Trigésimo quarto capítulo

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Por algum motivo que eu ainda desconhecia, eu estava novamente na Terra, trancada em meu quarto e podia ouvir o som de Cristalize tocando ao fundo. O som do violino, o ritmo, tudo parecia me levar para um mundo totalmente diferente. Somente meu. Era maravilhoso aquela sensação. Eu já ouvira essa mesma música centenas de vezes (ou milhares?), e nunca me senti tão bem assim antes. Eu me sentia realmente viva, pela primeira vez.

"Amy" - chamou minha mãe do lado de fora do quarto. - "Amy, abre a porta filha, preciso conversar com você"

Estranho, não me lembro de ter trancado porta, não costumo fazer isso, apenas a deixo encostada. Me levanto da cama e me dirijo até a porta. Mas antes de eu tocar a maçaneta a porta se abre por si só, e minha mãe entra, me procurando.

"Mãe?" - a chamo, mas ela parece não me ouvir. - "Mamãe?"

"Amy. Cadê você filha? Preciso falar com você. A mãe da Lara me ligou hoje. Amy?"

"Mamãe, eu estou bem aqui."

Entrei na frente dela, com esperança de que ela me visse dessa vez. Mas ela não viu, e passou por cima de mim, literalmente. Ela meio que me atravessou. E eu senti um forte enjôo, depois tive a sensação de que iria desmaiar, então cai no chão.

"Mamãe? O que esta acontecendo?"

"Amy? Amélia!"

"Eu estou bem aqui, caramba. A senhora acabou de passar por mim"

Como assim?

"Meu Deus, filha" - ela se ajoelhou no chão, ao lado da minha cama.

Tive a sensação de algo tocando meu braço, e meu corpo todo se arrepiou, e novamente eu quis vomitar. Consegui forças para me levantar, e caminhei até onde minha mãe estava, então parei no lugar.

Era eu ali.

Deitada no chão.

Mas como, eu estou bem aqui!

Então ela começou a gritar. Me chamar e chamar meu pai. Ela se afastou do corpo que estava no chão, se encostou na parede e colocou a cabeça entre os joelhos, enquanto chorava de se acabar.

Eu não conseguia acreditar. Aquilo irreal. Que diabos estava acontecendo?

Papai logo aparece, com a camisa manchada de café e o jornal nas mãos.

"Lívia? O que houve?" - Ele se aproxima dela. E a única coisa que minha mãe faz foi apontar para o corpo caído no chão. - "Amy? O que houve com ela?"

Ele me toca, e eu posso sentir. A sensação de enjôo volta, e aumenta quando ele toca meu pulso para medir minha pulsação.

"O pulso dela está fraco. Muito fraco."

Então ele me pega no colo o meu corpo, e me leva para fora dali, logo mamãe se levanta e o segue. Eu vou de encontro ao chão, sem forças para me mover e com um enjôo terrível.

Meu corpo parecia pesar, e pesar e pesar cada vez mais, me fazendo deitar no piso de madeira. Os raios solares que entravam por uma brecha na janela pareciam me queimar. O ar parecia me sufocar. E o piso, parecia estar me engolindo, me devorando.

Eu não conseguia mais respirar. Não havia ar para mim. Eu não havia entendido nada. Que diabos estava acontecendo comigo, com o mundo?

Então eu simplesmente comecei a desaparecer. Estava deixando de existir. E tudo o que eu via era preto, escuridão. Trevas.

•••

Palmas. Palmas. Palmas.

Tudo o que eu era capaz de ouvir eram palmas. Não sei de onde vinham, e muito menos de quem.

A Maldição da Lua.Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum