10. O CONTO DE AURORA

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Com o quadro escuro e o pó branco do giz, as palavras se destacam parecendo quase pular para nós, mas uma delas me chama atenção. Arthur. Agatha falou esse nome mais cedo, tão automática e religiosamente quanto falando Deus. Achei que fosse apenas uma superstição, mas para estar na história, deve ser algo muito mais sério.

Angel Marly da um passo em nossa direção, e atrás de nós, as portas se abrem com um estrondo enorme no meio do silêncio. Josh passou por ela, e o olhar da srta. Marly não foi dos melhores.

- Desculpe, srta. Marly. Eu tive que falar com meu pai e...

- Não quero saber. – Angel o interrompeu num tom seco. – Sente-se sr. Wolf, antes que eu mude de ideia.

O garoto abaixa a cabeça, e enquanto a professora volta ao raciocínio, ele se apressa em sentar-se no único lugar disponível. Ao meu lado.

- Continuando. – Srta. Marly continua, tomando novamente a atenção da turma. – Comecemos pelo início. Alguém pode falar sobre a fundação de Aurora? – Pergunta, e logo uma mão a nossa frente se estica para o teto. – Sophia?

- Nós sempre coexistimos com os humanos comuns na terra, até alguns começarem a se incomodar com nossos dons. Foi aí que os fundadores de Aurora se reuniram para explorar a situação. Cada um com um dom. – ela fez uma pausa, levantando a mão para o que imagino, contar os dons nos dedos. – Mais influentes e mais fortes sendo os elementais: Fogo, água, gelo e eletricidade. Vindo depois os chefes dos metamorfos, telepatas, naturalistas, envenenadores, hionotizadores, médiuns... – Ela da um sorriso especial, que a professora recebe com outro ao nomear os médiuns. – E por fim... – Ela franze o cenho. Parece que se esquece da última raça.

- Vampiros, Srta. Meredicth.

- Isso. – Sophia conclui com firmeza. E depois de respirar fundo, continua. – Na reunião, acharam que não seria nada demais uma revolta de um ou dois humanos comuns. Seriam chamados de loucos e, com toda a ajuda que havíamos dado nas guerras, era impossível que se virassem contra nós.

- Não fico surpreso por estarem errados. – Uma voz lá do fundo fala e todos se viram para olhar. Marcos, um dos irmãos envenenadores está com os braços cruzados atrás da cabeça e, ao receber o olhar matador de Sophia, ele os levanta em rendição.

- Infelizmente, Marcos está certo. Eles estavam errados e com esse erro, muitos morreram, dando início a caça às bruxas de Salem. – Ela engole em seco, dando outra pausa.

- Está ótimo até aqui Srta. Meredicth. Vamos dar a oportunidade para outro, sim? – Ela diz e olha em volta. – Alguém pode ser gentil como nossa colega e se habilitar a continuar a história?

Silêncio. Cabeças foram baixadas, corpos escondidos nas cadeiras. Aparentemente, ninguém queria falar. Devem ter crescido ouvindo essas histórias, e não parece que se agradam do que aconteceu.

Eu tive aulas sobre essa caça na escola. Foi um massacre sem um pingo de piedade, nem para nós, nem para eles. Perdas inestimáveis para os dois lados.

- Com a ameaça iminente... – A voz saiu do meu lado. Rouca, segura demais. Quando olhei, os olhos verde escuros moveram da professora para mim. Senti um nó se formar em minha garganta, e mais uma vez, sou pega num transe. – Os fundadores se juntaram, criando assim uma dimensão em terras que humanos não podem entrar, a não ser que convidados. Todos nós, e todas as criaturas mágicas que eles desprezaram, vieram para Aurora.

Um final feliz? Ele sorri como se lesse meus pensamentos, mesmo sabendo que não pode, me sinto exposta por um milésimo de segundo. Quebrando o contato com o olhar, se volta para a professora na frente da sala.

Beijada pelo FogoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora