desafiar Carmen se tornaria meu novo vício. Ela se ajeitou como se nada tivesse acontecido, mas eu sabia que tinha mexido com o orgulho dela, virou as costas e saiu do meu campo de visão por um momento.

Um homem bem arrumado entrou pela porta, diferente dos demais ele não era velho e posso dizer que era até bonito. Carmen apareceu novamente, dessa vez indo em direção ao homem e como todos os outros, ele se derreteu assim que a viu. Meus olhos não se desgrudaram deles e a maldita mulher fez questão de sentar bem próxima ao bar. Enquanto ele beijava todo seu pescoço, ela me olhava fixamente. Eu sabia que estava querendo me mostrar algo. Querendo me provar que ninguém resistia a ela. Eu feri seu ego inflado e agora pagaria.

Apertei o copo com força demais. Minha vontade era de tirá-la dos braços daquele homem e depois arrancar aquele sorriso debochado do seu rosto.

Meu copo foi cheio de novo.

– Obrigada, não quero... - Não conclui a frase.

– Beba, Querida.... - Uma jovem loira e bonita falou enquanto enchia meu copo. – Carmen não vai parar tão cedo... – Tomei todo o uísque e quando dei por mim a mulher já estava no meu colo.

­– Posso te fazer companhia... – disse beijando meu rosto. – Me chame de Sofia.

Senti o olhar de Carmen queimando sobre mim. Ela não estava com raiva, estava me desafiando. O homem com ela, beijava e mordia seu pescoço e a descarada ainda gemia e fazia isso me encarando com um sorriso depravado no rosto.

Não demorou muito para os dois levantarem, porém, diferente do imaginei eles não seguiram para o segundo andar da casa e sim na minha direção ou melhor, até o bar.

Ela se apoiou na bancada, virando seu quadril. Era uma perdição, não tinha como negar.

Sofia ainda estava no meu colo, tentando a todo custo chamar a minha atenção. A música agora mais alta ajudou a descarada em seu plano diabólico de me fazer delirar de desejo. Ela balançava seu quadril no ritmo da música e meus olhos seguiam o mesmo compasso. Involuntariamente apertei a cintura da mulher em meu colo. Carmen me encarou sorrindo, sabia o efeito que estava causando em mim. Deu a volta no balcão e acendeu seu cigarro na vela que estava ao lado. Seu decote ficou visível e não pude evitar de morder meus lábios diante daquela visão. Nosso contato foi quebrado pela voz do homem que a acompanhava.

– Vamos subir, mulher!

– Para que a pressa, Coronel Antônio? – Carmen fazia o homem de palhaço e parece que ele também percebeu.

– Tu estas fazendo-me de idiota e acha que não estou vendo isso? – Esbravejou. – Eu sei o que faz, Meretriz! – Isso ele nem imaginava, homens como ele nunca saberão lidar com uma mulher como ela.

Tragou seu cigarro tranquilamente antes de responder na mesma altura.

– Gracias por el elogio, querido. – Sorriu e se aproximou perigosamente do homem. – Aprenda una cosa sobre mim, para que das próximas vezes, quem sabe, usted consiga o que quer... – Ele tentou dar um passo para trás, mas Carmen se aproximou ainda mais. – Sou eu quem escolho com qual homem irei me deitar e nem usted, nem ninguém aqui, decide por mim. – Ela piscou para o Coronel e se afastou. O homem permaneceu alguns segundos ali parado, surpreso com o que acabou de acontecer.

Sofia se remexia no meu colo em uma clara tentativa de chamar minha atenção.

– Por que não subimos? – Disse passando a mão pelo meu rosto.

– Porque não quero. – respondi seca.

Carmen que havia sumido por um instante se aproximou por trás colocando a mão no meu ombro, seu toque era quente.

– Baronesa, meu cigarro acabou, podes me ceder um dos teus? - Sofia bufou e revirou os olhos, dava para ver que existia uma tensão entre as duas.

– Cansou do Coronel, Carmen? – Disse debochada.

– Cansei... – Ela sussurrou no meu ouvido me deixando de novo arrepiada. – Prefiro Barões... ou melhor Baronesas.

Levantei na mesma hora afastando Sofia de mim. Peguei Carmen pela cintura com força e escutei seu gemido no pé do meu ouvido. A mulher mais jovem bufou de raiva e saiu batendo o pé.

– Tu és muito abusada, mulher....

– Usted no tienes idea de cuanto.

A Cortesã e a Baronesa - Livro IWhere stories live. Discover now