Revelações

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Pov Yuuri

Escuro... Onde estou? Sinto como se já tivesse vindo aqui antes. Esse lugar me dá medo, me faz sentir meu peito sendo pressionado. Enxergo uma pequena luz branca e meus pés, como se criassem vida própria, me levam em sua direção. Estou flutuando? Não sinto o chão sob meus pés. Enquanto caminho, a luz engole lentamente a escuridão, e seu brilho é tão forte que poderia cegar, mas fecho meus olhos e sigo em frente. Passo pela luz branca até sentir que estou completamente envolvido por ela, então abro meus olhos e percebo que a escuridão sumiu por completo. Agora tudo à minha volta é claridade intensa. A pressão que sentia em meu peito parou, sinto aconchego, felicidade, esse lugar é tão agradável.

“Vejo que está melhor.” Uma voz com um tom suave falou.

Viro na direção em que a ouvi. Uma mulher de cabelos grisalhos aparece em frente a mim, sua pele é pálida, parece ter mais de 60 anos. Seu corpo não é jovem, mas não é velho, o rosto tem algumas rugas e sua boca é fina. O sorriso forma um coração com seus lábios rubros, e ao mesmo tempo que ela parece frágil, também parece forte. O que mais me chama atenção são seus olhos, de um azul profundo como o oceano, muito doces e me olham com carinho. Ela me lembra Viktor.

“Foi você quem me trouxe a esse lugar?” Pergunto, e recebo um balançar de cabeça como resposta. “Por quê?”

“Por que você estava ferido demais, inconsciente, e Viktor rezou para que você ficasse bem e não sofresse. Se você voltasse ao seu corpo agora, sentiria muita dor... mas não foi apenas por isso. Seu espírito também precisava de ajuda. As últimas palavras daquele homem mexeram com você, lembraram seu pai, e você estava começando a quebrar novamente.” Ela responde, mas o que mais me chama atenção é outra coisa.

“E-espírito? E-eu morri?” Minha voz gagueja, as palavras quase não saem.

“Eu quero ver o Viktor... onde ele está??” Minha voz soa alta.

“Venha... eu o levarei até ele.” Ela estende sua mão para mim, e eu a pego sem medo. Ela não me transmite o sentimento de medo, pelo contrário. “Feche os olhos.” Sigo a instrução e os fecho. Sinto como se estivesse sendo levantado, meus pés que antes pareciam tocar o nada, agora sentiam o piso duro do chão. “Pode abrir.” Abro meus olhos lentamente e olho em volta.

Estávamos no quarto de um hospital, e a primeira coisa que chamou minha atenção foi o homem sentado na poltrona, sua cabeça encostada na parede e seus olhos fechados. Estava vestindo roupas casuais, e a parte de baixo de seus olhos pareciam vermelhos, como se tivesse chorado muito. A única coisa que ele segurava era um casaco amassado em seus braços. Me aproximei lentamente dele, tocando seu rosto com carinho.

“Yuuri…” Ele falou enquanto dormia. Meus olhos começaram a umedecer, ardendo com as lágrimas que queriam cair. Não dava para eu segurar mais, até que uma por uma começaram a rolar, deixando meu rosto encharcado, banhado por elas, mostrando o que estava em meu coração, a palavra de sete letras que parecia gritar o que estava sentindo no momento: “saudade”, era tudo o que podia sentir. Braços envolveram o meu corpo em um abraço carinhoso e confortável. Eles eram finos, delgados, pareciam delicados, como um fino gelo prestes a quebrar. Mas seus olhos mostravam a sua força. Como se dissesse que estava ali para ajudar, e que era mais forte do que eu pensava. Retornei o abraço.  Ela se aproximou do meu ouvido, como se fosse contar um segredo. Me abaixei e ela sussurrando falou:

“Acalme-se Yuuri, logo você estará com ele. Sei que deve sentir muita saudade, afinal, o relacionamento de vocês vem de outras vidas. Embora essa seja a primeira vez que reencarnam ambos como homens, o amor que têm um pelo outro é tão grande que supera qualquer barreira que se puser no caminho de vocês.” A mulher que estava parada observando a situação agora tentava me confortar. Sua voz me dava segurança.

The Lost MemoryWhere stories live. Discover now