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Manoela:

Depois que pedi minha demissão do hospital público da cidade, pois iria ser diretora-geral do maior hospital particular da cidade, no qual era credenciado a maior rede de plano de saúde do país, minha vida virou de ponta cabeça.

Meu filho, Marcos, que tinha feito medicina nos Estados Unidos, retornou para o Brasil para fazer a residência e agora também iria trabalhar no Hospital Santa Clara, mas, infelizmente, ele não seguiu meus passos como cirurgiã da neuro, mas sim para pediatria.

Além dele, ainda tenho a Mariah, minha segunda filha que está para fazer o vestibular, que eu adotei em decorrência da mina vida no hospital, que a mãe deu à luz e saiu escondida, depois a mãe foi encontrada morta, havia cometido suicídio, então eu fiz adoção à brasileira.

Nunca me casei, sempre tive minha profissão como prioridade, inclusive o Marcos e depois a Mariah. Com essa nova fase, sendo diretora-geral, acredito que eu foque mais em mim novamente, já que um já está trabalhando e a outra logo ficará na faculdade, também fora do país.

Depois que descobri que haviam realizado procedimento médico sem supervisão de superior, fiquei louca, pois estava sob minha responsabilidade. Quando descobri que era um residente e logo a que havia faltado no auditório, fui tirar satisfação antes que eu esquecesse e se repetisse.

Enquanto ela me dava uma resposta de que foi obrigada a realizar a cirurgia em decorrência do perigo do momento, em que a paciente e o bebê poderiam morrer, eu visualizei seu rosto jovem e fino. Uma pele de mulher bronzeada, que iria para a praia todo final de semana, olhos castanhos claros e cabelo escuro e liso, preso em um rabo de cavalo.

Ela saiu de repente e sai do meu choque. Eu paralisei a olhando que quando saiu da minha frente, me assustei. Olhei se o meu filho ainda estava na sala, mas ele deve ter saído antes de eu começar a falar.

Saí da sala e vi Dr. Fernando falando com uma enfermeira. Me aproximei e fiquei a par do paciente dele, que provavelmente trabalharíamos juntos na cirurgia.

- Qual o nome daquela moça que estava com você de manhã? Laura? - Ele assentiu. - Ela é firme. Fui falar sobre a cirurgia que fez sozinha e...

Vi a mulher vindo junto com Marcos e os dois riam juntos. Olhei para os dois e depois desviei o olhar.

- O que ela disse? - Fernando questionou.

- Ah, deixa, só achei ela um pouco firme e direta demais. Não pensei que ela fosse assim.

- A Laura não liga se você é diretor ou interno, ela trata todos iguais, principalmente quando ela acha que está certa ou quando realmente está certa. Tem um gênio forte, mas é muito inteligente e ótima médica.

- Nossa, quantos elogios... - Cerrei os olhos. - Já tiveram algo?

- Não, não! Somos amigos desde quando ela ainda era do internato, na faculdade. - Ele riu. - Qual é, sou uns 6 anos mais velho que ela, não rola pra mim.

Assenti calada e me retirei. O dia ainda seria longo pela frente, imagine o restante da semana.

Por causa do cansaço, Marcos e eu não jantamos juntos, e Mariah, por ser adolescente, dorme tarde e só a vejo quando estou indo trabalhar, que a deixo no colégio.

- Bom dia, mãe. - Mariah já aparece de calça escura e blusa do fardamento. - Estou com tanta fome.

- Cadê a sua calça do colégio? Não me diga que brigou de novo no colégio e rasgou. - Revirei os olhos e servi mais café.

- Não, eu menstruei e sujou. Preciso que a senhora explique para a coordenadora.

- Eu quem vou te levar para o colégio hoje. - Marcos apareceu na cozinha apenas de calça e vi que já tinha uma outra tatuagem. - Eu explico para sua coordenadora.

- Que mico, mãe! - Maria reclamou. - Meu irmão dizer que eu menstruei?

- Seu irmão aqui é pediatra, eu estudei sobre isso, pois eu atendo crianças até os 17 anos. - Ele sentou na mesa e me mandou um beijinho de bom dia.

- Primeiro, você ainda é residente em pediatria, ainda nem se formou. Segundo, já fez outra tatuagem, Marcos?

- Sim, mas essa daqui tem um significado. - Ele mostrou uma sigla MMM. - São as iniciais de quem eu mais amo.

- Awn, achei bonitinho. - Mariah disse sorrindo.

- Posso nem falar nada, daqui a um ano é você quem aparece com uma tatuagem no meio da testa. - Falei para Mariah e ela riu. - Vou trabalhar, hoje tenho reunião, não quero nada me atrapalhando, ouviu Mariah?

- Sim, mãe, mas não posso prometer nada. - Dei um beijo em sua cabeça e um tapa no ombro. - Amo vocês.

Beijei a testa de Marcos, peguei minha bolsa e a chave do carro, indo para o hospital. Tive a manhã de reuniões e a tarde auxiliei em duas cirurgias, acabei que nem vi a Dra. Laura pelos corredores.

Na quarta de manhã, no café, questionei Marcos sobre a médica.

- Quem era aquela morena que você tanto rua na segunda-feira?

- Não se faça de boba, mãe. A senhora conversou com ela na sala, eu sai antes. Nome dela é Laura, é residente da cardiologia. Achei ela super bacana.

- Marcos, ela fez uma cirurgia sem supervisão de um médico superior. - Revirei os olhos e bebi meu último gole de suco.

- Sério? Ela parece ser foda, viu? - Mariah disse de boca cheia. - Imagina! Ainda é residente e é assim?!

- Olha o palavriado na mesa, garota. - Reprovei minha filha com o olhar. - Não a vi ontem.

- Ela ficou resolvendo um caso com o Dr. Fábio. Talvez hoje a senhora a veja. Temos aula de ética e adivinha quem é a professora? - Ele levantou e segurou os ombros de Mariah que continuava comendo. - A mamãezinha.

- Não sei onde eu estava com a cabeça em me meter nisso, dar aula de ética para um bando de crianças, bando de residente e interno. - Revirei os olhos.

Após deixar Mariah no colégio, fui para o hospital e vi, de longe, Marcos abraçar Laura no estacionamento.

- Só o que me falta é o Marcos começar a namorar essa menina. - Suspirei e sai do carro.

Fui direto para o auditório e vi várias carinhas novinhas, com olhos curiosos para cima de mim. Liguei o projetor e deixei os slides que mandei um interno criar para rodar, enquanto eles ficavam em silêncio.

- Bom dia. Hoje darei uma aula de ética profissional, principalmente para aqueles que talvez não tenham visto a disciplina na faculdade. - Procurei a Laura com meus olhos, mas não a encontrei.

Continuei a introdução e logo Marcos e Laura entraram juntos, atrasados, e sentaram-se no meio do auditório.

- Aliás, a ética profissional começa quando existe pontualidade no serviço, mesmo que seja para assistir uma aula importante como essa. - Mirei nos olhos de Laura, notei que ficou branca. - E, claro, sempre saber como cuidar do paciente, da família e tudo o que envolve a sua carreira médica.

Continuei a dar a aula por duas horas. Vez ou outra sentia olhares pelo meu corpo de vários daqueles alunos, o que estava me deixando tensa e com raiva. Ao final, liberei todos.

Enquanto todos saiam, fiquei observando Laura rir das besteiras de Marcos.

- Só pode estar apaixonada. - Falei baixo.

Ele segurou sua mão e saíram sorridentes porta afora. Com aquela atitude, senti uma espécie de desconforto em mim.

- Me poupe, Manoela. Você nunca sentiu ciúme do seu filho, e olha que ele já pegou um monte de mulher. - Revirei os olhos.

Nossa EmergênciaWhere stories live. Discover now