Quero ela de volta

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-olha só para ela.
-ela não tinha morrido?
Enquanto eu andava em direção a entrada da escola eu ouvi de tudo. Todos falavam de mim, todos me olhavam estranho.
-Anna!- Nick gritou do outro lado do corredor e veio correndo me abraçar.
-Nick!- fingi entusiasmo.
-oh meu Deus, eu estava tão preocupado, e-eu não tinha nem ideia do que faria sem você.- ele me abraçava forte.- eu tentei te ver ontem mas não me deixaram entrar!
-senti saudades também.- sorri.
-me conta oque houve.- pediu.
-pode ser outra hora?- eu não consigo falar sobre isso agora. Não posso chorar agora, não posso.
-claro.- ele me abraçou de lado e seguimos em direção a sala.
-ué você não tinha morrido não?- um menino babaca perguntou.
- ei, não liga pra essas pessoas não, elas são babacas.
-eu to me sentindo um Alien. É como se eu fosse uma morta viva sei lá!
-fica tranquila, eles vão parar.- me tranquilizou.
Eu realmente não pertenço a esse lugar. Toda essa gente falsa e sem conteúdo, essas pessoas vivem de status.
Falando em gente sem conteúdo... Olha lá o Jack.
Dou de cara com ele logo que entro na sala.
-Anna, oi. Você está bem?- veio até mim.
-to sim, valeu.- fingi um sorriso.
Percebi que olhando para ele eu não sentia mais nada, nada nele me chamava a atenção. Seu cheiro seus olhos, sua personalidade, tudo oque me chamava atenção nele não significa mais nada. De repente o Jack  era só mais uma pessoa do colégio.
Fui em direção a minha carteira, eu me sento ao lado do Nick oque ajuda um pouco.
-oque quer fazer hoje?- ele perguntou.
-sumir daqui.- falei irritada com o ambiente.
-claro, pra onde quer ir?
-você tem alguma cigarro?- perguntei.
-desde quando você fuma?
-faz um tempo já.
-tenho alguns em casa.

Foi toda aquela cerimônia, o professor entrou na sala, alguém gritou que eu estava de volta e o professor falou que sentiu minha falta e bla bla bla.
Meia hora de aula depois, oque foi uma tortura, eu fui em direção ao meu armário para poder ver se minhas coisas ainda estão lá.
Nick apenas me seguia sem falar nada, ele percebia que eu não queria falar.
Meu armário está repleto de cartões, flores e ursinhos de pelúcia.
-oque é isso?- perguntei sem entender.
-Pensamos que você estivesse morta... fizeram até uma homenagem para você.
-oh... é verdade.
-não se preocupa, isso não é nada, o importante é que você está de volta.- ele me abraçou.
Eu estava com vontade de chorar.
Respirei fundo.
-quer levar essas coisas pra sua casa?- ele perguntou.
-vamos queimá-las!- me animei.
-tudo oque você quiser.- ele sorriu e me ajudou a pegar todas aquelas coisas.
Fomos em direção ao carro dele.
-pode colocar no banco de trás.- disse abrindo a porta.
Nick era rico pra caralho, seu carro era uma BMW enorme.
Quando entrei no veículo me deparei com diversas garrafas de vodka e cerveja vazias.
Olhei para tudo aquilo e senti pena dele, pobre Nick.
-não me olhe assim.- pediu.- não sinta pena, eu sei oque fiz.
-porque fez isso Nick?
-eu não conseguia acreditar que você estava morta, e-eu precisava escapar da realidade, precisava de uma anestesia.
E isso me fez pensar em John, em como ele poderia estar, se Nick estava assim imagina como John deve estar.
-Anna?- me chamou.
-oi.-acordei do meu transe.-desculpa.
-tudo bem... vamos?
-vamos.
———-
Fomos até a casa do Nick buscar a maconha que infelizmente tinha acabado, então compramos cigarros normais.
-para aonde vamos?- perguntei sem saber para aonde ele me levava.
-você vai ver.
Minutos depois paramos em frente a uma casa enorme que ficava totalmente isolada do resto da cidade.
-que casa linda.
-linda não é mesmo? Bem... ela é minha.- falou em quanto tirava as coisas do carro.
-sua?!
-essa é uma das muitas casas que meus pais tem, eles só me deixaram ficar com ela porque é velha.
-mas ela é maravilhosa.
-foi construída e decorada nos anos 70, então é retrô por dentro e por fora.- me guiou até a porta.

Bem, ascendemos nossos cigarros e logo em seguida ascendemos a lareira para queimar todas as coisas.
Nick respeitou o meu  espaço e não me perguntou nada sobre aquilo, mas eu tive que contar para ele que eu tive os melhores momentos da minha vida nesse período de tempo, oque ele não entendeu muito bem mas ficou feliz por mim.
Eu posso até ter levado as minhas memórias sobre o 1960 para trás por um tempinho, mas elas ainda estavam lá e sempre voltavam com força.
A parte boa  disso é que o Nick de alguma forma me ajuda a esquecer da dor que eu sinto dentro de mim.
————
Voltei para casa as 9:30 da noite, minha mãe estava puta... porque? Porque eu cheguei tarde óbvio.
-Aonde você estava Anna Clark?!- ela gritava.
-eu estava na casa do Nick, vou ter que repetir quantas vezes?- o nível de fodase que eu to chega a ser incrível. Mais uma mania que aprendi com John.
-Filha eu fico preocupada!
-mãe, pelo o amor de Deus né.
-pelo o amor de Deus? Você sumiu por DUAS semanas! As duas semanas mais horríveis da minha vida, então eu tenho SIM o direito de ficar preocupada. Agora sobe para o seu quarto!- ela gritava muito, confesso que fiquei assustada.
Como ela mandou eu segui para o meu quarto.
Me sentei na cama e senti um peso enorme cair sobre mim, eu desabei. Soltei todas as lágrimas que eu estava segurando o dia inteiro.
E os dias passavam e nada mudava.

Ano 1960
John pov

-John take it easy mate.- Paul me segurava porque eu não parava de tropeçar.
-it's ok Paul love!- Eu falava completamente bebado.
-no it's not, you're not ok John.
-porque não estaria bem!?
-você deveria beber menos, aí não precisaria que eu te carregasse pra lá e pra cá.-ele estava irritado.
-no no listen baby, it's everything alright.- dei uma risadinha, minha voz estava completamente arrastada.
-no John it's not! Você sabe que não está bem, desde que a Anna se foi você finge que está tudo bem, mas você sabe que não está! - ele gritou.
Eu senti uma vontade imensa de chorar, era como se eu fosse uma criança que acaba de se ralar e a mãe passa remédio no machucado, Paul tocou na ferida e eu desabei de tanto chorar.
-Hey I'm sorry, it's going to be fine.
Me ajoelhei e coloquei as mãos em meu rosto.
-I miss her Paul, I miss her so fucking much.- soluçava.
-I miss her too.- senti ele encostando  em minhas costas.
-quero ela de volta.- implorei.
-eu sei que quer, todos queremos. Mas se embebedar nesse nível não vai te ajudar em nada... fazem apenas quatro dias então eu te perdoo, por hoje.- ele envolveu os braços em mim.- vem, agora vamos voltar, o Stu deve estar nos procurando.
Levantei com dificuldade ainda chorando e seguimos pelas ruas escuras de Hamburgo.

Here today - John LennonWhere stories live. Discover now