18. O CONTO DE UM TRAIDOR

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O silencio se espalhou pelo ar como a fumaça de algo queimando no fogo, porque talvez, seja exatamente isso. As engrenagens do meu cérebro queimando para conseguir entender o que acabei de ouvir.

- O que foi que disse? – Pergunto com o cenho franzido.

Chris parece a ponto de choramingar, talvez para que eu pudesse esquecer isso. Ele leva os dedos à ponte do nariz, como se assim pudesse impedir uma possível enxaqueca no futuro. Fechando os olhos apertados, ponderando se poderia simplesmente fingir que não disse nada, mas é tarde demais. Eu ouvi cada palavra, tão clara como o dia lá fora.

Finalmente se decidindo, Chris morde o lábio inferior, respira fundo e finalmente parece pronto para me contar o que quer que signifique ser um traidor.

- Sophia disse que sou o último Vampiro da linhagem? – Perguntou de repente, no que eu assenti com a cabeça. – Quanto ela contou?

- Que você sempre foi um prodígio. Agente júnior aos 8, promovido aos 10. Nada mais que isso.

Chris balança a cabeça entendendo a situação.

- Certo, não é muito... – Ele diz num murmúrio para ele mesmo. – Antes de eu contar tudo, quero pedir que apenas me ouça e depois, se quiser perguntar ou comentar ou qualquer coisa que sei que vai querer, espere eu terminar. Se eu for interrompido, não sei se conseguirei continuar. Entendeu?

Eu ia falar, mas apenas acenei em afirmativa com a cabeça, engolindo em seco para me preparar para o que vem por aí.

- Antes de Aurora existir, com toda a perseguição ao nosso povo, houve uma reunião para que decidíssemos o que seria feito. As escolhas eram simples. Violência, morte aos humanos, ou fugirmos para nunca mais sermos encontrados. Os votos foram variados, alguns queriam a paz, outros queriam dominar o mundo com a força e vantagem que tínhamos sobre eles.

"Meu ancestral votou pela violência e quando foi decidido que Aurora seria construída, ele não ficou muito feliz, mas fingiu aceitar de bom grado. Ele era um homem ambicioso, sedento por poder e não só o poder que temos, mas poder político. Sempre teve inveja dos ardentes e passou todo esse sentimento por gerações."

Por um momento, Chris pausa a fala. Seu maxilar tenciona e ele foca os olhos nas mãos, apertando os dedos uns contra os outros, os deixando brancos pela falta de sangue. Depois do que pareceu uma eternidade em silencio, ele finalmente continuou e apurei os ouvidos.

- Meus ancestrais fundaram a nação rebelde, sempre usando jogo de palavras para descobrirem quem era contra o reinado Ardente e, consequentemente, disposto a lutar pelo certo. Mas o certo que os rebeldes tanto admiram não é o certo da minha família. O que querem é ver um Vampiro no trono e todos os Ardentes mortos com as cabeças expostas aos seus pés.

"Não seria nada bonito ou justo."

"Poucos meses antes de eu nascer, a rainha anunciou estar grávida pela segunda vez. O reino inteiro comemorou por uma semana inteira, estavam confiantes de que dessa vez, além de uma mulher no trono, os rebeldes tinham desistido de qualquer motim já que, no nascimento da princesa Amber, nada tinha sido feito."

"Eu queria que eles estivessem certos, como eu queria. Mas a realidade foi totalmente diferente. Eles aguardaram o momento certo. Meus pais estavam colhendo simpatizantes a anos, ganhando a confiança do rei que não sabia nada do que eles faziam e assim, ganhando acesso ao castelo, a família real e um passo mais perto da vitória."

"Mesmo depois de me segurarem nos braços..."

Mais uma pausa, mas dessa vez, não sinto a ansiedade de que ele continue, mas uma dor que posso ver claramente em seu semblante. Suas mãos tremem e Chris cerra os punhos para conter a onda de emoção. Fecha os olhos por um curto período de tempo, espantando as lembranças eu imagino.

Beijada pelo FogoWhere stories live. Discover now