capítulo 17 (✓)

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"Este Mundo não é para os fracos de coração.
Porque os fracos de coração vão desmoronar"

E M E R A L D
3 meses antes

Sentada de frente para a penteadeira naquele dia, observei a lamparina acesa pela criada, ela bruxeleava uma luz fraca no quarto quando levantei os olhos e visualizei o cinza natural de minhas íris serem tonalizado pelo negro, por um instante, todas as demais luzes estavam apagadas. Mas aquele momento não se tardou, as cortinas pesadas logo foram abertas atrás de mim revelando a claridade exterior que adentrava melancolicamente o quarto. Ainda acessa, restou somente a candeia de óleo.

A criada fez um penteado nos meus fios, uma trança que começava na extremidade de uma orelha e terminava na outra, produzindo a espécie de um arco. O vestido era em tons de azul e dourado como eu costumava usar, com corpete e mangas firmes. O colar de pérolas adornava meu tronco como de costume, a joia que carregava um C de Clevaran em ouro no centro como pingente era a única lembrança viva da minha mãe que eu me permitia carregar.

Quando pronta, caminho arrastando o tecido azul escuro do traje contra as pedrinhas que fazem o caminho de uma longa calçada. No exterior do palácio de Ferro, o ar é estranhamente perfumado pelo odor de flores, onde grandes árvores de sequoia espalham-se como sombras sarapintadas por córregos que rumorejam entre ás margens ligadas ao lago. Percorro o caminho de pedras cinzas até atingir um dos jardins mais privados, repleto de silêncio, árvores sentinelas e outros salgueiros mais velhos que o próprio palácio preenchem o ambiente. Durante todo o caminho sinto-me observada e comentada pelos servos e soldados que transitavam. Já os nobres não fazem tanta descrição em arregalar os olhos ao me ver passar. "Ela não está respeitando o luto." "É uma vadia que costumava dormir com o príncipe, pelo visto sua morte não lhe afetou." O do lado riu e respondeu "Vadias servem para esquentar camas não para lamentar sentimentos."

— O que estão olhando, sou tão irresistível assim? — mostro os dentes, de uma forma que eu sabia ser indevidamente cruel.

Os olhares não se dispersam, pelo contrário, ficam apenas mais cheios de perplexidade. Em outra ocasião eu me aproveitaria daquela situação para demonstrar a eles quem eu era. Mas meus esforços tinham que ser concentrados totalmente na descoberta de um boato que eu pedia para não ser real.

Encontrei meu pai naquele jardim. O Duque Henrique tinha a grande e ornamentada espada pousada sobre as coxas, e limpava-lhe a lâmina com algum tipo de faixa, me fazendo lembrar das histórias que ele costumava contar sobre as gerações passadas da nossa família que já a pertenceram, não consigo imaginar quem vai tê-la depois da sua morte, Ben não era merecedor e eu era uma mulher. O vento demonstrou engolir meus pés, mas os olhos azuis acinzentados do Duque não oscilaram.

— Milorde — cumprimentei, fazendo uma breve reverência e lhe beijando as mãos.

Ele ergueu a cabeça para me olhar, deixando um sorriso indecifrável transparecer nos lábios.

— Emerald. — sua voz era distante, formal.

Meu pai remexia os cabelos em uma mania estranha que o perseguia. Naquele ambiente com nós dois tão próximos poderia se ver claramente a semelhança Clevaran, os cabelos e a pele pálida, os olhos profundos. Eu era a mais complexa de nós três, a mais bonita, sabia que era e usava isso ao meu favor, com manipulações espirituosas e joguinhos baixos.

— Exijo que me explique o que está tramando.

— Você não me exige nada. — O patriarca tinha na mão um bocado de couro oleado no qual deslizava com leveza a espada enquanto falava, sem sequer me olhar, o metal era polido até soltar um brilho escuro. — O que faz aqui Emerald? Se a conheço o bastante tem um motivo para me procurar; o fale de uma vez. Não tenho tempo para seus joguinhos.

Rainha de Ferro Where stories live. Discover now