48 - Minha Anne com E

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- Candidatos da Queens! - a Srta Stacy entrou segurando as folhas com as notas nas costas - Tenho nas mãos as notas das provas de admissão. Independentemente do resultado estou orgulhosa de como trabalharam duro e de como se superaram. Deram um ótimo exemplo a Avonlea. E agora... - bateu com as folhas na mesa - Vejam!

Todos correram animados para os papéis e começaram a procurar por seus nomes.

- A Diana entrou! - Tillie, que tinha tomado à frente de uma das folhas anunciou.

Anne abriu um lindo sorriso e parabenizou a amiga. Diana havia decidido fazer as provas na última hora e fiquei muito feliz porque Anne teria sua melhor amiga ao seu lado quando fosse para a Queens.

- O Gilbert e a Anne empataram em primeiro lugar! -Tillie anunciou mais uma vez.

Dessa vez o sorriso dela foi direcionado a mim, e meu coração se encheu de alegria e orgulho. Por ter conseguido as notas que eu precisava para tentar a Universidade de Toronto. E por Anne estar ao meu lado nessa conquista. Não havia mais disputas, éramos iguais.

Anne continuou me olhando e começou a contornar nossos colegas que continuavam reunidos em torno da mesa. Ela vinha na minha direção.

- Com essas notas, vou dizer au revoir, porque o melhor da ilha vai para Paris! - Moody gritou e eu fiquei sem jeito, todos pareciam saber que eu iria para Sorbonne e eu estava impedido de revelar que não iria.

- Parabéns! - Anne disse me estendendo a mão.

- Obrigado. - apertei sua mão pensando em como eu senti falta de olhar aqueles olhos.

- Tem algo que gostaria de dizer? - ela perguntou - Que queira dizer... para mim?

Ah! Havia tantas coisas que eu queria dizer a ela. Meu coração gritava: Eu não estou noivo. Eu te amo!

- Eu... é... meus parabéns. - foi o que eu disse.

- Pessoal! - a Srta Stacy chamou a atenção de todos e nos viramos para ela - É com o coração pesado, mas orgulhoso, que digo pela última vez... Classe dispensada!

Olhei para Anne, ela parecia emocionada, prestes a chorar. Ela e a Srta Stacy haviam criado um vínculo profundo e eu sei que aquela separação doía. Doía em mim também, eu guardaria esses últimos anos de escola para sempre em minha memória.

- Foi a melhor professora, Srta Stacy. - Diana falou abraçando nossa professora que também estava emocionada.

- Lâmpadas de batata para sempre! - Moody gritou.

- Posso visitá-la antes de ir para a Queens? - Anne perguntou à Srta Stacy quando todos começaram a sair.

- Tive a mesma ideia. Sim, por favor.

Anne saiu com as amigas e eu fiquei para trás, precisava falar com a Srta Stacy longe de todos.

- Srta Stacy, podemos conversar? Em sigilo absoluto? - eu perguntei quando estávamos sozinhos.

- É claro.

- Não posso explicar agora, mas não vou pra Sorbonne. - ela pareceu triste com a notícia, mas eu não podia explicar para ela que não havia motivos - Com essas notas, entro para a Universidade de Toronto, certo?

- Seria uma entrada tardia.

- Mas se a senhorita... escrevesse para sua amiga médica...

- Emily? É claro!

- Uma recomendação sua poderia selar meu destino agora que tenho minhas notas.

- Mandarei um telegrama. Não há tempo a perder.

- Obrigado!

Quando cheguei em casa Bash estava à minha espera na varanda.

- E então? Conseguiu uma nota boa?

- Anne e eu ficamos em primeiro! - eu disse orgulhoso.

- Parabéns irmão! - ele falou me abraçando - Vocês dois, heim? Foram feitos um para o outro mesmo! - eu apenas ri - Você vai tentar ir para Toronto agora?

- Sim, a Srta Stacy vai enviar um telegrama para a amiga dela. - suspirei - Acho que vou conseguir!

- Você já percebeu que vai para o outro lado do país?

- Eu sei onde é Toronto, Sebastian!

- E sabe onde é Charlottetown também, não é?

- Onde exatamente você está querendo chegar?

- Em uma semana, você poderá estar indo morar muito longe, Blythe! E vai embora assim? Sem falar para Anne que não está noivo? Sem dizer o que sente?

- Ela sabe o que eu sinto, e disse para eu me casar com a Winifred!

- Sabe? Sabe mesmo? Você olhou dentro dos olhos dela e disse claramente: Eu amo você?

- Não, mas...

- Então você não fez da forma correta! Pense nisso! - ele falou saindo.

Bash tinha razão. Eu estava prestes a me separar de Anne por muito tempo. Ainda viria para casa nas férias, mas não poderia vir sempre. E nada me garantia que ela estaria aqui ao mesmo tempo.

Por mais que Winifred merecesse que eu cumprisse a promessa que lhe fiz. Eu precisava dizer a Anne que não estava noivo. Eu havia decidido que seria sincero comigo mesmo e não poderia deixá-la sem ser verdadeiro com ela também.

No dia seguinte fui até Green Gables, com a desculpa de devolver a caneta de Anne, que estava comigo desde o dia anterior às provas. Bati na porta, mas ninguém atendeu.

- Olá! - fui entrando - Olaaá?

Não tinha ninguém em casa. Deixei a caneta para ela em cima da mesinha perto da porta. Mas eu não poderia sair. Eu não fui até lá apenas entregar uma caneta. Olhei em volta e encontrei um pedaço de papel. Era uma lista de compras. Virei do outro lado e comecei a escrever.

Querida Anne,

Já que estamos nos separando, talvez para sempre sinto que devo abrir meu coração.

Você é o objeto da minha afeição e do meu desejo. Você e só você, tem a chave do meu coração.

Por favor, não se assuste. Não espero ser correspondido, mas não posso, em sã consciência, esconder isso. Não vou me casar, e nunca me casarei, a menos... que seja com você. Anne, minha Anne com E.

Sempre foi e sempre será você.

Com amor, Gilbert.

P.S. obrigado pela caneta. E boa sorte em Queens.

Dobrei o papel, escrevi seu nome e coloquei em cima da mesa, com a caneta. Estava saindo quando pensei que talvez ela não encontrasse ali. Ou talvez outra pessoa lesse e aquilo era algo que deveria ficar entre nós dois, se ela quisesse.

Peguei o papel de volta e subi a escada. Uma vez eu a vi pela janela de um dos quartos e segui naquela direção. Ao entrar tive certeza de que aquele quarto pertencia à Anne.

Tudo naquele lugar lembrava ela. Na cabeceira da cama havia um cordão repleto dos pequenos tesouros que ela gostava de colecionar. Flores, pinhas, conchas, penas, uma coroa de flores. Eu sorri ao pensar em como Anne tinha a alma bonita.

O quarto tinha um perfume de lavanda, me lembrei que senti esse cheiro quando Anne me abraçou no dia que soubemos da doença de Mary. Apesar de toda a tristeza e desespero que senti naquele dia. Eu jamais seria capaz de esquecer a sensação de tê-la em meus braços.

Deixei minha carta em cima de sua penteadeira. E fui embora.

My Anne with an EWhere stories live. Discover now