8. SENTIR

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Não demorou muito para Sophia se animar de novo. Ela é uma máquina de animação, e quando fomos embora, ela saiu falando e falando com Ryan que ouvia com toda a atenção e paciência do mundo. Agatha veio se despedir, pediu que voltássemos todos os dias e se emocionou de novo ao falar comigo, não chegou a chorar, ou melhor, não chorou na minha frente.

- O que você tem agora? – Chris pergunta próximo ao meu ouvido quando, finalmente, estamos sozinhos e a rua está quase vazia.

- Tiro ao alvo com... – Tento lembrar o nome da professora, mas não consigo. Sempre fui ruim com nomes.

- Maryl Grand. – Chris completa para mim. – Só ela poderia treinar isso com você. Foi a terceira melhor na Academia em sua época.

- Como ela pode ser a única a poder me treinar se ficou em terceiro lugar?

- Porque Aaron foi o primeiro e Mary a segunda.

Sua resposta me deixa em silêncio, sentindo o peso e o orgulho que vem junto com aquelas palavras. Eles foram os primeiros, provavelmente viviam ao lado do rei. E ainda assim, desistiram de tudo para me proteger e me treinar.

- Certo. – Respondo, colocando as mãos nos bolsos da jaqueta mesmo não estando com frio. – Para onde vamos agora?

- Tiro ao alvo é na torre B, atrás do campo de atletismo. – Ele explica, como se eu soubesse exatamente o que está descrevendo.

Chris anda com confiança, sabendo onde está indo. Eu por outro lado, vou andando ao lado, seguindo seus passos e totalmente perdida. Voltamos pelo caminho que viemos, e dessa vez, pegamos o mesmo caminho de pedras para o castelo mas, antes de chegar lá, Chris desviou para as duas torres que vi quando estávamos indo. Seguimos pelo centro, apenas nós dois. Ao redor, tudo está vazio, as portas fechadas e apenas o som da natureza como sinal de vida.

Não notei antes, mas as torres não são exatamente torres. Talvez sejam para o padrão Aurora, mas são mais parecidas com enormes mansões de lordes e duques que vemos na TV. Começam na frente, com um ar simples, mas conforme ando entre elas, percebo o quão errada estou. A ponte se estende por mais ou menos 8 metros entre elas. Larga e bem arquitetada. E além, a torre ainda continua, abrindo para um campo. A da direita continua reta, mas abaixando o nível de altura. A da esquerda curva para a esquerda, e parece ser usada mais como um depósito.

O campo enorme tem etapas e divisórias. Pista de corrida, obstáculos, equipamento. O que mais me fascina é o que vejo no meio. Uma grande construção parecida com um tronco cortado no toco, mas de ferro. Não faço ideia do que seja, mas parece fantástico ou assustador, dependendo do ponto de vista. Ao primeiro olhar, é inútil, mas enquanto chego perto, percebo que não é bem assim. Marcas estão por toda parte no ferro, amassados, arranhões e, as que mais me despertam curiosidade, marcas cortadas no metal como gavetas. Umas redondas, outras em hexágono, mas todas milimétricamente colocadas.

Um homem de cabelos escuros e porte forte aparece no meio do campo, distraído ele anda até o enorme tronco de ferro e parece verificar algumas coisas. Abaixa, chuta terra extra para o outro lado e anda de novo, de um equipamento a outro.

- O que ele está fazendo? – Pergunto a Chris. Ele nem tinha visto, e quando olha para onde eu olho, dá de ombros.

- Aquele é Carlo Wolf, pai do Josh. Deve estar se preparando para treinar o filho.

- Mas achei que todos estivessem de folga.

- Não ele.

Olho mais uma vez para trás, vendo agora Josh correr na direção de Carlo, arrumando as luvas na mão e parecendo ofegante. Ele olha em volta, e seus olhos captam a mim e Chris. Eu desvio o olhar.

Beijada pelo FogoWhere stories live. Discover now