- Olá. – disse ela em voz baixa. – qual seu nome? 

- A-A-Arry... – gaguejou num fio de voz inteligível e a mulher franziu a testa confusa. – quero dizer... M-me chamo Ha-Harry.
 
- não tenha medo Harry, não vou machuca-lo. – disse lentamente. – eu me chamo Nagini, a propósito.
 
- v-você... O que é você? – perguntou em um sopro chocado. 

- eu sou um maledictus. – respondeu vendo a confusão nos olhos verdes. – meu sangue foi amaldiçoado, e por isso me torno este animal.
 
- eu sinto muito. – falou o menino sincero. 

Nagini estava cativada pelo pequeno, mesmo estando em um lugar desconhecido e perto de alguém como ela, o filhote se compadeceu de seu infortúnio quando tantos outros lhe olhariam com nada mais que medo ou repulsa.
 
- deixe-me ajudá-lo a se levantar. – falou estendendo a mão para o garoto que agradeceu e com a ajuda de Nagini se colocou de pé. – está com fome, Harry? 

- eu... – o menino não sabia como responder a pergunta. Ele estava sim com fome, mas se ele dissesse isso, Nagini lhe daria comida ou trabalho? Harry nunca conseguia limpar uma casa daquele tamanho, mas ele queria comida. 

- venha, vamos ver o que tem para você comer. – falou gentilmente quando não obteve uma resposta do menino.
 
Harry seguiu a mulher por entre cômodos e corredores, seus olhos curiosos analisando tudo pelo que passava, a mulher tinha um caminhar elegante e Harry se pegou perguntando quantas aulas de etiqueta Nagini teria feito para ter uma pose e andar tão nobres. 

Nagini adentrou a cozinha e Harry assobiou com o tamanho da cozinha. A mulher caminhou até uma fruteira onde maçãs vermelhas repousavam. Harry mordeu o lábio com a visão suculenta das frutas, seu estômago roncou alto e ele tentou abafar o som apertando o estômago com a mão. 

- aqui Harry, coma. – Nagini lhe estendeu uma maçã. – pode comer, verei mais tarde o que consigo para seu jantar, mas acho que por hora as maçãs serão suficiente. 

- obrigado. – disse ele pegando a maçã hesitante, porém com muita fome para recusar. 

Nagini observou o menino morder a maçã lentamente, e ela sorriu ao ver como os olhos verdes brilhavam alegres pela fruta em suas mãos. Ela não entendeu no começo porque seu mestre havia trago para casa o pequeno humano, mas olhando Harry tão feliz comendo uma simples fruta ela tinha uma certeza, ela não deixaria que ninguém lhe fizesse mal, ela cuidaria do pequeno humano com seu filhote. 

- ham... Nagini? – chamou Harry mordendo o lábio e virando a maçã quase toda devorada nas mãos. 

- sim, querido? – ela sorriu ao ver suas bochechas corarem. 

- essa casa... É sua? – perguntou ele. 

- não. – ela riu nasalado. – essa mansão pertence ao meu mestre. 

- seu mestre? – perguntou olhando para a fruta em sua mão. Se havia um mestre que mandava em tudo, então Nagini não teria problemas por estar pegando comida para ele sem avisar o senhor da casa? – eu não tenho dinheiro, mas posso pagar pela maçã com serviço, talvez... 

- você não precisa pagar pela maçã, Harry. 

- mas... Seu mestre? 

- ele não gosta de maçãs, só as deixa aí porque são belas. – disse ela vendo o menor concordar com a cabeça. 

Nagini e Harry ainda conversaram por mais um tempo enquanto o menino devorava outras duas frutas, então a mulher o levou de volta ao quarto para que o menino pudesse por roupas mais quentes e descansar. Ela mesma cuidou dos ferimentos do garoto quando chegaram ao quarto.
Harry já dormia na cama onde acordou mais cedo quando a porta do quarto se abriu silenciosamente e o ser alto atravessou com passos igualmente silenciosos o quarto. Nagini não precisava virar-se para saber quem estava a suas costas, também olhando o garoto adormecido na cama. 

- como ele está? – perguntou seu mestre. 

- está bem, eu cuidei de seus machucados e ele comeu algumas frutas. – disse ela olhando o menino com ternura. – mas talvez seja melhor arrumar comida de verdade para ele, algo que o sustente mais do que algumas maçãs. 

- eu já estou providenciando isto. – falou. 

- porque o trouxe para cá, Tom? – a mulher se virou fitando os olhos vermelhos do homem a suas costas. - sei que você está fraco, mas ele é só um menino, e o sangue de unicórnio estava funcionando, não é? 

Ele a olhou por segundos antes de voltar a observar o menino, então se virou para sair, porém antes de chegar a porta ele falou num tom calmo. 

- porque é ele. Este é o garoto. 

- Harry? – Nagini arregalou seus olhos. – já faz tanto tempo, como ele foi parar no meio da floresta proibida? 

- eu não sei. Mas agora ele está aqui e os humanos viram atrás dele. 

- eles nunca se arriscariam atravessar a floresta, existem muitas criaturas entre eles e nós. – disse ela. 

- assim espero. Mas o lugar dele não é aqui, em todo caso. O certo seria o deixarmos nos limites da floresta assim que ele se recuperar.

- não. – disse a mulher se pondo em pé. Ela cuidou do menino, ela viu as cicatrizes, os hematomas e as fraturas. Durante sua conversa a tarde, Harry lhe contou que havia fugido da casa dos parentes, até lhe implorou que não o mandasse de volta, contando que o tio o espancaria por ter fugido. – aqueles humanos são horríveis com o garoto, não podemos devolve-lo para que sofra. Isso não é certo.

- ele não pertence a este lugar. – Tom se virou para olha-la nos olhos, e Nagini se perguntou se era pra ela mesmo que ele dizia aquilo. 

- não, não pertence. Ele é vivo, e este lugar é morto, ele é quente e este lugar é frio. – disse ela se aproximando do homem até sua mão tocar seu braço de forma carinhosa. – ele pode trazer a vida para... Nós. Eu sei disso. 

- você já se apegou a ele. – acusou o homem.

- o mesmo acontecerá com você. – retrucou ela.

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