capítulo 12 (✓)

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"Os maiores atos de fé sempre foram depositados naquilo em que ninguém acreditava ter mais esperanças."

V I C T O R I A

  

— Fala que estou doente, dor de barriga qualquer coisa. — implorei a Helena enquanto cobria minha cabeça com o lençol.

— A senhorita precisa se enturmar..— Helena insistiu

— Não sei se quero mais. — bufei como uma criança.

— Em dois meses no solstício, acontecerá o festival de colheita e consequentemente a coroação milady, tem que estar preparada..

— Não vou disputar a coroa. — respondi firmemente, embora soubesse que as intenções de Helena eram as melhores, não estava disposta a carregar tal título.

— Eu acredito que se tornaria uma boa Rainha..

— Gentil da sua parte Helena, — admito. — Mas vamos ser sinceras, não tenho capacidade para lutar contra uma guerra civil.

— Ninguém nasce preparado para uma guerra. — minha criada proclamou, enquanto dobrava os lençóis. — Nós somos forjados para enfrentá-la, e na maioria das vezes, sem poder de escolha.

Suas palavras foram um soco contra meu estômago. Aquele era o relato de alguém que batalhou uma vida inteira, e que o destino não a surpreenderia com a possibilidade de descobrir ser um membro da corte, ela continuaria a batalhar, sobreviver. Até que o ar dos pulmões lhe fosse sugado e tudo se tornasse em vão.

Levantei mesmo contra a minha vontade e deixei que Helena me preparasse. A minha pequena mala com algumas peças parecia insignificante conforme ela apresentava novos vestidos que trouxera. E ainda assim, aqueles eram apenas modelos provisórios, baús de vestuários com as medidas que tiramos ontem já estavam sendo produzidos e em breve meu novo guarda-roupa estaria pronto.

A extravagância era demais sem dúvidas, mas, no fundo eu estava empolgada com aquela parte, a moda sempre me encantou, durante minha infância em Golden Fox eu era obcecada com os vestidos e as joias que adornavam a única mulher com dinheiro que passou pela cidade, ela era a esposa de um senhor dono de fábricas e sua estadia no pequeno vilarejo foi a apenas um borrão rápido na memória dos habitantes, mas eu me lembrava claramente dela, de como era bonita e me deixava encantada, no fundo, eu desejava aquelas coisas como se fosse uma garota nascida em berço de ouro. A beleza costumava ser uma ideia para sonhar, mas agora era tão real que fazia minha cabeça doer.

Quando terminei de me vestir, o cômodo adjacente a antecâmara já estava em movimento pelo desjejum que era posto à mesa, um banquete particular para mim e Helena. Agradeci algumas das criadas que preparavam o espetáculo conforme aproveitava o momento de concentração da minha criada para passar os dedos pelas estantes. Minhas unhas correndo naquelas dezenas de títulos.

— Qual seu livro favorito, Helena?

— Só li um em toda a minha vida, o passarinho.

Cortinas translúcidas flutuavam diante das enormes janelas. O espaço está inundado pelo sol de outono, mas é quente e impregnado com a fragrância de água de rosas que eles usam para aromatizar meu quarto.

— A história fala sobre o quê?

Os dedos ágeis da ruiva mexem a agulha sobre o tecido habilmente em sua mão, acredito que ela poderia costurar aquele ajuste até mesmo de olhos fechados.

— Era sobre uma menina criança que queria ter asas, certo dia um acidente horrível aconteceu com ela e a mesma não se recuperou, nos últimos minutos de vida a única coisa que ela queria era o poder de voar. Ela fez aquela prece baixinho e quando se foi, transformaram-na em um passarinho.. A menina passou anos voando pelo mundo, atravessando os mares e continentes. Mas havia um, porém é claro, ela seria passarinho, contando que nunca escolhesse pousar. Jamais. Por anos aquilo pareceu fácil, mas depois era cada vez mais difícil apenas vagar..

Rainha de Ferro Where stories live. Discover now