Com amor, Carmen

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A dupla foi flagrada pela única pessoa que Lena não gostaria de encontrar: sua irmã, Carmen Calieri.

Não que a primogênita fosse uma megera: o problema de Lena era que sua irmã era muito astuta, difícil de enganar, e bastante inteligente. Professora de História na mesma escola onde a menina estudava, tinha formação esmerada – um mestrado em História Antiga na instituição de ensino superior mais tradicional do país, a Universidade de Santa Cecília. Esse mestrado possibilitou que Lena estudasse num colégio de elite, já que os docentes da escola teriam que ter mestrado dentro de sua área de atuação.

E Carmen não era apenas muito boa; ela era a melhor. Podia ter sido professora universitária, e aos 25 anos, seria o início de um futuro brilhante para a menina pobre de um bairro afastado de Santa Cecília, mas o que ela gostava de fazer mesmo era lecionar para adolescentes. Envolver os alunos em suas aulas e desenvolver as capacidades críticas, ensinando a História pelos olhos dos povos dominados, dos perseguidos e de quem tinha suas histórias apagadas.

- Sabe que isso vai dar problema dia desses, hein amiga? – Francesca Grimaldi, professora de Biologia e uma das melhores amigas de Carmen, sempre recomendava à jovem mais equilíbrio em suas explanações.

- Não estou incentivando os alunos a pegarem em armas e derrubarem o rei... Se bem que até queria – riu – mas quero que eles tenham consciência da história de seu país e das incoerências de Azzurro. Mas que formulem o próprio pensar. Não escondo nada, nem a parte boa nem a ruim.

Era uma boa amiga, defendia suas ideias com firmeza, e era franca, não admitindo mentiras ou meias-verdades. Por isso, Lena temia a reação de sua irmã ao saber da presença de Max em casa.

- Vamos, Elena, quem é este garoto e por que ele está todo acabado? – Carmen aproximou-se de Max e o tocou no rosto, segurou nos braços e logo notou os joelhos ralados. – Meu Deus, o que houve contigo? Quem fez toda essa maldade?

- Eu... Eu só não quero... Voltar...

- Voltar pra casa? Fizeram essa maldade com você em casa? – suspirou. – Odeio lidar com essas coisas... Tenho ódio disso...

Carmen levantou-se, resoluta. Precisava saber de mais informações sobre aquele menino, mas não o deixaria voltar para onde fosse naquela situação.


Carmen buscou uma roupa mais antiga do pai, uma camisa de algodão com o escudo do Milan, e a bermuda de Lena acabou resolvendo o problema. Max também ficou com um chinelo de dedo, e sua aparência parecia mais agradável do que suas roupas sujas e ar sofrido do primeiro encontro com sua nova amiga.

Assim que desceram as escadas, Giorgio e Alma Calieri estranharam as roupas de Max.

- Eu conheço essa camisa...? – o olhar do patriarca era desconfiado.

- Papai, o senhor comprou essa camisa na feira de Santa Cecília em que tinham 15 iguais! – mentiu Lena, mas Carmen não quis participar da trama da irmã caçula.

- Sejamos sinceras, Elena. – suspirou. – Você cruzou com esse menino na rua, ele estava fugindo de alguém e você quis ajudar.

- Filha, por que não disse isso antes?

- Meu Deus, menino! – Alma se aproximou, preocupada, e olhou seu rosto, os cabelos, e levantou os braços. Max ficou surpreso em ver que fora o mesmo gesto que Carmen fizera. – Quem te bateu? Eu nunca coloquei a mão em filha minha para ver um menino desses assim, abatido!

- Eu... Eu fugi de casa... Não quero voltar pra lá...

- Primeiro, vamos comer alguma coisa e depois, conversamos sobre essa situação, certo? – ponderou Carmen, preocupada.

Coração de Rainha [livro 1]Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu