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Laura:

Depois que deixei Manoela no quarto, fui até o restaurante do hospital junto com a Renata.

- Então ela desmaiou no meio da cirurgia? - Ela perguntou me encarando.

- Sim, misturou muito café com energético, não almoçou, ela também fica se sobrecarregando, talvez não se alimente direito. - Respondi e encarei o cardápio do dia. - Você quer o que?

Renata pegou um prato e começou a se servir, e fiz o mesmo. Coloquei apenas macarrão e um pouco de camarão. Peguei um suco de laranja na garrafa e sentamos à mesa.

- E ela se sobrecarrega assim?

- Ora, Re, ela passou o dia trabalhando aqui hoje e ainda inventa plantão? Eu nunca a vi aqui pela noite. - Revirei os olhos. - Não sei o que aconteceu para ela inventar de trabalhar hora dessa.

- E vocês transaram de novo?

- Não, só aquele dia na minha casa. Estou um pouco sem saco. Andei pensando que eu preciso focar na residência, trabalhar e se for para ter alguém, que seja alguém que durma comigo.

- Nunca pensei que você, que pega a cidade inteira, esteja pensando em algo fixo e mais sério com alguém.

- Não tenho esse alguém, Re, mas se surgir alguém interessante, tudo bem.

- Já surgiu, a Dra. Manoela, ela é gata.

- Mas é minha chefe, não quero me meter em algo assim. Isso é vida real, não é Greys Anatomy não. - Revirei os olhos e Renata riu.

Terminamos de comer conversando sobre outras coisas. Recebi uma mensagem de Marcos perguntando como estava o trabalho e preferi ocultar o fato de sua mãe ter passado mal.

- Agora preciso ir embora, não estou fazendo hora extra. - Renata ajeitou a bolsa no ombro e levantou.

- Preciso ir ver alguns pacientes, inclusive o que a Manoela desmaiou, ele está na UTI.

Nos despedimos e fui fazer mais uma ronda. Visitei o paciente que fiz a cirurgia, mais alguns outros, receitei mais remédios e uma hora depois cheguei no quarto de Manoela.

- Como você está? - Perguntei enquanto ela fazia uma careta enquanto jantava. - A sopa de feijão está boa?

- Você só pode me odiar muito. - Ela colocou a bandeja de lado e me encarou. - Pode me tirar dessa cama?

- Claro, eu sei o quanto você odeia dormir em cama. - Soltei a indireta e segurei a risada.

- Cadê a sua amiga?

- Foi embora, jantamos e depois ela precisou ir. Você sabe, descansar a beleza que ela tem.

- Qual sua relação com a Renata?

Ela me perguntou e eu pensei antes de falar. Antes disso, tranquei a porta e a cortina da janela de vidro, deixando o ambiente privado.

- Renata e eu somos amigas íntimas.

- Amigas íntimas? - Ela questionou franzindo o cenho.

Fui até o soro e verifiquei que ainda estava na metade, mas logo acabaria.

- É, você sabe. Ah, sabe sim, você e Juliana tem o mesmo tipo de relação, acho.

Manoela me lançou um olhar que meu coração acelerou. Com a mão livre do soro, ela me puxou e acabei caindo sentada na cama.

- Por que anda fugindo de mim? Te fiz gozar várias vezes e eu sei que você gostou.

- Sim, eu gostei, mas sabe... Às vezes quantidade não é qualidade.

Levantei antes que Manoela me matasse e destranquei a porta.

- São 23 horas, você pode dormir um pouco, quando o soro terminar eu volto para dar alta.

Ofereci um sorriso e recebi um dedo do meio.

Encostei a porta e fui verificar como estava a demanda de cirurgias.

Quase às 4 da manhã, voltei para o quarto de Manoela e ela estava dormindo. Entrei devagar, tranquei a porta e andei sob a iluminação do único abajur, tentando não esbarrar em nada. Verifiquei o soro e tinha terminado.

Manoela dormia de frente, com semblante sereno, sequer parecia aquela mulher mandona. Seu cabelo caia sobre o travesseiro da cama, perfeitamente hidratados. Fiquei receosa de lhe acordar, mas precisava liberar o quarto e ainda tirar o acesso do soro.

- Manoela, acorde. - Toquei seu ombro e ela acordou. - O soro terminou, preciso tirar o seu acesso.

Sem falar nada, ela sentou na cama e me deu o braço. Retirei o acesso e joguei tudo no lixo hospitalar.

- Pronto, agora você está de alta, Dra. Manoela.

Ela me encarou e lhe encarei de volta. Rapidamente, ela levantou da cama e me prensou contra a parede gelada do quarto.

- O que está fazen...

Manoela me beijou e sem pensar retribui. Seu beijo era tão bom, não tinha vontade de sair ali de forma alguma. Quando paramos, nos olhamos por alguns segundos.

- Fiquei no plantão pra ficar próximo de você. Saber quando íamos nos ver novamente.

- Nos vemos todos os dias... - Falei sorrindo de lado e ela negou. - Não?

- Não da forma que eu quero. - Manoela me beijou novamente e me puxou até a cama. - E você sabe o que eu quero, Laura.

- Não podemos transar aqui... - Falei enquanto Manu beijava meu pescoço. - Preciso ver os pacientes...

- Existem mais médicos por aí.

Manoela ia me beijar, quando tentaram abrir a porta. Ela revirou os olhos e foi abrir, enquanto eu tentava arrumar o cabelo e fingir normalidade.

- Desculpa, Dra. Manoela. - A enfermeira disse. - Errei o quarto.

- Tudo bem, eu já estava de saída. Estou de alta, Dra. Laura? - Ela perguntou me olhando.

- Sim, está, vá para casa e descanse.

Dra. Manoela saiu andando no corredor e segurei a risada, nem eu entendia aquela mulher direito.

Quando terminou meu plantão, às 7 da manhã, peguei um café na máquina e fui tomando até o estacionamento. Procurei o carro de Manoela, mas já não estava ali. Pensei em mandar mensagem, mas imaginei que ela estivesse dormindo. Entrei no carro e dirigi até minha casa.

Dormi o sábado inteiro e só acordei umas 16:30h, com fome. Tomei um banho, vesti uma roupa básica e fui procurar Renata, mas ela saiu deixando um bilhete que tinha ido passar o final de semana com um amigo no interior.

Procurei algo para comer na geladeira e fiquei assistindo algum programa bobo na TV. Peguei meu celular no quarto quase às 18 e tinha uma ligação de Manoela.

"Me ligou? Como você está?"

Ela me respondeu imediatamente.

"Estou lembrando de ontem. Está em casa?"

"Sim. Você quer ir para onde?"

Manoela enviou a mensagem: "Deixando Juliana em casa. Já chego aí."

Revirei os olhos e desliguei meu celular.

Nossa EmergênciaWhere stories live. Discover now