capítulo 39 (✓)

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"Histórias são escritas com tintas. A revolução com sangue. "

                              V I C T O R I A

   Me impulsionei a caminhar até os portões que não estavam tão atrativos como de costume, pelo contrário eu jamais tinha visto tamanha obscuridade e melancolia em algo que há horas atrás se jazia tão magnífico. O tumulto maior se concentrava no exterior dos portões, nas redondezas dos muros do castelo onde muitos civis ainda se mantinham firmes em lutar contra os guardas que haviam matado seus amigos, familiares ou irmãos na tentativa falha de acalmar o povo.

Até onde vi os civis estavam em clara desvantagem, pouquíssimos homens da guarda estavam mortos ou sequer feridos, já a população caminhava fraca pelo local e muitos deixavam os ferimentos abertos espalharem sangue pela grama cortada.Não era compreensivo para mim como aquilo se iniciou mas pelas evidências e queimadas, o fogo havia sido o princípio. A grama que costumava ser verde ainda tinha um cheiro forte e evidente da queima. Entretanto ao atingir a parte exterior dos muros eu pude notar que os estragos no jardim da entrada não passavam de detalhes perto do caos em iminência vinda do lado exterior, havia resquícios de fogo, gritos, sangue e inúmeras pessoas brigando entre si, o grupo de civis estava em poucos números mas ainda pareciam persistentes e determinados a manter suas posições.

— Abaixa-se  — uma mão forte me jogou com brutalidade contra o chão. O impulso feroz me obrigou a travar o maxilar para não liberar um grito estridente, ou disparar um xingamento sujo.

Flechas cravaram árvores atrás de mim, lugares que teriam ido na direção do meu rosto se não fosse por aquele garoto.

— O quê...? — Eu cogitei contestar mas a mulher não parecia se importar com uma conversa. Consciente, contorci meus músculos um pouco antes de levantar de fato e alinhar o arco em minhas mãos para estudá-la.

Estreitei os olhos pelo local tentando assimilar toda a situação, quando decidi não ficar no esconderijo e sim vir para o enfrentamento não pensei muito nos detalhes, afinal o que eu deveria fazer? Não sabia. Estava simplesmente seguindo meus instintos, eu tinha noção que era impulsivo e inconsequente, mas no final das contas o que eu tinha a perder? Seria mandada embora daquele lugar de qualquer forma.

— Onde conseguiu esse arco? — Arqueei minhas sobrancelhas quando a mulher se voltou para mim de novo.

— Por que quer saber? — retruquei mais ácida do que previa. Sua presença havia surgido como um fantasma do qual somos incentivados a nos esconder.

— Ele está com as inicias do nosso líder gravada no ferro..—  a jovem apontou para as pequenas letras desenhadas em "M.R" nos extremos.— você o viu em algum lugar? 

— Líder? — perguntei curiosa, lhe olhando com toda atenção que podia.

— Sim, Martin Retry. — diz ela fervorosamente comprimindo os olhos puxados. —  Vamos dizer que as bombas e esse travamento estão longe de ser algo não proposital.. tudo isso é um susto, quase premeditado..— a mulher de cabelos curtos pronuncia as palavras extraindo-as, o entendimento cabe a mim, mas não preciso de tanto esforço para ligar uma coisa à outra.

— Vocês são rebeldes? — pergunto mas ela não responde, sua mandíbula apenas se aperta para sugestões que capto nas entrelinhas.

Um susto disse a mulher. Se aquela era a ideia de uma brincadeira e não uma guerra verídica, o que pessoas como ela e seu líder fariam quando decidissem realmente lutar? Ignorei o calafrio que correu minha espinha e ponderei tentando pensar em formas de não tornar minha resposta destrutiva para a mulher de olhos sedentos.

Rainha de Ferro Where stories live. Discover now