capítulo 32 (✓)

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"Com apenas um toque, o céu estremeceria sob os seus dedos."

{8 horas depois}

A cerimônia do funeral ocorrerá no lado externo do palácio, quando chego posso observar centenas de pessoas se tornarem pequenos pontinhos negros no jardim, como se de fato a escuridão tivesse tomado nossos corpos naquela tarde.

— Ainda bem que cheguei há tempo.. — me viro de relance observando Owen agitado, ele ainda estava arrumando as abotoaduras e passando as mãos sob os fios grisalhos quando se aproxima.

— Há tempo de que? — Passo a língua nos lábios diminuindo meu ritmo. Tento sorrir para ele, mas é mais difícil do que deveria ser.

— Não iria deixá-la ir até a frente sozinha. — Owen me oferece seu braço como apoio e eu o aceito, acompanhando-o em uma caminhada lenta. — Respire fundo, você vai conseguir.

Faço que sim com a cabeça, me firmando ainda mais em seu braço.

A realeza tinha acentos marcados na frente bem próximo do caixão e de onde ocorreria a cerimônia. De fato passar pelo meio daquelas pessoas com olhares tão pesados não foi fácil, mas para cada vez que a dor me alcançava Owen apertava minha mão devagar, me lembrando de como eu deveria suportá-la.

— Tentei poupa-lá do discurso, mas como é uma Ferro e Amélia também era, as pessoas precisam ouvi-lá. — Lorde Owen cochicha quando encontramos nossos acentos e sentamos.

— Tudo bem eu entendo, e na verdade realmente desejo falar algo.. — Afirmo e Lorde Owen assente com um sorriso fraco e orgulhoso.

Após a cerimônia tradicional ocorrer o padre me chama a frente para falar as palavras finais, naquele momento a dor e a aflição eram tão intensas que me anestesiaram de todo o resto.

Caminho firme até a frente, onde de relance avisto Daaniel. Ele está ao lado de Emerald que brilha mesmo com um semblante triste, na minha percepção ou aquela garota fingi muito bem ou realmente lamenta a morte da duquesa. O Astor ao me ver une as mãos no colo, torcendo-as. O pomo de adão na garganta dele sobe e desce, mas Daaniel não se encolhe como imagino. Os olhos esverdeados encontram os meus antes de seus lábios se abrirem em um leve sorriso. Isso não deveria me amolecer, não deveria fazer meu coração se apertar dentro do peito. Mas faz. Tento pensar nas coisas que ele me disse mais cedo, na frieza em sua voz, na ameaça clara que ele representa ao trono que é meu.

Tento pensar nele como o homem que põe suas ambições acima de mim, mas o vejo apenas como o garoto do jardim, a pessoa que me salvou e me levou a praia, aquele que deu meu primeiro beijo e fez meu coração disparar pela primeira vez. Preciso fazer um esforço sobre-humano para respirar fundo e afastar seus olhos de meus pensamentos.

— Boa tarde a todos. — Não hesito nem gaguejo com as palavras, como talvez tivesse feito alguns dias antes. Agora depois da morte de Amélia me sinto como uma pessoa totalmente diferente.

— A duquesa era de fato uma pessoa extraordinária como muitos de vocês já sabem. Tenho certeza de que seus feitos ficarão gravados na história e eternizados em nossos corações, não importa quantos séculos passem. — respiro fundo, as palavras girando no meu estômago até subirem ao encontro da minha garganta com um gosto amargo. — Amélia não era extraordinária devido a sua família, sangue ou sobrenome, ou a um casamento, era extraordinária por sua força inabalável e uma determinação inconfundível. Sua elegância e sua sede pelo bem e pelos valores perdidos no tempo me inspiraram, e com certeza faziam desse mundo um lugar mais digno.

Tenho que lutar para continuar, para não desmoronar bem ali. Estou oscilando quando vejo Ben em pé no final de todos os rostos, ereto como de costume, uma arma a postos que ao me encarar estala se tornando algo próximo de beatífico, sua feição é uma coisa frágil e alquebrada tão diferente daquela que estou habituada a ver, a que é capaz de ameaçar e destruir qualquer um apenas com seu olhar.

Rainha de Ferro Kde žijí příběhy. Začni objevovat