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Laura:

Estava atrasada para chegar no auditório e para piorar, uma enfermeira me puxou de repente, onde eu quase caí de cara no chão.

- Dra. Laura, seu paciente está no quarto aguardando a cirurgia. - Uma enfermeira disse sorrindo de forma irônica.

- Primeiro dia e já com cirurgia? - Peguei o prontuário e folheei. - Mas antes tenho que ir no auditório!

- É sim, a paciente está grávida. Cirurgia cardíaca. Boa sorte. - A enfermeira saiu do balcão, me deixando com o prontuário.

Suspirei e fui atrás do quarto 301 e da minha paciente. Quando entrei uma jovem de, no máximo, 18 anos estava deitada e ao seu lado estava a sua mãe. Olhei para a sua barriga que já estava enorme.

- Oi, bom dia, sou Dra. Laura. - Sorri simpática e ela retribuiu. - Letícia, quantos meses de gravidez?

- Oito meses e meio hoje. Estou ansiosa para conhecer o Miguel. - Ela passou a mão na barriga. - Mas minha cirurgia não é na barriga.

- Eu sei disso, sou residente cardio, especialista na área. - Sorri e verifiquei o remédio do seu soro. - Vou realizar alguns exames e contatar o médico que fará a cirurgia junto comigo.

- Sim, senhora.

Avistei um dos estudantes de medicina que trabalham no hospital e pedi que realizasse os exames necessários em Letícia. Voltei para o corredor em busca do médico, provavelmente seria o Dr. Fábio que teria que me acompanhar na cirurgia, mas não o encontrei no painel.

- Sabe onde está o Dr. Fábio? - Questionei para o Fernando.

- Não sei, mas não era para estar no auditório?

- Uma enfermeira me agarrou no meio do corredor e me pediu para ver uma menor de idade, gestante e com problema no coração. - Suspirei. - Pedi alguns exames, mas sou residente, não posso fazer sozinha.

- Se o Dr. Fábio não está no painel, deve estar de folga ou ocupado, não sei. Pergunta a Dra. Manoela.

- Nem doida, já faltei a reunião com ela, se eu perguntar algo talvez ela me jogue do último andar do hospital.

Fernando sabia do meu gênio desde meu estágio, se divertia com meu jeito, inclusive quando neguei uma noite de sexo pra ele, que ao pensar que iria ficar irritado, acabou tendo crise de riso ao saber que sou lésbica e que já peguei mais mulheres do que ele em um só carnaval.

- Dra... A sua paciente está tendo uma parada cardíaca, vai afetar o bebê! Ela já está sendo levada para a sala de cirurgia. - Um interno chegou bastante afobado para me falar. - Estão lhe chamando na sala, agora.

Deixei Fernando plantado no Hospital e corri junto com o garoto até a sala de cirurgia. Tentei me apressar o mais rápido, enquanto uma médica obstetra tentava retirar o bebê da forma mais rápida e os enfermeiros tentavam reanimar a paciente.

- Estável. - A enfermeira se afastou e me aproximei da mesa.

Respirei fundo e comecei a operar. No começo eu estava trêmula, mas depois me acalmei e terminei a cirurgia necessária. Enquanto eu operava, os estudantes me mostravam os exames. Foi emocionante, mas bastante arriscado.

Terminei uma hora depois, me afastei da mesa e recebi parabéns dos enfermeiros. O bebê estava na UTI infantil, mas estável. Joguei minhas luvas e bata no lixo.

- Você arrasou. - Fernando apareceu atrás de mim. - Consegui ver um pouco do final, muito bem!

- Agora vou esperar algum superior me foder, espero que não seja você. Eu não podia fazer isso sozinha.

O bipe de Fernando apitou e ele saiu correndo para a ala da emergência. Suspirei e voltei ao balcão em busca de outro paciente.

A manhã passou rápida e após o almoço eu teria a cirurgia com a cardiologista que eu sequer sabia o nome, só sabia que era totalmente mal educada e mal pisava do chão.

Depois que comi, pedi os exames de Letícia e verifiquei que estava tudo certo. Eu iria acompanhar o seu andamento até que tivesse alta.

Fui até a sala onde ficam os médicos e vi um rapaz jovem, mais alto, negro e malhado, comendo uma maçã. Era residente da pediatria, achei bonitão.

Um tempo depois a Dra. Furacão adentrou a sala, furiosa e procurando por alguém. Seus olhos de águia pararam sobre mim.

- Boa tarde, Dra. Manoela. - Falei calma.

- Você é a residente de cardiologia? Laura? - Questionou cerrando os olhos e cruzando os braços. - Você quem fez a cirurgia de uma menor de idade sem supervisão de superior?

O rapaz bonito saiu rápido, sem olhar para trás. Cerrei os olhos para ela e me levantei, ela era uns 10 a 15 cm a mais.

- Sim, usei bisturi no começo e no final deixei fecharem. - Ofereci um sorriso.

- Você sabe que não pode realizar nenhum procedimento sem supervisão. Você não é médica cardio, você ainda é residente.

- Se eu tivesse esperando por algum médico até agora, a garota já teria morrido e aí a culpa seria de omissão de socorro do hospital. Se a enfermeira enfiou essa paciente pra mim, eu tinha o dever e obrigação de cuidar. Ela está bem e o bebê também. Agora se você não consegue administrar o hospital ao ponto de deixar nenhum médico superior na cardio para supervisionar residentes e internos, talvez o problema esteja aí. - Me virei e sai da sala.

Engoli em seco ao fechar a porta e tentei sair dali o mais rápido, antes que ele me olhasse e me matasse pelo olhar.

- Você realmente fez cirurgia sem supervisor? - O cara negro surgiu ao meu lado. - Que loucura.

- Loucura era essa mulher achar que eu não ia fazer cirurgia e deixar a menina morrer.

- Acho ela autoritária demais. Deveria ver de manhã quando viu que uma tal de Laura não estava no auditório.

- Prazer, sou a Laura. - Coloquei as mãos nos bolsos do jaleco e ri.

- Não acredito! - Ele riu. - Sou Dr. Marcos, sou residente da pediatria, e sou novato. Prazer. Tá afim de tomar um café?

- Para deixar claro, você já me ganhou muito me chamando para um café. - Pisquei. - Mas te avisar que sou lésbica e se isso for dando em cima, não vai rolar.

- Pode ficar tranquila! Nem pensei nisso, inclusive, eu gosto de uma garota aí há um tempo já, mas acho que ela não gosta de mim.

- E ela não te quer? Lésbica?

- Ela eu não sei, mas minha mãe sim.

Cerrei os olhos e ri do que ele falou.

- Desculpa, eu fico nervoso demais perto de meninas, falo bobagem.

- Tudo bem, você é gato demais, vale a pena escutar essas besteiras, é legal. Mas a sua mãe é lésbica?

- Fala baixo! - Ele disse olhando aos arredores. - São coisas minhas, não gosto que as pessoas saibam da minha vida.

- Tudo bem, vamos para esse café.

Passamos próximo a Dra. Manoela que estava conversando com Dr. Fernando. Ela olhou para nós, principalmente para Marcos, e desviou o olhar. Respirei fundo e fomos para a lanchonete.

Nossa EmergênciaWhere stories live. Discover now