Inimigo a Vista

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Nachi, Shunrei e Shiryu encaravam aquela estranha figura feminina risonha que pairava pelo ar. Seus cabelos eram extremamente longos e prateados assim como seus olhos que, no fundo, tinham um vazio psicopata que combinava com o sorriso que agora aquela "mulher" possuía.
Sua proteção não fugia da sua aparência sarcástica. Era totalmente negra com tons de cinza contrastantes. Mas espere, não já teria visto alguém semelhante? Alguém com cabelos cor de prata e uma personalidade repulsiva e orgulhosa?

— Tha... — o chinês babulciou a primeira sílaba de seu nome, pois ainda não acreditava na própria visão que havia perdido diversas vezes. Como ele poderia ter sobrevivido? Haveria um jeito de um deus renascer mesmo depois de morto?

— Respondendo sua pergunta, mortal, não. Não sou eu o grande deus da morte, Thanatos. — O riso daquela mulher aumentava conforme as palavras saíam de sua boca. Fez, então, uma reverência em pleno ar, até ficar a alguns centímetros do que Shiryu um dia chamou de casa. — Me chame de Nekura, a representante da Morte. Fico feliz em conhecer um dos responsáveis por matar o meu ancestral.

— Representante da Morte? Ancestral? Você não fala coisa com coisa. — Nachi se posicionou na situação, tomando uma postura ofensiva diante da mulher irônica que ali estava, como se aguardasse qualquer ataque inesperado.

— Não dirigi a palavra a você, verme sem valor. — Com um brilho ocular estranho saindo de Nekura, que fez Nachi ser empurrado para longe e atingir a parte rochosa dos 5 picos com toda força e em uma velocidade indescritível.

— NACHI!! — o jovem libriano tentou correr em socorro ao Cavaleiro de lobo, porém foi impedido pela paralisação repentina do próprio corpo.

— Temos muito o que conversar, Cavaleiro de Dragão... Como por exemplo... Como humanos desprezíveis como você alcançaram o Kamui? — com um movimento rápido, Shiryu é lançado ao alto e cai com brutalidade no chão, tal como se tivesse sido jogado por uma mão gigante. — Porque... Olha só pra você... Um corpo tão frágil... Que facilmente pode ser destroçado... — erguendo o rapaz do chão, a representante começou a fazê-lo contorcer o corpo, arrancando-lhe gritos dolorosos — Ou até mesmo... Desmembrado... — antes que pudesse continuar com a tortura, uma luz esverdeada aterrissou entre Nekura e Shiryu. — MAS O QUE DIABOS??

O brilho que aparentava ser uma estrela cadente que cruzava o céu matinal, era na verdade a urna da armadura de dragão, em frente ao seu dono, na intuição de protegê-lo da mulher diabólica. Vendo a cena, Shunrei empurra a urna para mais próximo do chinês.

— SHIRYU, TOQUE A URNA!!! — servindo de guarda, a garota se põe de braços abertos diante da mulher que continha em si uma aura maligna idêntico a de Thanatos.

— Ha... Quer dizer que um pedaço de metal e uma garota vieram proteger você? Isso é ridículo... — criando uma esfera elétrica lilás na palma da mão, Nekura se exibia hostil. — Destruirei os três de uma vez só... A armadura, o Cavaleiro e a humana intrometida.

Ainda com dificuldade, Shiryu se arrastou para mais próximo daquela grande caixa com uma gravura de dragão. Não sabia o porquê, porém algo realmente chamava para tocar a urna. Finalmente, conseguiu encostar a ponta do indicador no relevo do objeto. Uma onda pareceu tomar conta dele. Tudo que Nachi havia explicado antes, agora fazia sentido. Inclusive, uma vaga imagem de Mestre Ancião sorrindo fez com que suas pernas teimassem a levantar pouco a pouco.

— Se você quer uma batalha, então eu darei a você uma! — elevando seu cosmo ao máximo que lhe era possível

— Não é a toa que ouvi boatos da sua incrível resistência... Pelo visto é verdade... — sorrindo ainda mais maliciosamente, a esfera de energia tornou-se duas ocupando as mãos de Nekura — MAL POSSO ESPERAR PARA LUTAR COM VOCÊ E SABER O PODER DESSES CAVALEIROS MÍTICOS QUE ATHENA CRIOU!

— Creio que você deverá guardar sua luta para mais tarde, Nekura. — uma outra voz invadiu o local serenamente. Esta era mais grave, pertencendo certamente a um homem.

— Tch... Você sempre gosta de atrapalhar minha diversão... Níste... — a prateada virou-se para o segundo com tamanho repúdio, que esqueceu-se completamente do que estava prestes a fazer naquele momento.

— Eu acho que ficou muito claro que o nosso pai quer que não nos envolvamos "ainda" com os guerreiros de Athena... Nekura... — a outra figura era semelhante a representante da Morte, porém esta se contentava com uma aparência dourada e era do gênero masculino. Era possível deduzir que aquela seria o representante de Hypnos, porque tal semelhança com o Deus era incrível de se explicar. A única coisa que o diferenciava um pouco era que seus cabelos não eram tão longos.

— Hmph... Guarde minhas palavras, Dragão... Eu irei matar aquele seu amiguinho Pégaso, juntamente com os outros Cavaleiros que ousaram desafiar os deuses... Farei questão de levar as cabeças dos cinco para o meu pai, acompanhado do sangue podre de Athena... — afastando-se do recinto, os dois gêmeos então desapareceram como poeira, deixando somente Shunrei, Nachi e Shiryu ali.

Pensando ao mesmo tempo, o casal de chineses correu ao encontro do Cavaleiro caído. Para o alívio dos dois, havia apenas arranhões nos braços e pernas.

— Argh... Bem que Marin... Tch! Estava certa... — aos pouco o moreno de cabelos curtos se levantava sob apoio de Shunrei e Shiryu.

— Marin sabia de algo em relação às tais Nekura e Níste? — vendo o amigo já de pé, o jovem o soltou ainda o observando para caso fosse cambalear.

— Isso eu não posso explicar aqui, seria muito arriscado mesmo com aquelas duas longe... Sugiro que coloque a armadura de volta na urna... Vai ser um longo percurso... Ah, e também é melhor levar a Shunrei, ela foi envolvida nisso, então precisa ficar sobre vigia — finalizou o Cavaleiro de Lobo esticando-se para se recompor.

— Certo... Vamos, Shu- — Ao voltar seu olhar para a garota, Shiryu a viu respirando com dificuldade e suando muito — Shunrei, você está bem?

— Shiryu... Eu... Ah... Me sinto pesada... Como se... Meu coração... Ah... — sem terminar da falar, a mais nova caiu pra frente ainda em mal estado, porém Nachi a segurou.

— Isso não é nada bom... Vamos, temos que levá-la rápido ao santuário. Athena não vai gostar nada disso, mas... É o jeito. — apoiando a chinesa nas costas, o santo de Lobo saiu correndo acompanhado de Shiryu descendo os cinco picos.

Quanto mais se distanciavam, maior era a quantidade de tempo que o dragão mirava para trás e sentia algumas lágrimas escorrerem. Seu lar sendo abandonado mais uma vez era algo triste, pois era lá que tinha lembranças fortes de seu mestre Dohko. Entretanto, o destino de um cavaleiro era esse, e ele teria que continuar até o fim com aquilo.
De longe, o trio era observado pelas sombras das gêmeas representantes. Níste aparentava estar com sua calma afetada, enquanto Nekura os olhava sorrindo com sua usual ironia.

— Não é lindo? Logo, logo, aquela mera humana não passará de um cadáver e Athena receberá um belo presente — falava contente e arrogante a mulher prateada.

— Tsc... Você é mesmo muito imbecil... Não sei como sou seu irmão gêmeo.

— COMO É? E POR QUE ACHA ISSO, SEU DESGRAÇADO?

— Controle sua boca. Você sabe que eu tenho muito mais capacidade que você. — a aura do de cabelos dourados agora fulgurava levemente maligna, fazendo a outra recuar e calar-se imediatamente. — Creio que você tenha esquecido que quem teve essa ideia fui eu, irmãzinha. Agora vamos logo, nosso pai não quer que nos atrasemos para a cerimônia.

— Sim.

Assim, a dupla desapareceu definitivamente das cachoeiras de Rozan.

Saint Seiya - ZeusOnde as histórias ganham vida. Descobre agora