9. A GAIOLA

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Cada dia é como uma sessão de Spa diferente, e parece que isso vai se tornar frequente em minha rotina. Com todo cuidado, Lya me acorda e me leva para o banho, onde Clara me espera com uma banheira cheia e sais de vários tipos a minha disposição. Quando volto, a cama está arrumada, as janelas e a sacada estão abertas e a luz entra, iluminando todo o vermelho do quarto naturalmente. As roupas do dia já estão estendidas na cama, e no canto, o café é servido na mesa.

A mesma rotina, o mesmo desconforto.

É tanto para assimilar, para me acostumar que começo a sentir saudades do meu quarto bagunçado, mamãe servindo torradas queimadas enquanto reclama que preciso arrumá-lo. Meu pai rindo enquanto entope a sua torrada de manteiga ou geleia para disfarçar o gosto e não magoar minha mãe, que no fim, sempre percebe e briga com ele também. Briga para que ele não coma aquelas coisas queimadas e horríveis, podem acabar fazendo muito mal.

Chris não apareceu hoje de manhã, e eu desço as escadas, andando pelo hall pensando nessas coisas. E quando abro as portas, duas pessoas estão do lado de fora. Ryan, com sua pele escura brilhando ao sol, se senta no parapeito da cerca da varanda com roupas casuais, jogando alguma coisa para cima e para baixo. Abaixo dele, nos degraus da escada, uma cabeleira loira balança enquanto sua postura parece frustrada e impaciente.

- Ela já deveria ter saído a essa hora. Acha que eu a assustei ontem? – Sophia pergunta, olhando para o jardim a sua frente.

- Você pode ser bem assustadora as vezes, mas não acho que seja isso. – Ryan responde em tom de brincadeira.

A cabeça de Sophia se vira de uma vez, e sua expressão, mesmo de perfil, não é nada boa. Eu sorrio, me aproximando do casal.

- Estou aqui. – Eu anuncio e os dois me veem ao mesmo tempo.

- Graças a Arthur! – Ainda não entendia aquela fala, mas me surpreendo quando Sophia vem ao meu encontro e me abraça.

- Isso é novo. – Relato ainda estranhando todo o afeto repentino.

- Achei que não viria mais, que tivesse sido comida por trolls, ou enfeitiçada por sereias, ou virado brinquedo de fadas, sei lá!

- Bom, eu vivo no palácio. – Digo o obvio. – Duvido que qualquer uma dessas coisas possa passar pela porta, e se ainda assim conseguirem, terão que passar pelos seguranças que dormem a minha porta.

Ryan ri do rosto de Sophia que fica vermelho, envergonhada por dizer besteira. Ou é isso que ela imagina. Mas eu também dou risada, a situação toda é engraçada, e com Sophia no meio, fica ainda melhor. E por um instante, mesmo que pequeno, me sinto confortável.

- Mas o que estão fazendo aqui? – Eu pergunto, agora percebendo que não é comum que eles venham ao palácio.

- Chris mandou um aviso em minha joia dizendo que não poderia te acompanhar, pediu para eu te acompanhar. E claro que chamei Ryan, onde eu vou, ele vai também.

- Ah, então é isso.

- Inclusive, está na nossa hora. Vamos.

Ryan tem razão. Eu já demorei para descer, e se ficarmos conversando vamos nos atrasar para a aula.

Agora, temos combate corpo a corpo, como essa aula está proibido o uso de poderes, eu posso participar com todo mundo. Internamente, agradeço aos treinamentos agora. Se não tivesse nada, provavelmente estaria perdida.

Sophia fala o tempo inteiro, e nem parece se importar com o meu silêncio e de Ryan ao seu lado. Tudo o que fazemos é balançar a cabeça de vez em quando, afirmando que estamos ouvindo, e logo ela volta a falar.

Beijada pelo FogoWhere stories live. Discover now