A tutora

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A decisão de Aragón em contratar Carmen para ser a professora de Max vinha de dois pontos.

Primeiro, porque a experiência de conviver com os plebeus, o "homem comum", foi algo vivido pelo próprio rei em sua infância, quando ele era apenas o príncipe. Suas vivências moldaram parte de sua personalidade como monarca e se ele era conhecido na alta roda como o "governante mais progressista da Europa", era justamente porque Aragón teve a chance de entender como era a vida de quem estava fora dos muros do palácio.

E em segundo lugar, seu interesse era manter Carmen sob seu controle. Com a professora lecionando exclusivamente para Max, sob o mesmo teto dele, era mais fácil Aragón impor sua verdade e seus valores, mostrando à jovem que no fim, ela teria que respeitar a vontade do rei. Era um jogo: se Carmen não o respeitava por bem, teria que fazê-lo de outra forma.

Tanto que não foi surpresa alguma para Aragón vê-la ali, bufando à sua frente, segurando a carta de Admissão Real e o documento de demissão. Ele conseguiu virar o jogo.

- Pensei que a senhorita ficaria feliz e honrada com a oportunidade de ensinar o Príncipe Real de Azzurro, já que está tão próxima da criança.

- Estou feliz e honrada com a oportunidade, mas não estou feliz em ser informada por último dessa contratação. E por sequer terem me perguntado.

Aragón cruzou os braços, tranquilo. Queria ver até onde ia a explosão da professora.

- É apenas algo mais discreto, para evitar problemas, Srta. Calieri. Imagine se todas as mídias souberem que se tornou a tutora de Massimiliano Domenico. Sua vida seria devassada, incluindo a de sua família, e não teria paz.

A lógica do rei fazia sentido; a postura de Carmen relaxou um pouco, o suficiente para Aragón prosseguir com sua argumentação:

- Além do escrutínio da mídia, tem as questões de segurança. Tutores dos príncipes e princesas de Azzurro são alvos fáceis de rebeldes por estarem sempre perto da família real. Com essa contratação, sua família também estará protegida.

- É bastante compreensível... Majestade.

A mudança no pronome de tratamento foi uma vitória para Aragón, mas ele não sorriu. Preferiu continuar sua postura neutra enquanto a jovem finalmente parecia mais tranquila, o que provavelmente era a primeira vez em que ele a via daquela maneira.

- A proposta, Srta. Calieri, é prosseguir com as aulas de História, além de outros temas que sejam interessantes para a formação do menino. Sociologia, Antropologia, discussões filosóficas ou sobre a atualidade de Azzurro. Os outros tutores prosseguirão com seu ensino também de foco conteudista, mas acredito que suas contribuições podem ser interdisciplinares... É assim que os educadores dizem, creio eu.

- Sim. É dessa forma. E será bastante positivo para Max ter um ensino que agregue não apenas a compreensão do passado do reino, bem como o que ocorreu no passado vem afetando a vivência atual em Azzurro. Ele é o futuro rei, deve compreender essas nuances.

- Ótimo. Após este mal-entendido, estamos definidos. Vamos assinar o contrato, então.

- Os horários continuam os mesmos do meu período de aulas na escola?

- Não, Srta. Calieri. A ideia é que a senhorita venha morar no Palácio Real.

Carmen arregalou os olhos, em choque. "O quê? Eu? Morando no palácio?"

- Eu... Eu não posso, Majestade. Minha família precisa de mim, não posso deixar meus pais sozinha-

- Giorgio e Alma Calieri são pequenos empresários com uma loja de bolos e eles não são anciãos dependentes da filha mais velha. Parecem-me bem ativos, e terão o apoio de sua irmã mais nova, Elena, que será bem-vinda ao palácio para brincar com Massimiliano Domenico.

Coração de Rainha [livro 1]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora