Segundo capítulo

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Eu estava apavorada. Não fazia a menor ideia de onde poderíamos estar e de como havíamos ido parar lá. A única coisa de que realmente tinha certeza, era que eu estava com um medo absurdo.

Me pergunto se isso seria algum tipo de pegadinha ou coisa parecida.

— Tá legal. Vocês já podem parar, não tem graça — falei com a voz trêmula.

O jovem-dono-do-pé-que-pisei-e-que-tem-olhos-negros-que-me-deixaram-morrendo-de-medo riu.

— Não é pegadinha, garota — agora ele falava. E ainda inglês.

— Onde estamos? — Questionei insegura, forçando a voz para que meu sentimento de medo não ficasse tão evidente.

Aquele local de modo algum seria facilmente encontrado em um mapa qualquer da América do Norte e, se levar em consideração minha intuição, posso dizer com a devida convicção de que estávamos longe o bastante do continente Americano para que tal lugar sequer seja considerado como um território terrestre.

O jovem não supriu minhas dúvidas, oposto disso, fez questão de apenas levantar as sobrancelhas e seguir por uma longa trilha iluminada apenas por um isqueiro que havia sacado do bolso. Analisei com precisão e cautela minhas chances de fuga e não demorei muito, não havia muitas opções a serem cogitadas, o jovem carregava consigo a única fonte de luz que havia em toda aquela escuridão.

Alguns metros a frente, observei quando o jovem parou, recuando dois passos e tensionando os ombros antes de virar levemente a cabeça, verificando se eu ainda o seguia. A nossa frente havia um portão majestoso com detalhes em vermelho e dourado que reluziam com a proximidade da luz. Naquele momento, diante daquele portão, meu maior desejo era gritar, fosse por medo, fosse por ajuda, deveria haver alguém do outro lado. Entretanto, o simples pensamento de que talvez não tivesse ninguém do outro lado, ao menos não vivo, e muito menos humano.

O jovem mantinha um olhar curioso sobre a fechadura, aguardando, alinhado, que aquele imenso portão se abrisse. A sensação que ele me passava, em meio a todo aquele pavor, era de que estávamos prestes a adentrar o palácio de Buckingham para uma reunião decisiva com a rainha sobre o futuro do Reino Unido.

— Por favor — suplico dando um temeroso passo em sua direção. — Onde estamos, que lugar é este?

Seus olhos varrem meu rosto ao ouvir a súplica, antes de voltarem a focar na enorme fechadura que havia diante si. A escuridão ao nosso redor era densa, parecia haver um árduo sacrifício em manter aquela pequena chama acesa. Após um longo tempo de espera ele levou uma das mãos à maçaneta e o portão se abriu, em seguida ele acenou indicando que eu entrasse. Discordei, me afastando. Suas mãos tocaram meu braço esquerdo e então ele me puxou consigo para dentro de qual fosse aquele lugar.

Olho para frente enquanto tento segurar as lágrimas, que sempre conseguem escapar. Criaturas estranhas, diferentes de tudo o que alguma vez já vi em toda a minha repugnante vida, misturada em meio a alguns humanos. As criaturas possuem cicatrizes horríveis espalhadas pelo corpo, os olhos são ao todo branco, alguns tinham a pele meio acinzentada igual cimento, e outros vermelha igual a uma árvore molhada pela chuva que a pouco tempo passou. Alguns tinham cabelos preto igual carvão, outros tinham cabelos brancos, e de alguns os fios eram cinzas. Terríveis, passavam a imagem de como aquele lugar poderia ser cruel.

Os humanos tinham uma pequena tatuagem tribal preta no lado esquerdo de seus rostos e que seguia do lado de seus olhos até o canto da boca, e os olhos eram todos negros.

Me pergunto se aqui seria o inferno? Mas pelo o que está dito no livro sagrado, o inferno é na própria Terra. E tenho certeza de que não estamos na Terra.

A Maldição da Lua.Where stories live. Discover now