Quadragésimo primeiro capítulo

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Eu estava deitada no gramado, observando o céu e os pássaros. Eu ouvia passos e vozes, eu conhecia aquela voz, mas não me lembrava de onde.por, ou a quem ela pertencia.

Havia um garoto deitado ao meu lado, ele devia ter uns sete anos, eu me lembrava dele, era o garoto com quem eu - com quatro anos - brincava na outra memória. O que ele estava fazendo aqui novamente?

Me levantei, e comecei a caminhar em direção a casa, eu precisava entender algumas coisas, pois, de alguma forma, eu me sentia familiarizada com aquele lugar, com tudo ali. Até com o garoto.

- Aonde você vai, Eli?

Parei e gelei por algum tempo, pensando que ele de alguma forma me vira, mas isso era impossível.

- Aonde você vai? - sua voz era tao infantil que me fazia sorrir.

Me virei, eu precisa vê-lo, para ver se me lembrava quem ele era.

- Eli. Nao quer brincar mais?

Procurei pela outra eu, dei um giro de 360° graus, mas não me vê, então eu me toquei, era eu, só poderia ser eu. Essa eu.

- Você pode me ver? - perguntei cautelosa me aproximando dele.

- Claro, não estou cego. Você vai dormir?

- Porque eu faria isso?

Ele deu de ombros.

- Você sempre faz isso depois de observar o céu.

Sorri ao me lembrar de minha mãe falando que eu sempre fazia isso, deitava na cama com a roupa suja mesmo, e dormia, depois a acordava no meio da noite para dizer que havia sonhando com as estrelas. Eu nunca imaginei que teria de viver sem minha mãe, sem pôde abraça-la.

- Vou beber água - disse.

Eu não entendia o fato dele agir como se eu fosse a pequena Amy que estava brincando com ele na outra lembrança. Ele se deitou novamente no gramado, e retornou a observar o céu. Caminhei até a porta da casa, toquei a maçaneta e sorri, pois eu realmente consegui toca-la, podia sentir frio do metal na palma da minha mão. Empurrei a porta com forca, e com muita sacrifício, consegui abri-la.

O primeiro cômodo era a cozinha, e não se parecia em nada com a cozinha das duas casas em que me morei durante o decorrer da minha vida. Não havia ninguém além e mim ali, então passei para o próximo cômodo. Haviam dois homens assistindo o campeonato de baseball em uma TV antiga, e duas mulheres conversando.

- A garota não vai trazer problemas?

- Não. Amanhã mesmo a doutora irá vir busca-la, depois pegamos o dinheiro e então poderemos voltar para casa.

Me aproximei para poder ouvir melhor o que estavam dizendo, wuando esbarrei em um vaso de flor e ele se espatifou no chão.

- Eli? Filha... - disse um dos homens se virando para trás no sofá. Ele tinha uma cicatriz horrorosa no canto esquerdo de sua face e aquilo me assustou um pouco. - Filha? - me chamou.

Dei dois passos para trás.

- Amy? - me chamou uma das mulheres enquanto ajeitava seu vestido.

- Filha? - o homem se aproximou de mim. - Você brigou com o Lark de novo?

Neguei com a cabeça.

- Esta com fome, filha? - perguntou a mulher de vestido.

- Não. Quem são vocês?- perguntei enquanto arquitetava uma forma de fugir dali.

- Seus pais - a mulher se abaixou ao meu lado e apertou minha bochecha. - Sempre cheia de gracinhas - ela sorriu.

Comecei a correr, corri em direção as escadas, corri pra caralho, mas minhas pernas pareciam serem pequenas demais para mim subir correndo os degraus, quando cheguei no último, sua pirei aliviada, então ouvi uma voz atras de mim.

- O que houve filha? - perguntou a mulher fazendo uma voz engraçada, como se falasse com uma criança.

- Nada não - olhei para o final da escada. - Vou pro meu quarto - eles me encararam. - Brincar - complete e subi os últimos degraus da escada.

Haviam algumas portas, entrei na segunda, era como se eu já conhecesse toda aquela casa. Era como se eu tivesse vivido muito tempo por lá. Era tudo vermelho. As paredes, o tapete e até alguns dos moveis - sempre gostei de vermelho. Nao numa bonecas, apenas o estojo de um violino no canto, ao lado da cama. Esse era o meu quarto? Porque não me lembro de nada disso? E quem são aquelas pessoas la embaixo.

Meu nome é Amelia Johansson Stohl. Minha mãe é Livia Johansson Stohl ela é medica e trabalha no Hospital Central de New York na Hala B. Meu pai é David Clarke Stohl, ele também é medico e trabalha na Hala A do Hospital Central de New York. Essas pessoas la embaixo, são completamente desconhecidas para mim. Aquele garoto, o Larking, eu não o conheço, nunca o conheci. Isso tudo é um sonho; não uma lembrança.

- Eli? - o garoto entrou correndo no meu quarto. - Eles vão levar a gente.

O encarei, ele era tão pequeno, mas parecíamos ter a mesma altura.

- Eles quem?

Ele se aproximou de mim, como se o que tivesse a me dizer fosse altamente sigiloso.

- Os humanos, eles vão levar a gente.

- Como assim? Do que você...

- Eles vão nos separar outra vez. A mamãe precisa de nós.

Alguem bateu na porta. Larking se sentou na cama e fingiu estar brincando com um avião de papel que ele retirou todo amassado de seu bolso.

- Eli. Quero que você venha conhecer umas pessoas - disse a mulher que se dizia minha mãe.

- Quais pessoas? - perguntei.

Ela se aproximou de mim, se abaixou ao meu lado e lançou um olhar mortal ao Larking, ele se encolheu e ficou quieto na cama, quase que imóvel. A mulher se voltou pra mim, seus olhos eram negros o que me assustou, mas depois me lembrei de que já os conhecia. Eles eram familiares. A mulher segurou minha mao e saiu me puxando para fora do quarto. Olhei uma ultima vez para o Lark, mas ele continuava no mesmo estado, imóvel, petrificado.

Havia um carro parado em frente a casa e um casal de pé ao lado do mesmo. Eu conheceria aqueles cabelos loiros e aqueles olhos azuis em qualquer lugar, era Lívia, minha mãe. Meu pai estava de pé ao lado dela.

- Oi. Qual o seu nome? - Lívia se abaixou diante de mim, me encarou com seus olhos azuis fuzilantes e sorriu.

- Mamãe?

- Sim? - a mulher que ate então segurava meu braço se abalou ao meu lado. - Eles serão seus pais de agora em diante meu amor. Ela sera sua mamãe, e ele - ela apontou seu dedo magricela para David, que parecia não estar gostando nenhum pouco de tudo aquilo. - Ele será o seu papai.

- Mas eu não quero eles, eu quero você - resmunguei.

Eu não tive a intenção de dizer isso. Mas as palavras simplesmente saíram da minha boca.

- Oh, mamãe vai te visitar sempre que der, esta legal?

- Eu não quero ir - gritei e tentei me soltar de sua mão, mas não consegui.

- Você vai Amélia. Querendo ou não, você vai.

Ela me levou no colo, me deu um beijo na testa. Livia abriu a porta do carro e logo me colocaram la dentro. David deu a partida. Lagrimas banhavam meu rosto. Nada. Eu não entendia absolutamente nada.

Lark estava na janela, me observando ir. Ele apoiou uma das mãos no vidro, e logo acenou em um adeus. Nunca mais iriamos nos ver. E até então, eu ainda não o encontrei.

- Vai ficar tudo bem, Eli- murmurou Livia se virando para mim no banco de trás.

- Amy - corrigi.

Encostei a cabeça no vidro, ainda chorando. Parecia que havia um buraco em meu peito agora. Eu queria odiar Livia e David, mas não conseguia. Eu era adotada, mas não me lembrava desse dia.

Quando retornei da memória, eu estava sentada no chão. Lívia estava de pé ao lado da maca, chorando. Eu não conseguia odiá-la, também não deveria. Me levantei e sai do quarto. Comecei a caminhar não sei bem pra onde.

E Lark, o que houve com ele? E quem era ele?

A Maldição da Lua.Where stories live. Discover now